São Paulo, quarta-feira, 11 de agosto de 2004

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Direção da Fenaj defende o projeto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois diretores da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) defenderam ontem no Congresso Nacional a criação do Conselho Federal de Jornalismo e disseram que as opiniões contrárias são fruto de um "massacre" promovido pela mídia, que estaria "desinformando" a sociedade sobre o projeto.
O vice-presidente da entidade, Fred Ghedini -também presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo-, e o 1º secretário, Aloísio Lopes -presidente do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais-, negaram que o órgão esteja defendendo os interesses do governo e acusaram os donos dos grandes jornais de serem contrários ao projeto por não quererem interferência em suas ações. Os dois dirigentes são filiados ao PT.
"Estamos sendo massacrados pela mídia. Denunciamos esse massacre que, em última análise, massacra a própria ética da profissão", disse Ghedini, 52, afirmando que das 61 primeiras reportagens sobre o assunto, apenas uma teria sido favorável à criação do conselho.
"A imprensa ignora essa discussão, que é feita pelos jornalistas há 20 anos. (...) É capcioso usar um momento específico de dificuldade do governo para dizer que ele quer controlar a mídia. Isso é desinformação", afirmou o dirigente, acrescentando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apenas incorporou o pedido da entidade para a apresentação da proposta.
Ghedini, que trabalha atualmente para uma empresa que publica impressos na área de informação da tecnologia, disse já ter trabalhado em pequenos jornais, no "Jornal da Tarde" e na "Agência Folha".
Segundo ele, boa parte da polêmica se deve aos donos de jornais. "A cadeia de mando dos grandes jornais não quer ninguém interferindo no seu modo de agir", afirmou.
O projeto de lei para a criação do conselho chegou anteontem à Câmara dos Deputados. O presidente da Casa, João Paulo Cunha (PT-SP), afirmou que sua tramitação será lenta, como forma de haver a maior discussão possível, o que empurraria a votação para o ano que vem.
"Vamos discutir com muita cautela, se tiver qualquer risco à liberdade de imprensa, de censura, não vai prosperar aqui na Câmara. Agora, a Casa é preocupada com a regulamentação das profissões de forma genérica, inclusive a dos jornalistas", disse o deputado. Em algumas ocasiões, João Paulo tem criticado a imprensa em relação à cobertura jornalística do Congresso. Em linhas gerais, ele reclama que a mídia não noticia as coisas boas que o Legislativo faz.
Em contrapeso à posição da Fenaj, políticos de oposição e entidades como a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e a AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) são contrárias à criação do conselho por afirmarem que ele poderá representar cerceamento da atividade jornalística.
"O objetivo do conselho será conferir o registro profissional, fiscalizar o exercício ético da profissão e acompanhar a formação do futuro profissional", rebateu o vice-presidente da Fenaj.
Os dirigentes negaram que a entidade seja influenciada pelo PT, mas fizeram referências elogiosas a Lula: "O Lula tem uma concepção de cidadania, de democracia que coincide com o pensamento daqueles que querem uma imprensa livre e democrática", afirmou Ghedini.
(RANIER BRAGON)


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