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SUCESSÃO NO ESCURO
Partido estuda adiar prévias de janeiro e se antecipar ao PSDB para compor dobradinha com PFL
PMDB já cobiça vice do fenômeno Roseana
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Além de deixar desorientado o
ninho tucano, o crescimento da
governadora Roseana Sarney
(PFL) nas pesquisas de opinião
ameaça provocar baixas nas fileiras de Itamar Franco no PMDB.
Atraídos por José Sarney (AP),
parte dos aliados do governador
mineiro passou a admitir o adiamento da prévia de janeiro para a
escolha do candidato da sigla em
2002. A idéia: avaliar se o crescimento de Roseana é uma bolha
passageira ou fenômeno que se
sustenta e, nesse caso, se antecipar
aos tucanos na chapa governista.
O movimento começou pelo Senado. Após conversar com Sarney, o líder da bancada, Renan
Calheiros (AL), que é aliado de
Itamar, procurou outros dirigentes peemedebistas com a proposta. Na avaliação de Calheiros, a
eventual consolidação de Roseana permitiria uma composição
PFL-PMDB, cabendo à sigla dar o
vice da chapa: Michel Temer (SP),
atual presidente da legenda. O
PSDB já deixou claro que não cede a cabeça de chapa. Corre o risco de ficar fora dela.
Calheiros sugeriu ter o aval de
Sarney para a fórmula. De fato, o
ex-presidente tem se movimentado com mais intensidade desde
que os índices de Roseana rondaram o patamar dos 20% nas pesquisas. Se ela mantiver esse desempenho, ficará difícil para o
PFL, no qual Sarney tem influência, evitar uma candidatura que
nasceu para servir de moeda de
negociação na aliança governista.
Governistas
Para não melindrar Itamar, que
tem ótimas relações políticas com
Sarney, Calheiros fala que a prévia
de janeiro só pode ser adiada por
consenso. Mais surpreendente é a
reação do grupo fiel ao Planalto:
ao contrário do que ocorreu há
menos de 90 dias, quando cedeu à
proposta das prévias para vencer
a disputa pela presidência da sigla, o grupo governista agora quer
fazer a preliminar.
Entrincheirado na Fundação
Ulysses Guimarães, presidida por
Moreira Franco, o grupo trabalha
na formação de uma frente anti-Itamar. Entre os membros fundadores estão o próprio Moreira,
que saiu do Planalto para não deixar as impressões digitais de Fernando Henrique Cardoso na articulação, Eliseu Padilha, que deixa
o Ministério dos Transportes nesta semana, e os governadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Joaquim
Roriz (DF).
Michel Temer deve ser o candidato contra Itamar. Pedro Simon
(RS), que está inscrito na prévia,
deve receber um "apelo" do
PMDB gaúcho para disputar o governo do Estado, pois seria o único nome com condições eleitorais
para bater o PT.
Derrotar Itamar, para o grupo
palaciano, significa mantê-lo em
Minas, o segundo maior colégio
eleitoral do país, disputando a
reeleição ou o Senado. Mesmo
que ele apóie Lula, avalia-se no
governo, o candidato do Planalto
ainda teria condição de tirar um
bom número de votos de Minas.
Compatibilidade
O eleitorado de Itamar não seria
incompatível com o eleitorado de
um candidato tucano. Principalmente se esse candidato for também um mineiro, como o presidente da Câmara, Aécio Neves, a
novidade mais recente nos tubos
de ensaios presidenciais dos alquimistas tucanos, diante da inanição eleitoral de José Serra (Saúde) e Tasso Jereissati (CE).
Para deixar Itamar em Minas, o
grupo palaciano pretende recorrer a todas as armas. Uma delas
será a definição das regras da prévia. A atual direção quer limitar o
número de eleitores: poderiam
votar todos os filiados com mandato no PMDB até os presidentes
dos diretórios municipais. Isso retiraria as chamadas "bases" da
disputa, nas quais o sentimento
de oposição seria mais forte.
No paiol, os governistas guardam uma arma poderosa: o Ministério dos Transportes, pelo
qual, por enquanto, responderá o
secretário-executivo de Padilha,
Alderico Jefferson Lima, mas que
pode ser usado a qualquer momento para fortalecer ou consolidar as forças anti-Itamar. O cargo
está entre os líderes de dois subgrupos dos governistas: Michel
Temer e Jarbas Vasconcelos.
Receio
Em comum, os dois grupos têm
o mesmo receio: escolhido candidato, Itamar pode desistir no
meio do caminho e apoiar Lula
(PT). Os "itamaristas" mais moderados temem até que o governador de Minas renuncie à candidatura às vésperas da prévia, como ocorreu na convenção do
PMDB de setembro passado.
Preocupam-se, também, com a
auto-suficiência de Itamar, que
pouco ou quase nunca sai de Minas para articular sua candidatura. Nem mesmo com Orestes
Quércia (SP) ou Roberto Requião
(PR), representantes dos dois diretórios nos quais sua candidatura é mais forte, além de Minas. Requião, aliás, já insinuou que pode
apoiar Lula de saída.
O fator Roseana, por enquanto,
só não alterou a estratégia de Itamar -que parece esperar que a
unção do PMDB caia do céu- e a
de José Serra. Enquanto Tasso decidiu antecipar o lançamento de
sua candidatura e o PFL a olhar
com mais seriedade a candidatura
Roseana, Serra insiste em não
misturar eleição com saúde até
março de 2002. Os tucanos temem, e o PFL e PMDB desconfiam que, até lá, os dois estejam
estropiados eleitoralmente.
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