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Tarso diz que voto de Peluso foi "ideológico"
Gilmar Mendes, presidente do STF, nega crise entre Poderes e elogia voto do relator do caso Battisti
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Criticado por parte dos ministros do Supremo Tribunal
Federal pela concessão do refúgio político ao italiano Cesare
Battisti, o ministro Tarso Genro (Justiça) disse que o voto do
relator do caso, Cezar Peluso,
foi "ideologizado" e que o ministro "distorceu" o despacho
de refúgio ao não fazer a leitura
completa dele em plenário.
Relator do processo de extradição de Battisti, Peluso considerou "ilegal" o status de refugiado dado ao italiano e autorizou a sua extradição, sob o argumento de que os crimes atribuídos a ele foram "comuns".
O julgamento de extradição
de Battisti à Itália, onde foi condenado por quatro assassinatos
na década de 1970, foi suspenso. A maioria dos ministros (4
contra 3) seguiu o relator.
Em janeiro, a decisão de Tarso de dar refúgio contrariou entendimento do Conare (Comitê
Nacional para os Refugiados),
subordinado a ele.
"O voto do Peluso foi eminentemente ideológico. O tom
de voz dele se influenciava
quando lia determinados trechos de minha decisão, que ele
distorceu", disse Tarso. "Minha
decisão não foi lida na íntegra
pelo Peluso." Nem o STF nem
Peluso quiseram comentar.
Do Chile, onde participa de
seminário, Tarso disse que a
tendência expressa até agora
pelo tribunal, pela extradição,
abre "precedente extremamente grave". "Se isso se tornar
maioria, todos os pedidos de refúgio que foram concedidos até
agora poderão ser analisados
pelo STF, que pode julgar nulos
ou não os atos proferidos. [Uma
mudança] terá grandes consequências no Estado de Direito."
Tarso também criticou o fato
de Battisti ainda estar preso
após o refúgio dado pelo governo em janeiro. Ele considerou
ainda que influenciou a tendência do STF pela extradição a
pressão do governo italiano.
Outro ponto visto como
preocupante por Tarso é o fato
de o Supremo ter um papel revisionário em decisão que, segundo frisou, está expressa em
lei que é de exclusividade do
Executivo, já que o refúgio é
uma decisão política.
"Há uma mudança na jurisprudência que coloca uma
proeminência e uma superioridade no Judiciário em relação
aos demais Poderes. É um desequilíbrio momentâneo que é
prejudicial para a harmonia
dos Poderes."
Sobre outro ponto ainda não
decidido pelo STF, de que caberia ao presidente acatar a decisão da corte caso Battisti seja
extraditado, Tarso considerou
"preocupante" limitar a atuação do chefe do Executivo.
O presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, negou ontem a possibilidade de uma crise caso a corte decida extraditar Battisti, e elogiou o voto de
Peluso. "Essas questões [crise]
não ocorrem dessa maneira.
Nós estamos num outro padrão
civilizatório no Brasil, há muitos anos nós não temos esse tipo de crise, não vai se cogitar
disso agora", disse.
Sobre o voto de Peluso, afirmou: "O ministro fez um voto
com mais de 130 páginas, esmiuçando todo o debate, entrando em todas as questões,
examinando a própria decisão
administrativa do Conare".
Questionado se a decisão não
era uma interferência do Supremo no Executivo, Mendes
disse que a última palavra no
caso é do Judiciário. "Esse tema não era pacífico nem sequer
no âmbito do Ministério da
Justiça. Não se esqueçam de
que há um órgão especializado
que se manifestou pela não
concessão do refúgio", afirmou.
Ele evitou, porém, fazer críticas a Tarso. "Realmente eu tenho até uma grande simpatia
por ele, nos entendemos muito
bem, de modo que eu não quero
ficar criando controvérsia."
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