São Paulo, quarta-feira, 11 de outubro de 2000

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ANÁLISE

Entre a moral e os bons costumes

LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Tudo indica que a polarização na reta final da eleição para prefeito de São Paulo vai ocorrer no pantanoso campo da moral e dos bons costumes.
Paulo Maluf, de um lado, apontando o que na sua opinião é "imoral" na candidata do PT e, de outro, Marta Suplicy, destacando os costumes administrativos e políticos de Maluf, do ponto de vista dela nada "bons".
Interessante notar que em nome da moral e dos bons costumes o Brasil viveu praticamente duas décadas sob censura aos meios de comunicação, a livros, discos, cinema, música e a tudo o mais que pudesse ter algum conteúdo que desagradasse aos militares que comandavam o país.
Muita besteira foi feita nesse período (uma geração inteira) em nome de uma moral e de certos costumes que ninguém sabia direito quais eram.
Ainda bem que tudo isso se tornou apenas memorabilia.
Mas a questão, hoje, é saber para que lado o disse-que-disse eleitoral vai pegar.
Quatro especialistas em marketing político ouvidos por esta coluna, que preferem ficar no anonimato por questões "profissionais e éticas", como disse um deles, acreditam que os efeitos dessa polarização radicalizada nesses termos -moral para lá, costumes para cá- é tão imprevisível quanto contraproducente. Há uma desconfiança muito grande quanto à eficácia das estratégias que se esboçam de lado a lado.
Quanto as posições liberais de Marta Suplicy, difundidas na TV há 20 anos, podem ser perniciosas eleitoralmente para ela hoje?
E Maluf, que, apesar de todas as críticas às suas gestões, dos fracassos de seu pupilo Celso Pitta na prefeitura, de todo o seu telhado de vidro administrativo, contrariando todas as expectativas, conseguiu chegar ao segundo turno? Será que vai adiantar chamá-lo de mais que nefasto e de mais que desonesto?
Trata-se uma incógnita que será desvendada ao longo da campanha eleitoral e dos debates que virão.
Se é que virão.
Já tem gente achando que Maluf vai pegar pesado a ponto de Marta se recusar a debater com ele ao vivo na TV, em nome de um nível minimamente aceitável na campanha. O que dará a Maluf a chance de acusá-la de fujona etc.
Ou seja, propostas de governo, iniciativas práticas, soluções para os graves problemas que atolaram São Paulo num lamaçal como nunca se viu e aquilo tudo que poderia levar ao convencimento do eleitor por meio de idéias... Bem, isso certamente será apenas acessório nos 20 dias que restam de campanha.


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