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JANIO DE FREITAS
Dois julgamentos
Se a acusação era de benefício recebido de uma empreiteira, a providência seria a verificação na apontada fonte pagadora
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O JULGAMENTO QUE os senadores farão amanhã do seu caráter, a isso forçados pelo julgamento de Renan Calheiros, está
antecedido de uma demonstração já
comprometedora: a sujeição generalizada ao poder financeiro-eleitoral (agora também financeiro-paternal) das grandes empreiteiras.
Apesar de tudo o que já apareceu
sobre o presidente do Senado, a origem do processo a ser julgado são os
numerosos pagamentos feitos por
um lobista da empreiteira Mendes
Júnior, Cláudio Gontijo, para quitação de deveres de Renan Calheiros
com Mônica Veloso e a filha de ambos. Todas as sucessivas explicações
do senador, para induzir a crença de
que os pagamentos usaram recursos
seus, revelaram-se uma mentira
continuada, embora em capítulos.
Foi essa série de inverdades e fraudes que levou ao reconhecimento da
falta de decoro de Calheiros, pelo
Conselho de Ética. E levará ao previsto julgamento, amanhã, da perda
ou não do seu mandato.
Mas, se a acusação original era de
benefício recebido indevidamente
de uma empreiteira, e as explicações
em contrário não se sustentavam, a
providência lógica seria a verificação na apontada fonte pagadora. Era
o meio de saber se saíram de seu caixa, fosse para Cláudio Gontijo, fosse
em nome de Renan Calheiros ou de
Mônica Veloso, importâncias coerentes em valor e em data com os recebimentos comprovados.
Nenhum dos 81 senadores fez sequer sugestão naquele sentido, tão
óbvio. Nem ao menos houve menção alguma à Mendes Jr., a não ser
para qualificar o seu lobista Cláudio
Gontijo.
Se Renan Calheiros não foi capaz
de comprovar a posse dos recursos
repassados a Mônica Veloso, e não
houve motivo para a suposição de
que Cláudio Gontijo usasse dinheiro
seu, a omissão deliberada dos senadores vale por uma indicação clara
da fonte dos pagamentos. E, com a
identificação, o motivo que levou a
poupá-la.
Brasil
O ataque ao trem que levava os
ministros Márcio Fortes Almeida e
Pedro Brito para um ato de demagogia suburbana, no Rio, recebeu
do secretário estadual de Transportes e herdeiro de colégios importantes, Júlio Lopes, uma resposta de alto valor intelectual -
sem falar do teor moral. Os meninos bandidos sentiram-se estimulados a atirar no trem, deduziu ele,
"em função da imprensa".
Em grande parte, é "em função
da imprensa" que o Rio tem tido,
nos sucessivos governos estaduais
e municipais, secretários sem a mínima coragem, para não dizer outras coisas, de dizer e fazer o que
devem. É "em função" deles que
ministros e secretários têm que se
jogar no chão, "em função" de tiros
bandidos.
O que aconteceu ontem foi, apenas isso, "em função" da realidade
do Rio, uma cidade brasileira.
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