São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

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ENTREVISTA: BAN KI-MOON

Brasil precisa ampliar base de apoio, afirma secretário da ONU

Para o sul-coreano, o assento permanente no Conselho de Segurança exige expansão de diálogo com países-membros

Secretário-geral das Nações Unidas, que chega hoje ao país, defende o programa do etanol, que é criticado por relator da ONU para a fome

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Se quiser conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas, a instância mais importante da ONU, o Brasil tem de aumentar sua base de apoio entre os países-membros. Esse é o conselho dado pelo secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon. Em entrevista à Folha, o sul-coreano de 63 anos elogiou o programa do etanol brasileiro -ele começa seu primeiro tour oficial ao país hoje com uma visita a uma usina de álcool em São Paulo- e diminuiu a importância do pedido de seu relator para a fome, que quer moratória de cinco anos na produção de biocombustíveis. Na segunda-feira, Ban Ki-moon (pronuncia-se "ban gui-mun") recebeu a Folha no último andar do prédio-sede das Nações Unidas, em Nova York.
Leia a entrevista a seguir:

 

FOLHA - O Brasil quer um assento permanente no Conselho de Segurança. Muitos dizem que é um pleito justo ou mesmo apóiam a entrada, como a França. Minha pergunta é: o que está faltando?
BAN KI-MOON -
Todos os países-membros da ONU concordam com o fato de que o Conselho de Segurança precisa passar por uma reforma que aumente seus assentos permanentes. Considerando as mudanças dramáticas por que passamos nas últimas seis décadas, é absolutamente necessário que o CS reflita mais realisticamente o que aconteceu na comunidade internacional.
O que está faltando são os países-membros conseguirem concordar sobre uma mesma fórmula para a mudança. Na América Latina, há muitos países que desejam se tornar membros permanentes. Também na África e na Ásia. Temos de lidar com essas questões de maneira harmoniosa, por meio de diálogo e consultas.

FOLHA - Qual é a sua opinião?
KI-MOON -
Como secretário-geral, não estou em posição de expressar minha posição pessoal publicamente. Meu papel é facilitar o diálogo e a consulta entre os países-membros. O Brasil é, claro, um país-membro muito importante, foi um dos fundadores da organização. Mas deveria tentar expandir seu apoio entre os outros países-membros.

FOLHA - Esse é seu conselho para o país?
KI-MOON -
Sim.

FOLHA - A ONU avalia positivamente o papel do Brasil à frente da missão de paz no Haiti (Minustah). A favela Cité Soleil foi supostamente "tomada" e "pacificada" sob o comando dos militares brasileiros. Ao mesmo tempo, há um relator especial da ONU investigando o problema de violência no Brasil, assim como denúncias de execuções e corrupção policial. O sr. consegue enxergar a ironia dessa situação?
KI-MOON -
[Pausa] Sou muito grato quanto ao papel do Brasil na Minustah. Quando visitei o Haiti, vi junto à população um sentimento muito positivo. Andei pela Cité Soleil, o que não seria possível há sete meses. Os brasileiros prenderam todas as gangues, a segurança foi restaurada, e as pessoas puderam voltar às suas atividades econômicas e sociais. Isso é uma mudança completa, liderada pela Minustah.
Quanto à corrupção, infelizmente, é um problema disseminado e mundial. A ONU, com outras organizações e a sociedade civil, está trabalhando para que os governos sejam mais transparentes. Acredito que dar mais poder à sociedade civil está no centro do esforço de corrigir a corrupção. A ONU também apóia programas na América Latina, incluindo o Brasil, para combater a insegurança social e promover a reabilitação dos jovens.


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