São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2000

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INVESTIGAÇÃO
Plano era alugar avião nos EUA, vir a São Paulo buscar azeite, pegar droga no Equador e entregar no México
Fita liga negociadores de dossiê a tráfico

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

Gravações do FBI e relatório da promotoria norte-americana obtidos pela Folha mostram que os mesmos empresários brasileiros que negociavam o dossiê Caribe (suposta conta secreta da cúpula tucana) e que intermediaram suborno na Prefeitura de São Paulo em favor da empresa MetroRED envolveram-se com o narcotráfico internacional.
Os documentos associam os empresários brasileiros José Maria Teixeira Ferraz e Oscar de Barros, presos em Miami desde março, num esquema organizado para levar cocaína da Colômbia para os EUA passando pelo Brasil.
Desde julho de 1998, uma ação conjunta do FBI, da DEA (agência antidrogas dos EUA), da imigração norte-americana e de uma força-tarefa criada especialmente para o caso gravou mais de 400 telefonemas, vinte vídeos e monitorou os dois 24 horas por dia.
Revelada pela Folha nos últimos dias, a investigação mostrou que ambos mantinham ainda um esquema especializado em lavar dinheiro para políticos brasileiros e em intermediar corrupção.
Eles estão presos no Centro de Detenção Federal de Miami, sob acusação de lavagem de dinheiro e de conspiração para traficar drogas. Aguardam o começo do julgamento, previsto para o início de dezembro.
A participação de ambos no narcotráfico teria sido comprovada pelo FBI com base em gravações de conversas dos empresários com o advogado norte-americano Frank Ricci, processado nos EUA por falsificar documentos de imigração. Ricci decidiu denunciar os brasileiros como moeda de troca numa negociação com o governo norte-americano.
Com um gravador colado ao corpo, o advogado, que tinha os dois brasileiros como clientes, fez visitas ao escritório da Overland Advisory Services, empresa de Barros e de Ferraz.
Às 16h32 de 4 de novembro de 1998, Ricci gravou os dois, a mando do FBI. "Você me disse que tinha um negócio quando foi ao meu escritório, lembra? Que nós tínhamos um acerto e que iríamos alugar um avião. Tínhamos que trazer um carregamento ao México. Isso foi (ininteligível) e eles iriam trocar isso por cocaína. Foi isso o que você me disse. Lembra-se? No escritório?", pergunta o informante do FBI.
A operação seria importar azeite do Brasil para o México e levar a cocaína na carona dessa carga.
O FBI descobriu que a incumbência de Ferraz e de Barros era arrumar o avião para os narcotraficantes, de quem receberam dinheiro para alugar a aeronave.
Ricci pega o mapa, aponta o México e diz a Barros: "Mas você me disse que tinha de ir para o Equador primeiro".
Barros explica por que o vôo não será direto para a Cidade do México: "Deixe-me dizer por que você tem de ir para o Equador". De acordo com Barros, o avião deixaria São Paulo e pararia em Quito para reabastecer.
Ferraz emenda que a parada na capital do Equador é para o avião pegar um passageiro, que mostrará onde os pilotos terão de descer antes do pouso final na Cidade do México. Nessa parada, seria descarregada a cocaína.
"Em Quito, eles vão pegar um passageiro, que é um engenheiro náutico. Ele é piloto e também um engenheiro náutico. Ele vai entrar no avião em Quito. Vai dizer aos pilotos onde eles têm de pousar. Eles vão nos dizer antes. Ninguém sabe onde", diz Ferraz, que receberia depois um aviso dos narcotraficantes com o local para o pouso fora do roteiro oficial.
Num ponto da gravação, Ferraz descreve seu papel no esquema, que seria apenas operacional. "Essa cocaína não é minha", diz ele. Explica que o arranjo é arrumarem o avião para o transporte da droga. "Para mim, é exportação regular de comida", diz.
A Folha teve acesso ainda a um relatório do agente Michael McGarrity, do FBI de Nova York, que grampeou Ferraz em fevereiro de 1999. Segundo ele, existe um esquema de importação de cocaína que usaria o território brasileiro como base. O agente grampeou mais de dez telefonemas envolvendo outros brasileiros, ainda não identificados.


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