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JANIO DE FREITAS
Vai melhorar
Pela primeira vez desde a
volta das presidências civis, o
eleitorado pode ver a chegada
da sucessão presidencial com
uma visão confortadora: a prevalecer, como tudo indica que
ocorrerá, a disputa entre os que
já estão admitidos à cena, qualquer que seja o eleito o país e a
vida do brasileiro vão melhorar.
Nenhum deles -Luiz Inácio
Lula da Silva, Roseana Sarney,
Itamar Franco, Ciro Gomes, José Serra e Tasso Jereissati- é favorável à política de sacrifícios
econômicos e sociais para aparentar estabilidade do real e
destinar à dívida a maior quota
de recursos anuais.
Como a complicação no PSDB
é grande, o atual presidente da
Câmara, Aécio Neves, é citado
para ser a alternativa conciliatória. Nada se alteraria, em termos de concepção de políticas e
de Brasil, na perspectiva representada pelo cenário atual mais
provável.
Nesse quadro em que os candidatos se assemelham nas linhas mais gerais de suas concepções, o detalhamento das
idéias e as forças políticas e econômicas do apoio serão, é claro,
balizadores da escolha pelo eleitorado. Mas um outro fator tende a ganhar realce: a agressividade entre candidatos, facilitada pela pouca importância que
os marqueteiros políticos dão a
propostas e idéias (não é difícil
entender-se o por quê) e pela
importância absoluta que dão a
truques de apelo eleitoral, mais
simplórios do que simples, como
técnicos de uma nova demagogia -mais abominável que a
anterior.
A expectativa fica por conta
do comportamento da mídia.
De uma parte, estão vivas as
conveniências e a inconsistência
ética que a têm levado a agir como partido, menos ou mais intensamente segundo cada caso.
De outra, porém, a menor diferenciação entre as linhas gerais
dos candidatos facilitaria a
ação menos tendenciosa e, talvez, até a recusa a métodos indignos que têm caracterizado a
"cobertura" das campanhas pelo lado mais forte da TV brasileira.
O quanto esta última hipótese
é possível, não há como avaliar,
ao menos por ora. Certo é que a
ausência da imprensa de publicações menos, digamos, empresariais deixa à grande mídia
uma liberdade sem regras e sem
limites. O poder de vigilância
das publicações economicamente modestas (para os padrões
americanos) e descomprometidas é um impeditivo muito vigoroso de excessos antiéticos na
mídia dos Estados Unidos.
Demonstração disso, agora
mesmo, estão dando publicações como as revistas "New Yorker" e "The Nation", para citar
duas com histórica celebridade,
cujas informações e análises forçam a grande mídia impressa,
indiretamente, a certos limites
na sua atual renúncia ao jornalismo em benefício do governismo, a pretexto de deveres cívico-bélicos que já mostraram (o
exemplo extremo ficou no passado alemão) como manipulam
e deformam as sociedades.
A mídia brasileira tem demonstrado forte vocação para o
suicídio: alia-se e serve ao que a
destrói. Foi assim com o autoritarismo primário de Collor.
Tem sido assim com a política
econômica que sufoca o crescimento no qual estão as suas fontes de receita, publicitária e de
público, e lhe onera os custos. A
mídia brasileira está em crise,
sem que isso tenha nem a mais
remota relação com a guerra &
cia. E a crise tende a influir no
tratamento "jornalístico" da sucessão presidencial.
Embora tenha a vocação para
o suicídio, setores da mídia já
têm a percepção de que o candidato mais tímido quanto a políticas de crescimento não é o que
convém, à própria mídia e ao
país. E, afinal de contas, depois
de todo o investimento feito na
política econômica restritiva, a
inflação está aí mesmo. Não
aparece nos índices, mas para
encontrá-la basta entrar no supermercado, no posto de gasolina, pagar a luz ou o que for.
O que talvez venha a caracterizar a próxima sucessão é mesmo a melhora do país e da vida
com novo governo, não só com
qualquer dos candidatos já em
cena, como apesar da mídia e
sua vocação.
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