DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depoimentos sem base técnica e informações difundidas de forma errada contribuíram, na última semana, para um grande engano no noticiário da "grampolândia": equipamentos corriqueiros de varredura vêm sendo confundidos com sofisticados aparelhos de grampo telefônico, vulgarmente conhecidos como maletas de interceptação.
Os erros começaram quando o ministro Nelson Jobim (Defesa) relatou ao presidente Lula que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) adquiriu, por meio do Exército, equipamentos capazes de realizar grampos. A informação foi decisiva para o afastamento do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda.
Logo surgiram explicações -nunca oficiais- de que o ministro se equivocara. Lacerda, inclusive, divulgou que o equipamento em poder da agência, o Oscor 5000, não é capaz de tal façanha.
O problema é que Jobim, assessorado pelos peritos do Exército no assunto, nunca se referiu ao Oscor 5000. O Oscor, como sabem dez entre dez arapongas, é um equipamento de defesa, usado em varreduras antigrampo.
Ele pode detectar a presença de escutas telefônicas em um ambiente limitado, mas nunca decodificar o sinal -ou, na linguagem técnica, demodular. O máximo que o Oscor pode fazer é reproduzir um chiado.
Já as maletas são capazes de demodular sinais de telefonia digital. Esse é o pulo do gato, que faz do equipamento obrigatório no aparato tecnológico de forças policiais de inteligência dos Estados Unidos e da Europa. A diferença tecnológica é o que determina também a disparidade de preços - enquanto o Oscor vale cerca de US$ 20 mil, as maletas não saem por menos de US$ 500 mil.
Na lista de compras da Abin apresentada por Jobim a Lula, a suspeita recai sobre o Stealth LPX Surveillance System. Qual é o modelo deste aparelho nas mãos da Abin? A diferença do modelo determina, por exemplo, se ele pode ou não demodular conversas a partir de telefones digitais ou se pode também grampear dados transmitidos pela internet. (AG)


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