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Dividido sobre Renan, Senado acelera discussão de sucessor
Expectativa de margem apertada no plenário amanhã aumenta pressão sobre partidos
Ganha força a tese de que, mesmo que se livre de ser cassado, alagoano não terá condição política para se manter presidente da Casa
SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A dois dias da votação do processo de cassação do presidente
do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), a margem apertada no plenário que deve definir
o futuro do senador aumentou
a pressão sobre os partidos e
deu a largada para as negociações de seu eventual sucessor.
Na base aliada e na oposição
ganhou força a tese de que, se
for absolvido por margem estreita de votos, Renan não terá
força política para continuar
dirigindo a Casa. Ele enfrentará
mais três processos de quebra
de decoro até o fim do ano.
Entre os governistas, a articulação é para que Renan se
afaste do cargo após a votação.
Ele tem demonstrado resistência à idéia. Se isso ocorresse,
seu substituto por até 120 dias
seria o primeiro-vice-presidente, Tião Viana (PT-AC).
Segundo aliados, Renan só
deixaria o cargo antes da votação numa saída emergencial,
caso avaliasse que será derrotado na votação secreta. Nesse
caso, ele acredita que o gesto
renderia votos na oposição.
Mas, até ontem, dizia estar seguro da absolvição com oito a
dez votos de vantagem.
Mesmo com o cenário de incerteza, já se falava num cenário de sucessão. Caso Renan seja cassado, Tião Viana assume por um período de cinco dias,
até a realização de novas eleições. O PMDB trabalha com
uma espécie de "saída natural"
nesse caso, que poderia ser tanto José Sarney (AP) quanto sua
filha, Roseana Sarney (MA). O
senador Gerson Camata
(PMDB-ES) "corre por fora".
A oposição apóia Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). "Na sucessão do presidente Renan
não dá para apoiar o nome do
senador José Sarney nem o de
sua filha [Roseana Sarney]. Não
dá para eleger alguém que participou desse processo sem se
manifestar", afirmou o líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM).
"Acho lamentável as pessoas
decidirem o voto não com base
no processo, mas em benefício
próprio, porque poderão ter a
perspectiva de sentar na cadeira de presidente", disse a líder
do PT, Ideli Salvatti (SC). Questionada sobre quem cobiçaria a
cadeira, ela desconversou:
"Não sou candidata a nada, mas
que tem gente, isso tem".
O clima que cerca o final do
processo é de constrangimento. Ontem, vários senadores subiram à tribuna protestar contra a realização de sessão secreta. Alguns deles, abriram seus
votos nos corredores.
"A sessão secreta possibilita a
encenação, a falsidade. Já se
disse muito em política que o
voto secreto é uma permanente
tentação à traição", disse Álvaro Dias (PSDB-PR). "Que Deus
nos ilumine nesse dia dramático para que o Senado não envelheça ainda mais ou para que
esta instituição não apodreça",
completou.
"Alguns não têm certeza se o
parecer está bom ou ruim, outros estão em dúvida. Na Justiça, a dúvida é a favor do réu. Na
política, a dúvida tem de ser
contra o político", disse Cristovam Buarque (PDT-DF), que
afirmou ser favorável à cassação do mandato de Renan.
"É difícil alguém fugir da
conclusão a que os relatores
chegaram", disse Romeu Tuma
(DEM-SP), contrariando a informação de aliados de Renan
que contabilizam seu voto.
Também cresceu a pressão
nos partidos para que mantivessem o controle de suas bancadas, evitando as chamadas
"traições" já que a votação será
reservada. PSDB e PT agendaram reuniões para hoje.
Apontado na última hora como "fiel da balança", o PT estaria dividido com seis votos a favor de Renan, cinco contra e
um em aberto.
"Todos os partidos terão votos pela cassação e pela absolvição. O mais estranho é que estamos sendo responsabilizados
nos dois casos. Por que só nós
seremos os responsáveis?", reclamou Ideli.
Colaborou ANGELA PINHO ,
da Sucursal de Brasília
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