São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Partido estuda adiar prévias de janeiro e se antecipar ao PSDB para compor dobradinha com PFL

PMDB já cobiça vice do fenômeno Roseana

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Além de deixar desorientado o ninho tucano, o crescimento da governadora Roseana Sarney (PFL) nas pesquisas de opinião ameaça provocar baixas nas fileiras de Itamar Franco no PMDB.
Atraídos por José Sarney (AP), parte dos aliados do governador mineiro passou a admitir o adiamento da prévia de janeiro para a escolha do candidato da sigla em 2002. A idéia: avaliar se o crescimento de Roseana é uma bolha passageira ou fenômeno que se sustenta e, nesse caso, se antecipar aos tucanos na chapa governista.
O movimento começou pelo Senado. Após conversar com Sarney, o líder da bancada, Renan Calheiros (AL), que é aliado de Itamar, procurou outros dirigentes peemedebistas com a proposta. Na avaliação de Calheiros, a eventual consolidação de Roseana permitiria uma composição PFL-PMDB, cabendo à sigla dar o vice da chapa: Michel Temer (SP), atual presidente da legenda. O PSDB já deixou claro que não cede a cabeça de chapa. Corre o risco de ficar fora dela.
Calheiros sugeriu ter o aval de Sarney para a fórmula. De fato, o ex-presidente tem se movimentado com mais intensidade desde que os índices de Roseana rondaram o patamar dos 20% nas pesquisas. Se ela mantiver esse desempenho, ficará difícil para o PFL, no qual Sarney tem influência, evitar uma candidatura que nasceu para servir de moeda de negociação na aliança governista.

Governistas
Para não melindrar Itamar, que tem ótimas relações políticas com Sarney, Calheiros fala que a prévia de janeiro só pode ser adiada por consenso. Mais surpreendente é a reação do grupo fiel ao Planalto: ao contrário do que ocorreu há menos de 90 dias, quando cedeu à proposta das prévias para vencer a disputa pela presidência da sigla, o grupo governista agora quer fazer a preliminar.
Entrincheirado na Fundação Ulysses Guimarães, presidida por Moreira Franco, o grupo trabalha na formação de uma frente anti-Itamar. Entre os membros fundadores estão o próprio Moreira, que saiu do Planalto para não deixar as impressões digitais de Fernando Henrique Cardoso na articulação, Eliseu Padilha, que deixa o Ministério dos Transportes nesta semana, e os governadores Jarbas Vasconcelos (PE) e Joaquim Roriz (DF).
Michel Temer deve ser o candidato contra Itamar. Pedro Simon (RS), que está inscrito na prévia, deve receber um "apelo" do PMDB gaúcho para disputar o governo do Estado, pois seria o único nome com condições eleitorais para bater o PT.
Derrotar Itamar, para o grupo palaciano, significa mantê-lo em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, disputando a reeleição ou o Senado. Mesmo que ele apóie Lula, avalia-se no governo, o candidato do Planalto ainda teria condição de tirar um bom número de votos de Minas.

Compatibilidade
O eleitorado de Itamar não seria incompatível com o eleitorado de um candidato tucano. Principalmente se esse candidato for também um mineiro, como o presidente da Câmara, Aécio Neves, a novidade mais recente nos tubos de ensaios presidenciais dos alquimistas tucanos, diante da inanição eleitoral de José Serra (Saúde) e Tasso Jereissati (CE).
Para deixar Itamar em Minas, o grupo palaciano pretende recorrer a todas as armas. Uma delas será a definição das regras da prévia. A atual direção quer limitar o número de eleitores: poderiam votar todos os filiados com mandato no PMDB até os presidentes dos diretórios municipais. Isso retiraria as chamadas "bases" da disputa, nas quais o sentimento de oposição seria mais forte.
No paiol, os governistas guardam uma arma poderosa: o Ministério dos Transportes, pelo qual, por enquanto, responderá o secretário-executivo de Padilha, Alderico Jefferson Lima, mas que pode ser usado a qualquer momento para fortalecer ou consolidar as forças anti-Itamar. O cargo está entre os líderes de dois subgrupos dos governistas: Michel Temer e Jarbas Vasconcelos.

Receio
Em comum, os dois grupos têm o mesmo receio: escolhido candidato, Itamar pode desistir no meio do caminho e apoiar Lula (PT). Os "itamaristas" mais moderados temem até que o governador de Minas renuncie à candidatura às vésperas da prévia, como ocorreu na convenção do PMDB de setembro passado.
Preocupam-se, também, com a auto-suficiência de Itamar, que pouco ou quase nunca sai de Minas para articular sua candidatura. Nem mesmo com Orestes Quércia (SP) ou Roberto Requião (PR), representantes dos dois diretórios nos quais sua candidatura é mais forte, além de Minas. Requião, aliás, já insinuou que pode apoiar Lula de saída.
O fator Roseana, por enquanto, só não alterou a estratégia de Itamar -que parece esperar que a unção do PMDB caia do céu- e a de José Serra. Enquanto Tasso decidiu antecipar o lançamento de sua candidatura e o PFL a olhar com mais seriedade a candidatura Roseana, Serra insiste em não misturar eleição com saúde até março de 2002. Os tucanos temem, e o PFL e PMDB desconfiam que, até lá, os dois estejam estropiados eleitoralmente.


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