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País possui papel de liderança na área ambiental, afirma Ki-moon
Secretário diz que Brasil conseguiu aliviar a pobreza e avançar na área energética
DO ENVIADO A NOVA YORK
O secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, diz que a comunidade científica precisa pensar criativamente em como reduzir a dependência de combustíveis fósseis e, ao mesmo
tempo, combater a pobreza.
"Eu fico feliz de ver que seu
presidente tem mostrado progresso em ambos os campos. O
Brasil tem feito progresso em
aliviar a pobreza e, ao mesmo
tempo, tem sido muito criativo
na questão de energia", disse.
O sul-coreano diz ainda que o
país adotou "um papel de liderança ao lidar com suas desigualdades sociais" e que "todas
as estatísticas mostram progresso importante na área".
(SD)
FOLHA - O propósito de sua visita é
discutir aquecimento global e biocombustíveis. O sr. diz que o Brasil é
líder em ambos os setores. Ao mesmo tempo, o relator especial da
ONU para a fome, Jean Ziegler, critica o programa brasileiro e chegou a
pedir uma moratória de cinco anos
na produção de etanol. Como o sr.
concilia as duas questões?
BAN KI-MOON - Sim, o Brasil tem
mesmo um papel de liderança
na luta pela proteção de recursos naturais. A política do etanol brasileiro é um exemplo
que os outros deveriam seguir.
Ao mesmo tempo, há muita
discussão sobre o impacto global que o aumento da produção
de etanol causaria. Não só no
Brasil, mas em muitos outros
lugares. Vou visitar seu país para saber mais sobre essa situação. Vou visitar uma usina de
etanol, mas também a Amazônia, para ver como o governo
tem preservado a região, que é
tão importante fonte de recursos naturais para a comunidade
internacional.
Alguns -como você disse, o
dr. Ziegler- têm expressado alguma preocupação quanto à segurança alimentar, especialmente quando a cana-de-açúcar é usada para a produção de
etanol. Mas esses relatores especiais são independentes, andam com suas próprias pernas,
não refletem necessariamente
as posições da ONU.
De qualquer maneira, é um
problema sério, em que o diálogo será necessário. O crescimento do uso de biocombustíveis precisa ser comandado pelos interesses da sociedade de
uma maneira sólida e sustentável. Tem de se levar em conta
produção alimentar, preços e
evitar o desflorestamento.
A comunidade científica tem
de pensar criativamente em como reduzir nossa dependência
de combustíveis fósseis. Ao
mesmo tempo, temos de pensar que a luta contra a pobreza é
também muito importante e vital. Eu fico feliz de ver que seu
presidente tem mostrado progresso em ambos os campos, o
Brasil tem feito progresso em
aliviar a pobreza, ao mesmo
tempo tem sido muito criativo
na questão de energia.
FOLHA - O sr. mencionou a redução
de pobreza. Acontece que o Brasil
continua ao mesmo tempo na lista
das dez maiores economias mundiais e na das dez piores em distribuição de renda. O sr. vê a contradição? E uma solução?
KI-MOON - É muito difícil e importante reconciliar essas duas
questões, que caminham lado a
lado. Sei que há desigualdades
econômico-sociais no Brasil. O
Brasil adotou de novo um papel
de liderança ao lidar com suas
desigualdades sociais. Tem
projetos ambiciosos em andamento para combater a exclusão social. Todas as estatísticas
mostram progresso importante na área.
FOLHA - O sr. assumiu o comando
duma instituição em crise. Enquanto conversamos, há um protesto na
porta da ONU contra a situação dos
curdos, um dos vários que ocorrem
todo dia. Quando o sr. acorda de manhã, pensa: "Estou começando mais
um dia perdido"? Ou pensa: "Hoje,
ajudarei a mudar o mundo"?
KI-MOON - Estou totalmente
comprometido em mudar essa
organização. Quando assumi
esse trabalho, em janeiro passado, essa organização como
um todo era criticada por ser
ineficaz, ineficiente, sem transparência e de não prestar conta
de suas ações. Essas são as
áreas exatamente que eu tenho
tentado mudar. Em dez meses,
já tivemos muita mudança na
nossa cultura.
O multilateralismo virou um
fenômeno muito importante
na comunidade internacional
hoje. Isso me anima muito, e a
ONU está no centro disso.
Quanto ao meu dia, todo dia é
um dia novo para mim, começo
sempre com esse sentimento.
Assim, estou totalmente comprometido em mudar essa organização para virar o centro
do multilateralismo mundial.
FOLHA - E os Estados Unidos o estão ajudando nesse caminho rumo
ao multilateralismo?
KI-MOON - Os Estados Unidos
têm sido muito cooperativos e
tem ajudado na reforma da
ONU! Estou feliz de estar muito próximo deles neste momento. Têm um embaixador
muito bom, Zalmay Khalizad,
respeitado por todos os membros. Essa parceria é essencial e
importante. Estou otimista em
relação a uma cooperação e a
um apoio maior dos EUA.
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