São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

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NO PLANALTO

Há na praça dinheiro graúdo procurando um candidato para 2002

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A indecisão do tucanato produziu uma curiosa novidade pré-eleitoral. Em vez de candidato necessitado de dinheiro, há na praça dinheiro necessitado de candidato. Preocupada com a própria sobrevivência, a plutocracia impacienta-se com a demora na escolha do presidenciável conveniente.
Enquanto o governismo oscila entre tentar Serra, experimentar Tasso, fabricar Aécio, suicidar-se com Paulo Renato, engolir Roseana ou comprar uma bicicleta, a oligarquia eriça-se com a suavização dos índices de rejeição a Lula. Tensa, coça o bolso.
Na boca de cena, sob holofotes, furta-se o tempo da malta esticando o ato em que o PSDB se esmera no desempenho de seu melhor papel, o de equilibrista sobre o muro. Nas coxias, à meia-luz, manuseiam-se os primeiros orçamentos de campanha.
Há no mercado uma tabela que indica até onde os privilegiados estão dispostos a levar o esforço para conservar os mesmos privilégios de sempre. Estima-se que o patriciado esteja predisposto a injetar entre R$ 350 milhões e R$ 450 milhões na campanha do nome que vier a se firmar como o mais cômodo.
Não é pouca grana. Mas quem disse que fica barato manter o sistema de pilhagem que viabiliza a construção concomitante da décima economia e de uma das sociedades mais injustas do mundo?
No Brasil, como se sabe, campanhas eleitorais movimentam dois tipos de dinheiro: o oficial e o paralelo. Diplomático, o dinheiro oficial adula todos os candidatos. Até Lula provará do bolo. Pragmático, o dinheiro paralelo é mais seletivo. Acerca-se mais de uns do que de outros.
Na trama do financiamento eleitoral, a princesa se orgulha de não cair no conto do batráquio que vira príncipe. Aos olhos da nobreza, sapo será sempre sapo. Que vá se entender com outros bichos. Na dúvida, recomenda-se um telefonema para a sede do PT gaúcho.
Em 2002, como de hábito, o grosso do numerário escorregará para escriturações clandestinas. Montam-se desde já ardis para "lavar" as doações, levando-as à contabilidade com aparência sacrossanta. É coisa fina. Nem acionista desconfia.
Nas empresas maiores, entre elas bancos e indústrias, os arranjos contábeis sofisticaram-se bastante nos últimos anos. Distanciaram-se daqueles contratos de assessoria firmados com a EPC, a empresa de PC Farias que fez com que gente graúda tivesse de dar explicações à polícia.
Além da unção de um presidente afável, planeja-se tonificar o caixa de alguns governadores e de muitos parlamentares. Busca-se uma apólice anti-PT. Eleito, Lula encontraria no Congresso um dique que represaria eventuais arroubos mudancistas. Imagina-se que os governadores, além de provedores de bons negócios, funcionarão como líderes das bancadas no Congresso.
Há uma dose de exagero na "lulofobia" que envenena o humor do empresariado. Nos Estados e municípios em que virou poder, o PT mostra-se acomodatício a mais não poder. Por vezes assimila práticas que outrora abominava, num fascinante processo de assemelhamento com o oposto.
Seja como for, os investimentos eleitorais seguem o seu curso. Para plantar alguém confiável no Palácio dos Bandeirantes, imagina-se que será preciso desembolsar quantias que roçarão a casa dos R$ 200 milhões. O beneficiário preferencial é Geraldo Alckmin.
Um governador de Estado de pequeno e médio porte do Norte e do Nordeste consumirá entre R$ 15 milhões e R$ 25 milhões. Em São Paulo, um parlamentar sem rosto pode custar até R$ 10 milhões.
A entrega de dinheiro de empresários a candidatos por baixo do pano é praga da qual o brasileiro não se livra tão cedo. Criou-se um círculo de cumplicidade em que o caixa-dois de um justifica a arca clandestina do outro.
Empresário gosta de reclamar do "custo Brasil". Mais nocivo é o "custo eleição". Graças a ele, o país tem produzido governantes que chegam ao poder embalados pelo pior tipo de ilusão: a de que governam.


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