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ENTREVISTA:
BAN KI-MOON
Brasil precisa ampliar base de apoio, afirma secretário da ONU
Para o sul-coreano, o assento permanente no Conselho de Segurança exige expansão de diálogo com países-membros
Secretário-geral das Nações Unidas, que chega hoje ao país, defende o programa do etanol, que é criticado por relator da ONU para a fome
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Se quiser conseguir um assento permanente no Conselho
de Segurança da Organização
das Nações Unidas, a instância
mais importante da ONU, o
Brasil tem de aumentar sua base de apoio entre os países-membros. Esse é o conselho dado pelo secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon.
Em entrevista à Folha, o sul-coreano de 63 anos elogiou o
programa do etanol brasileiro
-ele começa seu primeiro tour
oficial ao país hoje com uma visita a uma usina de álcool em
São Paulo- e diminuiu a importância do pedido de seu relator para a fome, que quer moratória de cinco anos na produção de biocombustíveis.
Na segunda-feira, Ban Ki-moon (pronuncia-se "ban gui-mun") recebeu a Folha no último andar do prédio-sede das
Nações Unidas, em Nova York.
Leia a entrevista a seguir:
FOLHA - O Brasil quer um assento
permanente no Conselho de Segurança. Muitos dizem que é um pleito
justo ou mesmo apóiam a entrada,
como a França. Minha pergunta é: o
que está faltando?
BAN KI-MOON - Todos os países-membros da ONU concordam
com o fato de que o Conselho
de Segurança precisa passar
por uma reforma que aumente
seus assentos permanentes.
Considerando as mudanças
dramáticas por que passamos
nas últimas seis décadas, é absolutamente necessário que o
CS reflita mais realisticamente
o que aconteceu na comunidade internacional.
O que está faltando são os
países-membros conseguirem
concordar sobre uma mesma
fórmula para a mudança. Na
América Latina, há muitos países que desejam se tornar
membros permanentes. Também na África e na Ásia. Temos
de lidar com essas questões de
maneira harmoniosa, por meio
de diálogo e consultas.
FOLHA - Qual é a sua opinião?
KI-MOON - Como secretário-geral, não estou em posição de expressar minha posição pessoal
publicamente. Meu papel é facilitar o diálogo e a consulta entre os países-membros. O Brasil é, claro, um país-membro
muito importante, foi um dos
fundadores da organização.
Mas deveria tentar expandir
seu apoio entre os outros países-membros.
FOLHA - Esse é seu conselho para o
país?
KI-MOON - Sim.
FOLHA - A ONU avalia positivamente o papel do Brasil à frente da
missão de paz no Haiti (Minustah). A
favela Cité Soleil foi supostamente
"tomada" e "pacificada" sob o comando dos militares brasileiros. Ao
mesmo tempo, há um relator especial da ONU investigando o problema de violência no Brasil, assim como denúncias de execuções e corrupção policial. O sr. consegue enxergar a ironia dessa situação?
KI-MOON - [Pausa] Sou muito
grato quanto ao papel do Brasil
na Minustah. Quando visitei o
Haiti, vi junto à população um
sentimento muito positivo. Andei pela Cité Soleil, o que não
seria possível há sete meses. Os
brasileiros prenderam todas as
gangues, a segurança foi restaurada, e as pessoas puderam voltar às suas atividades econômicas e sociais. Isso é uma mudança completa, liderada pela
Minustah.
Quanto à corrupção, infelizmente, é um problema disseminado e mundial. A ONU, com
outras organizações e a sociedade civil, está trabalhando para que os governos sejam mais
transparentes. Acredito que
dar mais poder à sociedade civil
está no centro do esforço de
corrigir a corrupção. A ONU
também apóia programas na
América Latina, incluindo o
Brasil, para combater a insegurança social e promover a reabilitação dos jovens.
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