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TRANSIÇÃO
Lula quer Lessa no Planejamento e Simon nos Transportes; Luiz Furlan, da Sadia, pode ir para o Desenvolvimento
PT oferece duas pastas ao PMDB, que resiste
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao oferecer dois ministérios para o PMDB, o PT também tentou
impor os nomes do economista
Carlos Lessa para o Planejamento
e do senador Pedro Simon (RS)
para Transportes. O comando
peemedebista resiste a aceitar o
que foi definido como "prato feito" e ainda discute alternativas.
Outro problema para fechar a
lista de ministeriáveis do PMDB e
garantir o apoio do partido ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva
no Congresso é que o senador José Sarney (PMDB-MA), aliado a
Lula desde o primeiro turno da
eleição, está patrocinando o nome
do deputado e médico José Aristodemo Pinotti (SP) para a Saúde.
Isso significa que o PT continua
sob o fogo cruzado do PMDB,
tentando contentar os dois lados
do partido: o que faz oposição a
Fernando Henrique Cardoso e
apoiou Lula, e o comando formal
do partido, aliado a FHC.
A oferta da pasta dos Transportes ao PMDB também gerou reações no PT, que acabaram levando ontem o novo presidente do
partido, José Genoino, a dizer que
no governo Lula não terá "fisiologismo" nem "toma-lá-dá-cá".
O PMDB comanda os Transportes desde o primeiro mandato
de FHC e acabou alvo de acusações de irregularidades. A mais
grave envolveu o recebimento de
propina no pagamento de precatórios por funcionários do órgão.
Pelo passado polêmico do
PMDB na pasta, o partido considera que o ministério está "estigmatizado", sem dinheiro e por isso discute pedir outra pasta ao PT.
Entre as opções em análise pela sigla estão os ministérios da Agricultura e das Minas e Energia,
mas o sonho peemedebista é a
Saúde, um ministério que tem dinheiro e poder político.
Para o Planejamento, além de
Carlos Lessa, outro nome cotado
é o do economista Luiz Gonzaga
Belluzo -ligado ao ex-governador de São Paulo Orestes Quércia,
que apoiou Lula na eleição, mas
disputa com Temer o controle do
PMDB de São Paulo.
No caso de Simon, ele é considerado digerível pela cúpula do
PMDB, pois uniria o grupo dissidente e a cúpula. Além disso, Simon também agradaria ao grupo
do senador José Sarney (AP), do
qual ele foi ministro. Segundo
peemedebista, Simon cabe em
qualquer um dos ministérios do
novo governo, seja nos Transportes, como propôs o PT, seja na
Saúde, como gostaria o partido.
A preferência do PT por Lessa e
Simon vazou antes do encontro
dos petistas Antonio Palocci e José Genoino com o presidente do
PMDB, Michel Temer (SP), que já
chegou para a conversa pronto a
rejeitar o "prato feito". Quando
Palocci se referiu ao nome de Lessa, Temer interrompeu: "Isso nós
precisamos fechar antes no partido". Palocci nem chegou a falar,
então, no nome de Simon.
No domingo à noite e ao longo
da segunda-feira, Temer e o líder
do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), telefonaram para
Nova York convocando os peemedebistas da comitiva de FHC à
cidade para voltar hoje a Brasília.
O presidente do Senado, Ramez
Tebet (MS), o líder do PMDB na
Câmara, Geddel Vieira Lima
(BA), e o ex-assessor de FHC Moreira Franco (RJ) embarcaram
ontem à noite e hoje vão se reunir
com a cúpula. O objetivo é "bater
o martelo" nos nomes do partido
no governo com o próprio Lula,
que retorna à noite do México.
Ontem à noite, integrantes da
cúpula peemedebista diziam que
nenhum dos nomes mencionados pelo PT, como Simon, Belluzzo e Lessa deve prosperar. A sigla
precisa ainda contornar as resistências dos governadores eleitos
Germano Rigotto (RS) e Jarbas
Vasconcelos (PE) à participação
do PMDB no governo.
O PT deverá convidar o empresário Luiz Fernando Furlan, presidente do Conselho de Administração do Grupo Sadia, para ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. À frente da
Sadia, Furlan tem uma história de
êxito em exportações, com a conquista de novos mercados.
A dificuldade para montar o ministério tem levado Lula a pensar
em usar o Planejamento como
uma pasta de composição política
light. Leia-se: o ocupante seria afinado com idéias petistas, apesar
de pertencer a um partido aliado.
Além de Carlos Lessa, também estão cotados Luiz Gonzaga Beluzzo
e Luciano Coutinho. Coutinho
ainda é lembrado para o BNDES.
Colaboraram KENNEDY ALENCAR, enviado especial a WASHINGTON, e MARCIO AITH, de WASHINGTON
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