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Na Finlândia, Lula "substitui" peemedebista por Chinaglia
Martti Kainulainen/France Presse
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O presidente do Parlamento finlandês, Sauli Niinist, com Lula |
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HELSINQUE
O fantasma de Renan Calheiros pairou, inadvertidamente,
durante a visita do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ao
Eduskuntatalo (Casa do Parlamento em finlandês). O fantasma terminou exorcizado pela
"destituição" de Calheiros por
parte do presidente, substituído por Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara, ainda que
nem um nem o outro tivessem
sido citados nominalmente.
Foi assim: Sauli Niinistö,
presidente do Parlamento local, lamentou: "A história da
cooperação entre nossos Parlamentos é quase inexistente".
Culpa, principalmente, dos
parlamentares brasileiros já
que, faz cinco anos, o presidente do Eduskuntatalo esteve no
Brasil, ao passo que nenhum
presidente do Parlamento brasileiro esteve na Finlândia.
Pediu então que Lula transmitisse ao presidente do Parlamento do Brasil convite para
vir a Helsinque, onde "seria
muito bem recebido". A menção ao cargo de Renan (o presidente do Senado é também o
presidente do Congresso) provocou trocas de olhares e sorrisos entre os jornalistas.
Do outro lado da sala, os sorrisinhos contaminaram dois
dos membros da comitiva de
Lula, o assessor especial Marco
Aurélio Garcia e o chanceler
Celso Amorim. Garcia chegou a
deslocar-se um metro para cochichar com Amorim, olhando
ambos para os jornalistas.
Lula, sério e solene, passou
recibo, na sua vez de responder:
prometeu levar o convite "ao
presidente da Câmara", uma
maneira esperta de espancar o
fantasma de Calheiros, na medida em que, na Finlândia, o
Parlamento é unicameral. Não
há, portanto, Senado. Fantasma à parte, a visita ao Eduskuntatalo serviu para que Lula repetisse juras de amor ao Parlamento, tanto ao brasileiro como ao finlandês.
Sobre o Congresso brasileiro,
lembrou ter participado da elaboração da Constituição de
1988 (mas omitiu que o PT não
a assinou por discordar de itens
fundamentais). Disse que seu
governo conseguiu "plena colaboração" do Parlamento.
Sobre o Parlamento da Finlândia, disse que representava
um "símbolo dos direitos políticos das mulheres", cuja participação na Casa de 200 membros passou de 19, na primeira
eleição em 1907, para 84 em
2007. Sauli Niinistö citara o número na sua saudação.
O ambiente era tão familiar
que, na cerimônia de assinatura de um memorando de entendimento sobre mudança climática, no palácio presidencial pela manhã, o garçom (o único)
passou a bandeja com taças de
bebida também entre os jornalistas (poucos), o que nunca
acontece em palácio maiores e
mais cerimoniosos. A presidente finlandesa, Tarja Halonen,
ainda brincou: "Já brindamos
duas vezes esta manhã com bebida não-alcoólica, porque todo
o álcool vai para os veículos".
Para Lula, o brinde mais saboroso foi servido por Halonen,
ao dizer, primeiro, que a "Finlândia tem muito interesse no
trabalho que o Brasil desenvolve no campo do etanol e do biocombustível". Depois, acrescentou que seu país "apoia o
Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas", antiga
reivindicação do Itamaraty.
O único desacordo foi a defesa pela presidente de um acordo multilateral de investimentos, que, segundo ela, "seria benéfico tanto para os investidores como para os países que recebem os investimentos". O
Brasil tem sido frontalmente
contrário a acordos do gênero,
porque, diz o Itamaraty, afetam
a possibilidade de o país direcionar investimentos para onde considerar mais conveniente, já que a liberalização daria
ao investidor, não ao governo, o
poder de escolher a área.
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