São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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JANIO DE FREITAS

Dois julgamentos


Se a acusação era de benefício recebido de uma empreiteira, a providência seria a verificação na apontada fonte pagadora

O JULGAMENTO QUE os senadores farão amanhã do seu caráter, a isso forçados pelo julgamento de Renan Calheiros, está antecedido de uma demonstração já comprometedora: a sujeição generalizada ao poder financeiro-eleitoral (agora também financeiro-paternal) das grandes empreiteiras.
Apesar de tudo o que já apareceu sobre o presidente do Senado, a origem do processo a ser julgado são os numerosos pagamentos feitos por um lobista da empreiteira Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, para quitação de deveres de Renan Calheiros com Mônica Veloso e a filha de ambos. Todas as sucessivas explicações do senador, para induzir a crença de que os pagamentos usaram recursos seus, revelaram-se uma mentira continuada, embora em capítulos. Foi essa série de inverdades e fraudes que levou ao reconhecimento da falta de decoro de Calheiros, pelo Conselho de Ética. E levará ao previsto julgamento, amanhã, da perda ou não do seu mandato.
Mas, se a acusação original era de benefício recebido indevidamente de uma empreiteira, e as explicações em contrário não se sustentavam, a providência lógica seria a verificação na apontada fonte pagadora. Era o meio de saber se saíram de seu caixa, fosse para Cláudio Gontijo, fosse em nome de Renan Calheiros ou de Mônica Veloso, importâncias coerentes em valor e em data com os recebimentos comprovados.
Nenhum dos 81 senadores fez sequer sugestão naquele sentido, tão óbvio. Nem ao menos houve menção alguma à Mendes Jr., a não ser para qualificar o seu lobista Cláudio Gontijo.
Se Renan Calheiros não foi capaz de comprovar a posse dos recursos repassados a Mônica Veloso, e não houve motivo para a suposição de que Cláudio Gontijo usasse dinheiro seu, a omissão deliberada dos senadores vale por uma indicação clara da fonte dos pagamentos. E, com a identificação, o motivo que levou a poupá-la.

Brasil
O ataque ao trem que levava os ministros Márcio Fortes Almeida e Pedro Brito para um ato de demagogia suburbana, no Rio, recebeu do secretário estadual de Transportes e herdeiro de colégios importantes, Júlio Lopes, uma resposta de alto valor intelectual - sem falar do teor moral. Os meninos bandidos sentiram-se estimulados a atirar no trem, deduziu ele, "em função da imprensa".
Em grande parte, é "em função da imprensa" que o Rio tem tido, nos sucessivos governos estaduais e municipais, secretários sem a mínima coragem, para não dizer outras coisas, de dizer e fazer o que devem. É "em função" deles que ministros e secretários têm que se jogar no chão, "em função" de tiros bandidos.
O que aconteceu ontem foi, apenas isso, "em função" da realidade do Rio, uma cidade brasileira.


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