São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PRESIDENTE

Presidente do Sebrae diz que pagamento foi em dinheiro e que não tem recibos

Okamotto diz não ter prova de que pagou dívida de Lula

MARTA SALOMON
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Paulo Okamotto, admitiu ontem que não tem como comprovar com recibos ou outro documento ter entregue ao PT dinheiro próprio para quitar uma dívida de R$ 29 mil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o partido.
"O recibo que ele [PT] me deu foi o pagamento das parcelas", disse Paulo Okamotto. Pouco antes, afirmara que o partido "deve ter dado recibos".
Segundo a prestação de contas do PT nacional apresentada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Lula tinha uma dívida com o partido por conta de "adiantamento a empregados" e "adiantamento a terceiros". A dívida foi paga em quatro parcelas, entre dezembro de 2003 e março de 2004.

Saques
Okamotto afirmou, em nova entrevista concedida ontem à Folha, que para pagar a dívida ele fez saques de suas contas bancárias pessoais, em agências de Brasília, em datas não coincidentes com os pagamentos das parcelas. Não deixou claro como o dinheiro foi repassado a um funcionário do partido (sem pegar um recibo), no valor correto da parcela. Okamotto também não detalhou como o dinheiro foi enviado para São Paulo -onde os depósitos ocorreram em quatro agências diferentes do Banco do Brasil.
"Eu estou em Brasília, eu ia ao caixa eletrônico e ia sacando", disse Okamotto, que não sacava apenas no caixa eletrônico, segundo ele próprio admitiu.
Indagado sobre o motivo pelo qual usou dinheiro para quitar as parcelas -e não um simples cheque ou uma transferência bancária-, Okamotto afirmou: "Tem que ser em espécie. Se eu faço em cheque, quem pagou foi Paulo Okamotto, não foi Lula. Ia lançar como na contabilidade?".
Em nota divulgada ontem, Okamotto afirmou ter sido nomeado por Lula seu procurador em dezembro de 2002 "única e exclusivamente para tratar da rescisão do seu contrato de trabalho com o PT". Além do dinheiro sacado de suas contas, Okamotto disse ainda ter recorrido a US$ 3.500 "que sobraram dos gastos das viagens internacionais e que estavam em poder da Secretaria de Relações Internacionais do PT".
No documento, Okamotto informou que a dívida de Lula foi gerada por uma passagem emitida antes de 2002 para a primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva, para uma viagem à China, na qual acompanhou Lula, "adiantamentos em moeda estrangeira" para viagens do então presidente de honra do partido a China, França, Portugal e Itália, além de "adiantamentos a funcionário que teriam ocorrido em 1997".
À frente do Sebrae, uma sociedade civil sem fins lucrativos, Okamotto controla um orçamento anual de R$ 900 milhões. A entidade tem o objetivo de promover a competitividade e o desenvolvimento dos empreendimentos de micro e pequeno portes.

Garanhuns
Menos de uma semana antes de apresentar a versão de que realizou os pagamentos em prol de Lula, Paulo Okamotto acompanhou o presidente em viagem oficial, como convidado no AeroLula, a municípios do Nordeste, entre os quais a cidade natal de Lula, Garanhuns (PE).
Embora tenha passado dois dias com o presidente, Okamotto afirmou ontem à Folha que não tratou com ele, a quem chama de "amigo", do pagamento da dívida -já então alvo de investigação na CPI dos Correios.
Em discurso, o presidente Lula mencionou uma vez Okamotto, a quem tratou de "meu querido companheiro". O presidente do Sebrae foi tesoureiro da campanha eleitoral de Lula em 1989.

Tarso Genro
O presidente nacional do PT, Tarso Genro, admitiu ter tomado conhecimento da versão de que Okamotto pagara o empréstimo "dez dias ou uma semana" antes da divulgação da nota, anteontem, na qual o partido informa os supostos pagamentos de Okamotto à legenda.
Indagado sobre o motivo de o partido não ter divulgado a explicação à época, Genro afirmou: "Era uma questão que afetava exclusivamente o tesoureiro do partido, que se relacionava com a contabilidade anterior. Provavelmente, [o partido] não tivesse informações claras ainda".
A assessoria de comunicação do PT nacional informou que respostas a dúvidas sobre a origem e o pagamento da dívida de Lula "devem ser buscadas com o ex-tesoureiro Delúbio Soares".
Em depoimento à CPI dos Correios, Delúbio afirmou que eram "empréstimos" concedidos a dirigentes do partido.


Colaborou ANA FLOR, da Sucursal de Brasília

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