DO ENVIADO A AMSTERDÃ

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse ontem a empresários holandeses que "não há mais sem-terra no Brasil, mas sem-crédito".
A afirmação foi feita no extenso trecho da fala presidencial dedicada às questões sociais.
FHC considerou "cruel" o problema do acesso à terra, porque "se trata de um problema do século 19, ao mesmo tempo em que temos que prestar atenção em como oferecer Internet às pessoas, um problema do século 21".
Culpou desde a escravidão até a inflação, passando pela pobreza e pelo problema do acesso à terra, que disse estar "fazendo o possível" para resolver.
Chegou a dizer aos empresários que, nos últimos quatro anos, havia desapropriado 16 milhões de hectares, "provavelmente mais ou menos o tamanho da Holanda".
Depois, em entrevista aos jornalistas brasileiros, voltou a falar de pobreza, para dar razão ao presidente do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), Roberto Borges Martins, que diz que está esgotada a capacidade do Plano Real de reduzir a pobreza.

Crise
Anteontem, o presidente havia culpado a crise de 1999 pelo aumento da pobreza, apontado em estudo também do Ipea. A instituição é ligada ao Ministério de Planejamento.
Ontem, culpou o aumento da inflação: "O plano Real fez uma redução grande da pobreza no país e, enquanto a inflação for controlada, você vai ter essa pobreza reduzida. No ano passado, como houve um aumento da inflação, aumentou a pobreza".
Fernando Henrique reconhece: "Manter a inflação controlada é fundamental para os pobres, mas não é suficiente".
Como se resolve o resto? O presidente responde com o óbvio: "Mais emprego, mais educação, mais saúde. Isso leva tempo".
FHC acha também que "o mercado não resolve o problema da pobreza". "O que resolve o problema da pobreza são políticas de governo, e nós estamos com todas elas em marcha", afirmou o presidente. (CLÓVIS ROSSI)


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