São Paulo, terça-feira, 11 de setembro de 2007

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Na Finlândia, Lula "substitui" peemedebista por Chinaglia

Martti Kainulainen/France Presse
O presidente do Parlamento finlandês, Sauli Niinist, com Lula


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HELSINQUE

O fantasma de Renan Calheiros pairou, inadvertidamente, durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Eduskuntatalo (Casa do Parlamento em finlandês). O fantasma terminou exorcizado pela "destituição" de Calheiros por parte do presidente, substituído por Arlindo Chinaglia, presidente da Câmara, ainda que nem um nem o outro tivessem sido citados nominalmente.
Foi assim: Sauli Niinistö, presidente do Parlamento local, lamentou: "A história da cooperação entre nossos Parlamentos é quase inexistente". Culpa, principalmente, dos parlamentares brasileiros já que, faz cinco anos, o presidente do Eduskuntatalo esteve no Brasil, ao passo que nenhum presidente do Parlamento brasileiro esteve na Finlândia.
Pediu então que Lula transmitisse ao presidente do Parlamento do Brasil convite para vir a Helsinque, onde "seria muito bem recebido". A menção ao cargo de Renan (o presidente do Senado é também o presidente do Congresso) provocou trocas de olhares e sorrisos entre os jornalistas.
Do outro lado da sala, os sorrisinhos contaminaram dois dos membros da comitiva de Lula, o assessor especial Marco Aurélio Garcia e o chanceler Celso Amorim. Garcia chegou a deslocar-se um metro para cochichar com Amorim, olhando ambos para os jornalistas.
Lula, sério e solene, passou recibo, na sua vez de responder: prometeu levar o convite "ao presidente da Câmara", uma maneira esperta de espancar o fantasma de Calheiros, na medida em que, na Finlândia, o Parlamento é unicameral. Não há, portanto, Senado. Fantasma à parte, a visita ao Eduskuntatalo serviu para que Lula repetisse juras de amor ao Parlamento, tanto ao brasileiro como ao finlandês.
Sobre o Congresso brasileiro, lembrou ter participado da elaboração da Constituição de 1988 (mas omitiu que o PT não a assinou por discordar de itens fundamentais). Disse que seu governo conseguiu "plena colaboração" do Parlamento.
Sobre o Parlamento da Finlândia, disse que representava um "símbolo dos direitos políticos das mulheres", cuja participação na Casa de 200 membros passou de 19, na primeira eleição em 1907, para 84 em 2007. Sauli Niinistö citara o número na sua saudação.
O ambiente era tão familiar que, na cerimônia de assinatura de um memorando de entendimento sobre mudança climática, no palácio presidencial pela manhã, o garçom (o único) passou a bandeja com taças de bebida também entre os jornalistas (poucos), o que nunca acontece em palácio maiores e mais cerimoniosos. A presidente finlandesa, Tarja Halonen, ainda brincou: "Já brindamos duas vezes esta manhã com bebida não-alcoólica, porque todo o álcool vai para os veículos".
Para Lula, o brinde mais saboroso foi servido por Halonen, ao dizer, primeiro, que a "Finlândia tem muito interesse no trabalho que o Brasil desenvolve no campo do etanol e do biocombustível". Depois, acrescentou que seu país "apoia o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas", antiga reivindicação do Itamaraty.
O único desacordo foi a defesa pela presidente de um acordo multilateral de investimentos, que, segundo ela, "seria benéfico tanto para os investidores como para os países que recebem os investimentos". O Brasil tem sido frontalmente contrário a acordos do gênero, porque, diz o Itamaraty, afetam a possibilidade de o país direcionar investimentos para onde considerar mais conveniente, já que a liberalização daria ao investidor, não ao governo, o poder de escolher a área.


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