|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Os solidários
A CPI do Mensalão simplificou: não depende mais de
Marcos Valério de Souza, tem
um mentiroso seu na própria
mesa diretora da comissão.
Ninguém menos do que o próprio vice-presidente da CPI e
freqüentemente presidente em
exercício -o deputado petista
Paulo Pimenta, gaúcho que
costuma praticar um estilo de
arrogância e rispidez à maneira do seu líder José Dirceu.
O episódio protagonizado por
esse deputado, gerador de um
tumulto na CPI que atrasou
ontem o início dos trabalhos
por quase duas horas, com várias irrupções posteriores, comporta muita gravidade em dois
sentidos. Ambos contrários ao
dever investigativo da CPI, que
está sob riscos.
Em resumo, o deputado Paulo Pimenta foi acusado pelo deputado Júlio Redecker do ato
antiético de sair do Senado, na
madrugada de ontem, no carro
de Marcos Valério, que acabara
de depor. Paulo Pimenta foi
enérgico e direto: primeiro, não
pegou carona com Valério; segundo, foi até o carro para receber de um dos advogados de
Valério um documento importante: uma lista de mais recebedores de dinheiro ilegal, em papel com timbre do Supremo Tribunal Federal, e não revelada
por Valério na véspera.
A tropa de choque petista implodiu a sessão, em solidariedade ao colega ultrajado e esbravejante. Tal a baderna, que se
chegou à suprema surpresa de
ver a senadora Ideli Salvatti, líder do pelotão Maria Callas do
PT em substituição a Heloisa
Helena, pedindo calma ao plenário. Mas Redecker conseguiu
berrar que viu Paulo Pimenta
entrar no carro e, mais, teve
uma idéia atômica: "E vamos
ver as câmeras da garagem do
Senado, elas devem mostrar o
deputado Paulo Pimenta no
carro de Marcos Valério". O
bravo Paulo Pimenta ficou carbonizado.
Presentes como acompanhantes também do depoente
dia, os advogados de Marcos
Valério desmentiram a entrega
do documento. Ou seja, Paulo
Pimentel mentiu quanto a não
entrar no carro e mentiu quanto à entrega do papel. Mas não
esgotara sua capacidade de fazê-lo. Produziu a explicação de
que achara a lista denunciadora sobre a mesa dirigente, supondo que um dos advogados
de Valério a esquecera ali.
É quase desnecessário lembrar, ainda, a constatação de
que a lista de recebedores apresentada por Paulo Pimentel
não existe em processo nenhum
no Supremo Tribunal Federal,
os nomes eram uma montagem
falsificada e seu aparecimento,
ali, estava atribuído a dois funcionários ligados à liderança do
PT.
O episódio foi uma culminância do desempenho petista nas
CPIs do mensalão e dos Correios. Mas não a última. Uma
fraude como a tentada por
Paulo Pimenta foi tratada, por
exemplo, pela senadora Idali
Salvatti como o caso simples
"de uma lista já conhecida". Pelo petista paulista José Eduardo
Cardozo, como a questão secundária "de uma eventual carona". Pelo petista pernambucano Maurício Rands, como
um caso decorrente só de que "o
deputado Júlio disse que teria
havido um contato do deputado Paulo Pimenta com o sr.
Marcos Valério".
Assim tem agido a tropa de
choque petista. Procura esvaziar tudo o tempo todo, sem decência no trato dos fatos, sem
dignidade política e sem compostura pessoal. Disso só pode
resultar a sua associação moral
a Marcos Valério e a quantos
acusados haja. E, como o PT
domina as CPIs ao somar-se a
seus aliados da "base governista", as inquirições e investigações ficam prejudicadas, particularmente as referentes ao
"mensalão".
Paulo Pimenta perdeu, se tinha, a autoridade ética minimamente necessária para manter-se como primeiro-vice-presidente. Já se tornara suspeito
ao inquirir Marcos Valério na terça-feira, quando deixou a
impressão de um diálogo previamente combinado em cada
pergunta e cada resposta. Não é
preciso ser rigoroso para concluir que não lhe sobram condições nem para continuar como
deputado. Do "Mini Caldas
Aulete": "Decoro parlamentar:
Padrão de comportamento ético esperado de um parlamentar". Paulo Pimenta mostrou
diante de duas CPIs reunidas, e
a todo o país por duas emissoras de TV e várias de rádio, a
sua falta de decoro parlamentar.
Texto Anterior: Dívida de Lula é erro do PT, diz Wagner Próximo Texto: Escândalo do "mensalão"/2006 em jogo: Lista apócrifa causa guerra entre PSDB e petistas na CPI Índice
|