|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FRONTEIRA DO PÓ
Para a PF, bases produtoras fabricam 45 toneladas da droga
Polícia Federal descobre fábricas de cocaína das Farc
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Um documento elaborado pela
Operação Cobra (sigla para Colômbia-Brasil) da Polícia Federal,
encarregada de desarticular o
narcotráfico na fronteira da Amazônia brasileira, identifica bases
de produção de cocaína sob o domínio das Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).
A identificação das bases pertencentes as Farc consta no primeiro relatório da Operação Cobra, ao qual a Agência Folha teve
acesso com exclusividade, e que
foi divulgado reservadamente no
dia 29 de setembro último para os
órgãos de segurança nacional do
Brasil, Colômbia e Estados Unidos, incluindo a DEA, a agência
federal antidrogas americana.
Chamadas de complexos [conjunto de laboratórios de refino",
as bases produzem mensalmente,
segundo o relatório, cerca de 45
toneladas do cloridrato de cocaína. A droga partiria em aviões de
pistas clandestinas na Colômbia
para Europa e os Estados Unidos
e até para o Brasil.
"Não temos mais dúvidas das
relações das Farc com o narcotráfico. A guerrilha tem o comando
das drogas e isso é uma ameaça
para a fronteira brasileira", afirma
o delegado Mauro Spósito, coordenador da Operação Cobra.
As bases da Colômbia sob domínio das Farc funcionam, pelo
relatório da PF, como laboratório
de refino para a droga que chega,
principalmente, do Peru e da Bolívia. Com cerca de 16 mil homens
armados, as Farc se definem como uma força político-militar que
nasceu como o braço armado do
Partido Comunista Colombiano
em 1964. Os integrantes negam ligações com o narcotráfico.
No ano passado, a guerrilha iniciou um processo de negociação
de paz com o governo do presidente Andrés Pastrana. Mas o governo acusa as Farc de apenas
usar o discurso sobre a paz e de
utilizar a zona desmilitarizada para manter vítimas de sequestros,
treinar para a guerra e utilizar bases de produção de cocaína.
De acordo com o relatório da
PF, as regiões onde estão os complexos localizam-se num raio de
apenas três quilômetros da fronteira brasileira com a Colômbia,
entre as cidades colombianas de
Letícia e San José del Guaviare.
Essas cidades formam uma linha
de fronteira de 1.644 km com o
território brasileiro, entre Tabatinga e a localidade de Cucuí, em
São Gabriel da Cachoeira (distante a 858 km oeste de Manaus).
Em Guaviare está o principal
complexo "dominado" [expressão usada na descrição das bases
pela Operação Cobra" pelas Farc.
É o de Barrancomina, que produz
em média 30 toneladas mensais
de cloridrato de cocaína. Segundo
o relatório "a região está sob domínio da Frente 16 da guerrilha, a
comando de Tomás Medina Caracas, o Negro Acácio". O guerrilheiro teria dado proteção ao traficante brasileiro Fernandinho
Beira-Mar durante a fuga do Brasil para Colômbia.
O delegado diz que a identificação dos complexos materializa os
laços dos guerrilheiros com os
narcotraficantes. Na investigação
dos complexos, a Polícia Federal
utilizou táticas de patrulhamento
fluvial, terrestre e aéreo, além do
monitoramento de satélites em
convênio com o Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais).
Propaganda
O professor de ciências políticas
da UFA (Universidade Federal do
Amazonas) Ricardo Bessa, especialista em movimentos revolucionários, afirma que as Farc são
um movimento que tem objetivo
de instaurar uma república socialista na Colômbia. E não acredita
no comprometimento da organização com narcotraficantes.
"Isso [o relatório da PF" é uma
propaganda exagerada dos Estados Unidos e não acredito que a
guerrilha seja financiada pelas
drogas", afirma Bessa.
O professor disse que as ações
da Polícia Federal precisam coibir
o narcotráfico na fronteira brasileira, mas alerta para o que chama
de "bombardeio de informações"
que possam prejudicar o processo
de paz entre a guerrilha e o governo colombiano.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Traficantes disputam cidade no AM Índice
|