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Outro lado
Ministro diz que se declara impedido nos processos dos irmãos
"Não posso proibi-los de advogar porque a Constituição dá o direito de trabalharem onde desejarem", diz Valmir Campelo
DO ENVIADO A BRASÍLIA
O ministro do TCU Valmir
Campelo e seu irmão, o advogado João Estênio Campelo Bezerra, defenderam a legalidade
das atividades do escritório
Campo Bezerra Advogados Associados em processos que tramitam no TCU.
"Eu me considero impedido
em todos os processos deles.
Não posso é proibi-los de advogar porque a Constituição lhes
dá o direito de trabalharem onde desejarem. E mesmo porque, quando eu vim pra cá, eles
já eram advogados. Agora, eu
nunca atuei", disse o ministro,
que afirmou não ver problemas
em ter presidido sessões em
que se julgaram processos relativos ao escritório do irmão.
"Eu estou [estava] presidindo a sessão, mas eu não estava
presente naquele momento daquele processo, eu me retiro.
Quando o processo é votado, eu
volto para o plenário. Eu apenas assino que eu era o presidente", disse Campelo.
Indagado se já teve de abrir
mão de alguma relatoria após
seu irmão ter entrado na causa,
ele respondeu que sim.
"É claro. Porque os processos
são sorteados, quando os processos vêm sorteados pra mim
com eles [na causa], eu me considero impedido, imediatamente e por escrito, sem nenhuma manifestação de mérito. Agora, quando está na relatoria de outro ministro, quando
ele está relatando, eu estando
no plenário, me considero impedido", afirmou o ministro.
Indagado sobre se atua em
processos relacionados a clientes do escritório de seu irmão,
achou descabida a dúvida. "Como eu vou ficar sabendo quais
são as empresas que ele já trabalhou ou não? Ele não tem nenhuma obrigação [de lhe comunicar quem são os clientes].
Eu relato aqui 200, 300 processos por semana, meu irmão
vem então dizer todos os processos que ele vem atuando?
Eu não posso exigir isso".
Campelo respondeu positivamente à pergunta se participou ou não de sessões em que
seu irmão foi parte. "Mas é óbvio. Não discutimos nem votamos quando estamos impedidos. Quando o ministro está
impedido, ele nem discute nem
vota, é uma figura morta. Agora, ele estava no plenário naquela sessão, porque votou
mais cem matérias", disse.
O advogado João Estênio disse que apenas "esporadicamente" atua no TCU e atualmente
trabalha em "quatro ou cinco"
processos em andamento. "Estou surpreso com esse número
de 42 processos [acórdãos].
Nunca fui do TCU, foram aparecendo as coisas [processos].
Às vezes, a gente entrava com
procuração e o processo caía
com ele [Valmir], ele firmava o
entendimento [de se declarar
impedido]. Às vezes, você começa no processo e ele é baixado para a inspetoria. Quando
volta, eu não sou mais advogado do processo. Eu fiz a primeira etapa e o cliente pode ter
contratado outro. Pode ter
ocorrido esse fato", disse.
"Cheguei em Brasília com 15
anos de idade, freqüento a sociedade. Os ministros do tribunal, conheço todos os ministros. Lá no TCU são nove ministros, você acha que eu não
devia conhecer? Não tenho
amizade com os ministros, todos, mas eu conheço. Como eu
conheço no Supremo, no STJ."
Sobre sua atuação no processo relativo ao DNIT em que
houve alteração de um acórdão
feito pelo irmão em 2002, Estênio negou ter entrado na causa
para provocar o impedimento
do ministro na votação.
"Eu não provoquei, fui contratado, e ele eticamente saiu
do processo. Seria antiético se
ele ficasse. Não entrei lá para tirá-lo. Eu acho que se houvesse
uma, digamos assim, a mínima
réstia de insinuação, devia ser o
contrário. Agora, o fato de ele
ter dado o voto contrário, e o
regimento indica que mude o
relatório. Claro que entrei como advogado porque fui contratado", afirmou Estênio.
Teresa Amaro Campelo, 60,
irmã do ministro Campelo, disse que há dois anos deixou a sociedade com o irmão Estênio.
Ela continua defendendo causas no TCU, no escritório Guimarães, Souto e Rocha.
Segundo ela, o ministro
Campelo também se declara
impedido de votar e analisar
processos que envolvam esse
escritório. Ela acredita ter
"quatro ou cinco" causas em
andamento no tribunal. "Ele
não vota na sessão nem examina nem tem mais nenhuma
atuação naquele processo", disse Teresa, que é procuradora
aposentada do DF.
Segundo Teresa, seus maiores clientes no TCU são juízes e
servidores do Judiciário aposentados, mas há empresas
também.
(RUBENS VALENTE)
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