São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Dividido sobre Renan, Senado acelera discussão de sucessor

Expectativa de margem apertada no plenário amanhã aumenta pressão sobre partidos

Ganha força a tese de que, mesmo que se livre de ser cassado, alagoano não terá condição política para se manter presidente da Casa

SILVIO NAVARRO
FERNANDA KRAKOVICS

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A dois dias da votação do processo de cassação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a margem apertada no plenário que deve definir o futuro do senador aumentou a pressão sobre os partidos e deu a largada para as negociações de seu eventual sucessor.
Na base aliada e na oposição ganhou força a tese de que, se for absolvido por margem estreita de votos, Renan não terá força política para continuar dirigindo a Casa. Ele enfrentará mais três processos de quebra de decoro até o fim do ano.
Entre os governistas, a articulação é para que Renan se afaste do cargo após a votação.
Ele tem demonstrado resistência à idéia. Se isso ocorresse, seu substituto por até 120 dias seria o primeiro-vice-presidente, Tião Viana (PT-AC).
Segundo aliados, Renan só deixaria o cargo antes da votação numa saída emergencial, caso avaliasse que será derrotado na votação secreta. Nesse caso, ele acredita que o gesto renderia votos na oposição. Mas, até ontem, dizia estar seguro da absolvição com oito a dez votos de vantagem.
Mesmo com o cenário de incerteza, já se falava num cenário de sucessão. Caso Renan seja cassado, Tião Viana assume por um período de cinco dias, até a realização de novas eleições. O PMDB trabalha com uma espécie de "saída natural" nesse caso, que poderia ser tanto José Sarney (AP) quanto sua filha, Roseana Sarney (MA). O senador Gerson Camata (PMDB-ES) "corre por fora".
A oposição apóia Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). "Na sucessão do presidente Renan não dá para apoiar o nome do senador José Sarney nem o de sua filha [Roseana Sarney]. Não dá para eleger alguém que participou desse processo sem se manifestar", afirmou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
"Acho lamentável as pessoas decidirem o voto não com base no processo, mas em benefício próprio, porque poderão ter a perspectiva de sentar na cadeira de presidente", disse a líder do PT, Ideli Salvatti (SC). Questionada sobre quem cobiçaria a cadeira, ela desconversou:
"Não sou candidata a nada, mas que tem gente, isso tem".
O clima que cerca o final do processo é de constrangimento. Ontem, vários senadores subiram à tribuna protestar contra a realização de sessão secreta. Alguns deles, abriram seus votos nos corredores.
"A sessão secreta possibilita a encenação, a falsidade. Já se disse muito em política que o voto secreto é uma permanente tentação à traição", disse Álvaro Dias (PSDB-PR). "Que Deus nos ilumine nesse dia dramático para que o Senado não envelheça ainda mais ou para que esta instituição não apodreça", completou.
"Alguns não têm certeza se o parecer está bom ou ruim, outros estão em dúvida. Na Justiça, a dúvida é a favor do réu. Na política, a dúvida tem de ser contra o político", disse Cristovam Buarque (PDT-DF), que afirmou ser favorável à cassação do mandato de Renan.
"É difícil alguém fugir da conclusão a que os relatores chegaram", disse Romeu Tuma (DEM-SP), contrariando a informação de aliados de Renan que contabilizam seu voto.
Também cresceu a pressão nos partidos para que mantivessem o controle de suas bancadas, evitando as chamadas "traições" já que a votação será reservada. PSDB e PT agendaram reuniões para hoje.
Apontado na última hora como "fiel da balança", o PT estaria dividido com seis votos a favor de Renan, cinco contra e um em aberto.
"Todos os partidos terão votos pela cassação e pela absolvição. O mais estranho é que estamos sendo responsabilizados nos dois casos. Por que só nós seremos os responsáveis?", reclamou Ideli.


Colaborou ANGELA PINHO , da Sucursal de Brasília


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