São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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52 agentes da Abin foram usados na Satiagraha

MARIA CLARA CABRAL
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diretor do Departamento de Contra-Inteligência da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Maurício Fortunato Pinto, revelou ontem em depoimento na CPI dos Grampos que 52 agentes do órgão atuaram durante quatro meses na Operação Satiagraha, da Polícia Federal. Até então, a Abin admitia apenas "colaboração" com a PF e "participação eventual" de seus servidores.
Com a voz embargada, Fortunato responsabilizou o delegado Protógenes Queiroz por "descontroles" ocorridos durante a Satiagraha, inclusive em eventuais escutas telefônicas clandestinas, e criticou a participação do agente aposentado do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) Francisco Ambrósio de Nascimento na operação. Segundo ele, Queiroz "usou várias estruturas oficiais e, pelo que estamos tomando conhecimento, não oficiais".
O diretor da Abin caiu em contradição ainda ao falar sobre Ambrósio. Questionado se conhecia o agente aposentado, disse que sim, mas que não o via há mais de dez anos. Mais tarde, questionado se os dois tinham se encontrado na última sexta-feira, confirmou.
Fortunato disse que procurou Ambrósio quando soube da reportagem da revista "Isto É", que apontou o agente da SNI como responsável por coordenar a realização de escutas clandestinas contra autoridades, entre elas o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.
No início do depoimento, o diretor da Abin disse que os agentes emprestados só ajudaram em trabalhos pontuais e simples, como levantamentos de dados na internet. A versão não convenceu os deputados.
Segundo o diretor da Abin, além de quatro agentes que trabalharam em Brasília durante a Satiagraha, outros 48, em diversas turmas e turnos, ajudaram as investigações no Rio e em São Paulo. Ainda de acordo com ele, a atuação dos agentes custou cerca de R$ 250 mil.
Fortunato disse que a participação dos agentes foi aprovada pelo diretor afastado da Abin, Paulo Lacerda. Em seu depoimento à CPI, Lacerda não deu detalhes de quantos agentes participaram da Satiagraha e disse não ter recebido informações sobre a operação.
Em nota divulgada no dia 14 de julho, a Abin informou que a "Direção Geral não tem e não teve nenhuma participação ou iniciativa, muito menos ingerência, nos fatos que resultaram na referida operação policial." Também em depoimento, Protógenes disse que apenas "alguns membros da Abin" participaram da Satiagraha.
Fortunato se responsabilizou pela coordenação dos agentes, mas negou qualquer ligação deles com Ambrósio, o ex-agente do SNI. Disse que os homens da Abin não sabiam quem eram os alvos finais da operação e que recebiam ordens diretas de Protógenes.
Integrantes da CPI ficaram irritados durante o depoimento. O presidente da comissão, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), chegou a dizer que a CPI pode propor a extinção do órgão.


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