São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O PRESIDENTE

Comissão investiga suposto elo entre pagamento e esquema operado por Marcos Valério

CPI suspeita de versão e quer quebrar sigilos de Okamotto

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A versão apresentada pelo PT sobre o pagamento da dívida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o partido, de que ela teria sido paga pelo presidente do Sebrae, Paulo Okamotto -confirmada pelo próprio Okamotto- não convenceu parlamentares da CPI dos Correios. Os deputados querem investigar se a história foi montada com o objetivo de ocultar possível ligação entre os pagamentos e o esquema de caixa dois no partido criado com apoio do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza.
A CPI deverá analisar hoje três requerimentos apresentados pelos deputados Ônyx Lorenzoni (PFL-RS) e ACM Neto (PFL-BA), que pedem a tomada de depoimento e a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Okamotto. Os parlamentares também querem que Okamotto, que foi tesoureiro da campanha de Lula à Presidência em 1989, explique a origem dos recursos e apresente os comprovantes de que entregou o dinheiro ao PT.
"Okamotto não convence. Vamos ter de averiguar todas as possibilidades, inclusive a de que a origem do pagamento tenha sido movimentações feitas pelo sr. Marcos Valério com dirigentes do partido", disse ACM Neto.
"Levaram quase um mês para encontrar alguém [Okamotto] que assumisse a responsabilidade. Temos informações de que a versão foi combinada de última hora", afirmou Lorenzoni, fazendo referência à viagem de Lula ao Nordeste na semana passada. Okamotto acompanhou Lula na viagem. Em Canto do Buriti, no Piauí, ele disse à Folha que não se lembrava de ter sido tesoureiro do PT. Depois voltou atrás e disse que na sua época o dinheiro que circulava no partido era menor.
"Chama a atenção a dificuldade do governo de explicar algo aparentemente simples", cobrou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
O senador Aloizio Mercadante (PT-SP), líder do governo no Senado, foi à tribuna para acusar a oposição de tentar transformar Lula em alvo. "É justo que a gente discuta as coisas dessa forma? Não acho justo. Vamos manter a estatura política do debate."
Fora da tribuna, Mercadante voltou a negar que Lula tenha mantido dívida com o PT. "Não há empréstimo. Ele [Okamotto] tentou resolver, quem fez trapalhada foi o Delúbio", disse.
À CPI dos Correios, Delúbio Soares confirmou a prática de empréstimos. Indagado pelo deputado Ônyx Lorenzoni sobre os valores atribuídos na prestação de contas do TSE a Lula (R$ 29 mil), José Dirceu (R$ 14 mil) e o próprio Mercadante (R$ 3.700), Delúbio afirmou: "No Partido dos Trabalhadores, os seus dirigentes, ex-dirigentes, funcionários usam essa prática de fazer empréstimo e depois ressarcir sem juros".
Mercadante atribuiu sua dívida a gastos em viagens que realizou para representação do partido no exterior. (MS e RV)


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