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Brasil melhora, mas fica longe do 1º Mundo
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
da Reportagem Local
O Brasil voltou ao grupo de países de médio desenvolvimento
humano, após breve passagem,
no ano passado, pelo rol de nações com alto desenvolvimento.
É o que mostra o relatório de
1999 do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud), que será divulgado oficialmente amanhã, em todo o
mundo. No relatório, o Brasil é o
79º entre 174 países.
O que provocou o retorno do
Brasil ao seu grupo original foi
uma mudança de metodologia no
cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo
a ONU, foi um aperfeiçoamento.
O IDH mede a qualidade de vida dos países a partir de indicadores de educação (alfabetização e
taxa de matrícula), saúde (esperança de vida ao nascer) e renda
(PIB per capita).
O novo método afetou o cálculo
do índice de renda. Adotou-se o
princípio de que aumentos de
rendimento para quem já tem
muito são menos importantes do
que para quem tem pouco.
Corrigiram-se distorções que
beneficiavam países com PIB per
capita (conjunto das riquezas de
um país dividido pelo seu número
de habitantes) proporcionalmente mais alto do que sua esperança
de vida ou taxa de alfabetização.
Entre os que mais se beneficiaram estão Cuba, Filipinas e países
da ex-União Soviética. Entre os
mais prejudicados, Síria, Turquia
e outras nações árabes.
O Brasil foi um dos que perdeu.
Na nova classificação, que usa dados referentes a 1997, o país passou a ser o 79º, com IDH 0,739
(numa escala que varia de 0 a 1).
No relatório de 1998, que usava
dados referentes a 1995 e outra
metodologia, o Brasil aparecia em
62º lugar, com um IDH de 0,809.
O fato de ser superior a 0,800 colocava o Brasil na elite do IDH.
Os valores do relatório de 1998,
entretanto, não são comparáveis
aos deste ano por causa da mudança no índice de renda.
Por esse motivo, não se pode dizer que o Brasil piorou seu desempenho -embora pareça ter
perdido posições na classificação.
Aplicando-se o novo método de
cálculo aos dados de 1995, o país
estaria no 81º lugar no ranking do
ano passado. Do mesmo modo, se
a metodologia anterior tivesse sido mantida, o Brasil teria passado
do 62º para o 60º lugar.
Portanto, o Brasil subiu duas
posições neste ano.
O que elevou o país no ranking
foi a educação. A pequena redução do analfabetismo (de 16,7%
para 16%) e o aumento da taxa de
matrícula combinada (de 72% para 80% da população em idade escolar) fizeram o índice de educação crescer de 0,81 para 0,83.
Em comparação aos demais
países, a classificação brasileira no
que se refere apenas aos indicadores educacionais melhorou da 89ª
para a 83ª colocação.
Mesmo assim, a educação ainda
"puxa" o Brasil para baixo no ranking geral do IDH.
O pior desempenho do país é no
índice que mede a saúde de sua
população: a expectativa de vida
do brasileiro médio melhorou
pouco de 1995 a 1997, oscilando
de 66,6 anos para 66,8 anos.
O crescimento equivalente a
uma sobrevida de menos de dois
meses foi inferior ao de outros
países e fez o Brasil recuar da 107ª
para a 109ª posição no ranking de
esperança de vida.
Essa performance é incompatível com a riqueza do país: o PIB
per capita ajustado pelo poder de
compra é de US$ 6.480,00, o que
mantém o Brasil na 63ª posição
no ranking de renda.
A baixa esperança de vida dos
brasileiros se deve, por exemplo,
às mortes violentas de jovens e à
combinação de mortalidade ainda alta por doenças infecciosas
com o aumento das mortes por
doenças típicas de países ricos,
como o câncer e o infarto.
No ranking geral do IDH, o Brasil está várias posições atrás de argentinos, uruguaios, chilenos,
mexicanos e colombianos -entre outros latino-americanos.
Com a mudança de metodologia,
mesmo Cuba ultrapassou o país,
porque tem esperança de vida e
alfabetização superiores ao Brasil.
A alteração metodológica fez
com que 92 países subissem de
posição e com que 66 caíssem.
Outra consequência foi a redução do grupo de alto desenvolvimento humano (com IDH superior a 0,800) de 64 para 45 países.
O Canadá permanece como o
primeiro colocado, com IDH
0,932. Sua expectativa de vida, de
79 anos, é a segunda maior do
mundo -só perde para a do Japão (4º no IDH), de 80 anos.
Chegam a 99% os canadenses
alfabetizados e as pessoas em idade escolar matriculadas.
O PIB per capita (ajustado pelo
poder de compra) canadense, de
US$ 22.480,00, é o 13º. O maior é o
de Luxemburgo (US$ 30.863,00),
que está na 17ª posição no IDH.
Com a nova metodologia, cresceu o grupo de países com classificação intermediária no IDH, de
66 para 94 nações. O de IDH baixo
(menor do que 0,500) caiu de 44
para 35 países.
Em último lugar continua Serra
Leoa, com IDH 0,254. Após oito
anos de guerra civil (suspensa na
semana passada), a expectativa de
vida é de 37,2 anos, o analfabetismo atinge 66,7% da população, e
o PIB per capita é de US$ 410,00.
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