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INVESTIGAÇÃO
Plano era alugar avião nos EUA, vir a São Paulo buscar azeite, pegar droga no Equador e entregar no México
Fita liga negociadores de dossiê a tráfico
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Gravações do FBI e relatório da
promotoria norte-americana obtidos pela Folha mostram que os
mesmos empresários brasileiros
que negociavam o dossiê Caribe
(suposta conta secreta da cúpula
tucana) e que intermediaram suborno na Prefeitura de São Paulo
em favor da empresa MetroRED
envolveram-se com o narcotráfico internacional.
Os documentos associam os
empresários brasileiros José Maria Teixeira Ferraz e Oscar de Barros, presos em Miami desde março, num esquema organizado para levar cocaína da Colômbia para
os EUA passando pelo Brasil.
Desde julho de 1998, uma ação
conjunta do FBI, da DEA (agência
antidrogas dos EUA), da imigração norte-americana e de uma
força-tarefa criada especialmente
para o caso gravou mais de 400 telefonemas, vinte vídeos e monitorou os dois 24 horas por dia.
Revelada pela Folha nos últimos dias, a investigação mostrou
que ambos mantinham ainda um
esquema especializado em lavar
dinheiro para políticos brasileiros
e em intermediar corrupção.
Eles estão presos no Centro de
Detenção Federal de Miami, sob
acusação de lavagem de dinheiro
e de conspiração para traficar
drogas. Aguardam o começo do
julgamento, previsto para o início
de dezembro.
A participação de ambos no
narcotráfico teria sido comprovada pelo FBI com base em gravações de conversas dos empresários com o advogado norte-americano Frank Ricci, processado
nos EUA por falsificar documentos de imigração. Ricci decidiu
denunciar os brasileiros como
moeda de troca numa negociação
com o governo norte-americano.
Com um gravador colado ao
corpo, o advogado, que tinha os
dois brasileiros como clientes, fez
visitas ao escritório da Overland
Advisory Services, empresa de
Barros e de Ferraz.
Às 16h32 de 4 de novembro de
1998, Ricci gravou os dois, a mando do FBI. "Você me disse que tinha um negócio quando foi ao
meu escritório, lembra? Que nós
tínhamos um acerto e que iríamos
alugar um avião. Tínhamos que
trazer um carregamento ao México. Isso foi (ininteligível) e eles
iriam trocar isso por cocaína. Foi
isso o que você me disse. Lembra-se? No escritório?", pergunta o informante do FBI.
A operação seria importar azeite do Brasil para o México e levar a
cocaína na carona dessa carga.
O FBI descobriu que a incumbência de Ferraz e de Barros era
arrumar o avião para os narcotraficantes, de quem receberam dinheiro para alugar a aeronave.
Ricci pega o mapa, aponta o
México e diz a Barros: "Mas você
me disse que tinha de ir para o
Equador primeiro".
Barros explica por que o vôo
não será direto para a Cidade do
México: "Deixe-me dizer por que
você tem de ir para o Equador".
De acordo com Barros, o avião
deixaria São Paulo e pararia em
Quito para reabastecer.
Ferraz emenda que a parada na
capital do Equador é para o avião
pegar um passageiro, que mostrará onde os pilotos terão de descer
antes do pouso final na Cidade do
México. Nessa parada, seria descarregada a cocaína.
"Em Quito, eles vão pegar um
passageiro, que é um engenheiro
náutico. Ele é piloto e também um
engenheiro náutico. Ele vai entrar
no avião em Quito. Vai dizer aos
pilotos onde eles têm de pousar.
Eles vão nos dizer antes. Ninguém
sabe onde", diz Ferraz, que receberia depois um aviso dos narcotraficantes com o local para o
pouso fora do roteiro oficial.
Num ponto da gravação, Ferraz
descreve seu papel no esquema,
que seria apenas operacional.
"Essa cocaína não é minha", diz
ele. Explica que o arranjo é arrumarem o avião para o transporte
da droga. "Para mim, é exportação regular de comida", diz.
A Folha teve acesso ainda a um
relatório do agente Michael
McGarrity, do FBI de Nova York,
que grampeou Ferraz em fevereiro de 1999. Segundo ele, existe um
esquema de importação de cocaína que usaria o território brasileiro como base. O agente grampeou
mais de dez telefonemas envolvendo outros brasileiros, ainda
não identificados.
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