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Marcos Nobre
Além do telecatch
NENHUM DOS candidatos estava preparado. Alckmin é novato na cena nacional. E
Lula se mostrou inteiramente fora de forma para
debater com quem quer
que seja. Surpreendeu-se
com a "agressividade" de
Alckmin, que se preparou
para uma luta do tipo Mike
Tyson em plena forma: nocaute no primeiro assalto.
O resultado foi um telecatch mal ensaiado.
Mas o desencontro que
foi o debate se explica pelos
diferentes objetivos dos
candidatos. Lula foi porque
tinha de ir. E Alckmin porque queria mostrar para
seu partido e para seu eleitorado que tem condições
de subir para a categoria
dos pesos pesados da política nacional.
Alckmin falou para o
eleitorado que já é seu. Falou de "PEC 29", de "cartão
corporativo da Presidência" e de "roubo de aplausos" dirigidos a Kofi Annan. Não tirou um único
voto de Lula com essas referências desconhecidas da
maioria dos eleitores. Mas,
em caso de derrota, colocou-se em posição de brigar pela presidência do
PSDB e, portanto, pela liderança da oposição.
Quando Lula assimilou
os golpes dos dois primeiros blocos e começou a bater, Alckmin parecia reduzido a um candidato ao governo paulista. Esse foi o
momento de Lula: tratando-o muitas vezes por "governador", conseguiu de
fato pôr Alckmin nessa posição por dois blocos seguidos. O máximo que Alckmin conseguiu inventar
para tentar sair das cordas
foi a idéia medíocre de vender o avião presidencial.
Alckmin deixou contente seu eleitorado mais rico.
Principalmente ao mobilizar o ponto mais sensível
do preconceito de classe: a
leitura. Escarneceu de Lula
por ler as perguntas, afirmou que foram escritas
por assessores. Lula acusou o golpe. O mesmo Lula
que encarou com desdém
esse tipo de ataque desde
1982 parecia pela primeira
vez intimidado pelo diploma do adversário.
É isso o que dá fugir de
debates e da imprensa. Lula fez de tudo para evitar
entrevistas e discussões
públicas durante todo o
mandato. O resultado é que
agora já não sabe mais debater. Só sabe repetir "nunca antes na história" e louvar seu próprio governo.
Mas pelo menos uma
coisa nova apareceu. Mesmo que, até o momento, seja apenas uma estratégia
voltada para o público interno, uma tentativa de
mobilizar militantes e simpatizantes desgarrados,
Lula falou de política. Contrapôs um "privatizar, privatizar, privatizar" do
PSDB a um "social, social,
social" do seu governo.
Como Alckmin não tem
estatura política para estar
na posição em que está, Lula foi obrigado a inventar
um lugar para colocá-lo e,
então, tentar estabelecer o
confronto. Ainda que de
maneira canhestra e mais
que tardia, Lula está tentando forçar uma polarização política. Só que, para isso, não basta reaprender a
debater. Falta ainda combinar com o adversário. E,
principalmente, com o
eleitorado.
MARCOS NOBRE é professor de filosofia
política da Unicamp e pesquisador do Cebrap
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