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NO PLANALTO
Há na praça dinheiro graúdo procurando um candidato para 2002
JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A indecisão do tucanato
produziu uma curiosa novidade pré-eleitoral. Em vez de
candidato necessitado de dinheiro, há na praça dinheiro necessitado de candidato. Preocupada com a própria sobrevivência, a plutocracia impacienta-se
com a demora na escolha do
presidenciável conveniente.
Enquanto o governismo oscila
entre tentar Serra, experimentar Tasso, fabricar Aécio, suicidar-se com Paulo Renato, engolir Roseana ou comprar uma bicicleta, a oligarquia eriça-se
com a suavização dos índices de
rejeição a Lula. Tensa, coça o
bolso.
Na boca de cena, sob holofotes, furta-se o tempo da malta
esticando o ato em que o PSDB
se esmera no desempenho de seu
melhor papel, o de equilibrista
sobre o muro. Nas coxias, à
meia-luz, manuseiam-se os primeiros orçamentos de campanha.
Há no mercado uma tabela
que indica até onde os privilegiados estão dispostos a levar o
esforço para conservar os mesmos privilégios de sempre. Estima-se que o patriciado esteja
predisposto a injetar entre R$
350 milhões e R$ 450 milhões na
campanha do nome que vier a
se firmar como o mais cômodo.
Não é pouca grana. Mas quem
disse que fica barato manter o
sistema de pilhagem que viabiliza a construção concomitante
da décima economia e de uma
das sociedades mais injustas do
mundo?
No Brasil, como se sabe, campanhas eleitorais movimentam
dois tipos de dinheiro: o oficial e
o paralelo. Diplomático, o dinheiro oficial adula todos os
candidatos. Até Lula provará do
bolo. Pragmático, o dinheiro paralelo é mais seletivo. Acerca-se
mais de uns do que de outros.
Na trama do financiamento
eleitoral, a princesa se orgulha
de não cair no conto do batráquio que vira príncipe. Aos
olhos da nobreza, sapo será
sempre sapo. Que vá se entender
com outros bichos. Na dúvida,
recomenda-se um telefonema
para a sede do PT gaúcho.
Em 2002, como de hábito, o
grosso do numerário escorregará para escriturações clandestinas. Montam-se desde já ardis
para "lavar" as doações, levando-as à contabilidade com aparência sacrossanta. É coisa fina.
Nem acionista desconfia.
Nas empresas maiores, entre
elas bancos e indústrias, os arranjos contábeis sofisticaram-se
bastante nos últimos anos. Distanciaram-se daqueles contratos de assessoria firmados com a
EPC, a empresa de PC Farias
que fez com que gente graúda tivesse de dar explicações à polícia.
Além da unção de um presidente afável, planeja-se tonificar o caixa de alguns governadores e de muitos parlamentares. Busca-se uma apólice anti-PT. Eleito, Lula encontraria no
Congresso um dique que represaria eventuais arroubos mudancistas. Imagina-se que os governadores, além de provedores
de bons negócios, funcionarão
como líderes das bancadas no
Congresso.
Há uma dose de exagero na
"lulofobia" que envenena o humor do empresariado. Nos Estados e municípios em que virou
poder, o PT mostra-se acomodatício a mais não poder. Por
vezes assimila práticas que outrora abominava, num fascinante processo de assemelhamento com o oposto.
Seja como for, os investimentos eleitorais seguem o seu curso.
Para plantar alguém confiável
no Palácio dos Bandeirantes,
imagina-se que será preciso desembolsar quantias que roçarão
a casa dos R$ 200 milhões. O beneficiário preferencial é Geraldo
Alckmin.
Um governador de Estado de
pequeno e médio porte do Norte
e do Nordeste consumirá entre
R$ 15 milhões e R$ 25 milhões.
Em São Paulo, um parlamentar
sem rosto pode custar até R$ 10
milhões.
A entrega de dinheiro de empresários a candidatos por baixo do pano é praga da qual o
brasileiro não se livra tão cedo.
Criou-se um círculo de cumplicidade em que o caixa-dois de
um justifica a arca clandestina
do outro.
Empresário gosta de reclamar
do "custo Brasil". Mais nocivo é
o "custo eleição". Graças a ele, o
país tem produzido governantes
que chegam ao poder embalados pelo pior tipo de ilusão: a de
que governam.
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