São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Lula quer Lessa no Planejamento e Simon nos Transportes; Luiz Furlan, da Sadia, pode ir para o Desenvolvimento

PT oferece duas pastas ao PMDB, que resiste

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A NOVA YORK
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao oferecer dois ministérios para o PMDB, o PT também tentou impor os nomes do economista Carlos Lessa para o Planejamento e do senador Pedro Simon (RS) para Transportes. O comando peemedebista resiste a aceitar o que foi definido como "prato feito" e ainda discute alternativas.
Outro problema para fechar a lista de ministeriáveis do PMDB e garantir o apoio do partido ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso é que o senador José Sarney (PMDB-MA), aliado a Lula desde o primeiro turno da eleição, está patrocinando o nome do deputado e médico José Aristodemo Pinotti (SP) para a Saúde.
Isso significa que o PT continua sob o fogo cruzado do PMDB, tentando contentar os dois lados do partido: o que faz oposição a Fernando Henrique Cardoso e apoiou Lula, e o comando formal do partido, aliado a FHC.
A oferta da pasta dos Transportes ao PMDB também gerou reações no PT, que acabaram levando ontem o novo presidente do partido, José Genoino, a dizer que no governo Lula não terá "fisiologismo" nem "toma-lá-dá-cá".
O PMDB comanda os Transportes desde o primeiro mandato de FHC e acabou alvo de acusações de irregularidades. A mais grave envolveu o recebimento de propina no pagamento de precatórios por funcionários do órgão.
Pelo passado polêmico do PMDB na pasta, o partido considera que o ministério está "estigmatizado", sem dinheiro e por isso discute pedir outra pasta ao PT. Entre as opções em análise pela sigla estão os ministérios da Agricultura e das Minas e Energia, mas o sonho peemedebista é a Saúde, um ministério que tem dinheiro e poder político.
Para o Planejamento, além de Carlos Lessa, outro nome cotado é o do economista Luiz Gonzaga Belluzo -ligado ao ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, que apoiou Lula na eleição, mas disputa com Temer o controle do PMDB de São Paulo.
No caso de Simon, ele é considerado digerível pela cúpula do PMDB, pois uniria o grupo dissidente e a cúpula. Além disso, Simon também agradaria ao grupo do senador José Sarney (AP), do qual ele foi ministro. Segundo peemedebista, Simon cabe em qualquer um dos ministérios do novo governo, seja nos Transportes, como propôs o PT, seja na Saúde, como gostaria o partido.
A preferência do PT por Lessa e Simon vazou antes do encontro dos petistas Antonio Palocci e José Genoino com o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), que já chegou para a conversa pronto a rejeitar o "prato feito". Quando Palocci se referiu ao nome de Lessa, Temer interrompeu: "Isso nós precisamos fechar antes no partido". Palocci nem chegou a falar, então, no nome de Simon.
No domingo à noite e ao longo da segunda-feira, Temer e o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), telefonaram para Nova York convocando os peemedebistas da comitiva de FHC à cidade para voltar hoje a Brasília.
O presidente do Senado, Ramez Tebet (MS), o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA), e o ex-assessor de FHC Moreira Franco (RJ) embarcaram ontem à noite e hoje vão se reunir com a cúpula. O objetivo é "bater o martelo" nos nomes do partido no governo com o próprio Lula, que retorna à noite do México.
Ontem à noite, integrantes da cúpula peemedebista diziam que nenhum dos nomes mencionados pelo PT, como Simon, Belluzzo e Lessa deve prosperar. A sigla precisa ainda contornar as resistências dos governadores eleitos Germano Rigotto (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE) à participação do PMDB no governo.
O PT deverá convidar o empresário Luiz Fernando Furlan, presidente do Conselho de Administração do Grupo Sadia, para ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. À frente da Sadia, Furlan tem uma história de êxito em exportações, com a conquista de novos mercados.
A dificuldade para montar o ministério tem levado Lula a pensar em usar o Planejamento como uma pasta de composição política light. Leia-se: o ocupante seria afinado com idéias petistas, apesar de pertencer a um partido aliado. Além de Carlos Lessa, também estão cotados Luiz Gonzaga Beluzzo e Luciano Coutinho. Coutinho ainda é lembrado para o BNDES.


Colaboraram KENNEDY ALENCAR, enviado especial a WASHINGTON, e MARCIO AITH, de WASHINGTON


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