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NO AR
Nos jardins
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
É a "photo-op", a oportunidade de foto, mais gasta do
planeta, há décadas. De primeiros-ministros a ditadores, os
protagonistas da história estão
sempre lá.
E era Lula quem cumprimentava George W. Bush, ambos
sentados, sorrindo, na Casa
Branca.
Havia algo de irreal na imagem, um estranhamento que vinha talvez de Lula ser um personagem que jamais se poderia
imaginar tão próximo do máximo poder.
Outra cena de causar estranhamento: a da coletiva nos jardins da Casa Branca, com Antonio Palocci e Aloizio Mercadante logo atrás, Marta Suplicy ao
lado, os homens de casacos pesados no frio da capital do império.
Nem de longe aquela figura
tão formal, de olhar concentrado, lembrava Lula, o metalúrgico, ou Lula, o eterno presidenciável. Nem nas palavras ele
lembrava.
Fazia as declarações mais
contidas, "foi além das expectativas", "a partir de janeiro podemos fazer uma reunião de cúpula" etc. Depois, no discurso no
clube de imprensa, parecia
FHC:
- Estou otimista. O Brasil
tem meios de superar as dificuldades e retomar o caminho do
crescimento sustentado... Meu
governo vai se pautar pela responsabilidade fiscal, pelo combate à inflação e pelo respeito
aos contratos.
E por aí foi. Só aqui e ali se pôde vislumbrar algo do Lula que
ele já foi. Ao dizer que falou com
Bush do Fome Zero. Ou ao comentar, falando de seu passado
uma última vez:
- Minha história tem sido de
luta contra o preconceito. Um
diálogo direto entre presidentes,
como o que tivemos, pode pavimentar o desenvolvimento das
relações...
Pavimentar desenvolvimento
das relações... Não é "o" Lula.
Trocaram.
Semanas atrás, a charge animada do Jornal Nacional trazia
Lula às voltas com problemas
-e FHC tentando entrar na
imagem, chamar atenção, num
canto, depois outro.
É o que segue fazendo, ao que
parece. Anteontem e ontem, lá
estava ele nos EUA, posando ao
lado do secretário-geral da
ONU, em "photo-op" de menor
impacto, mas bastante para os
telejornais. E sempre elogiando,
questionando, falando de Lula
sem parar.
Ontem, poucos cuidaram dele.
A Jovem Pan deu que tinha
"agenda livre", sem "compromissos para o dia, nem mesmo
encontros reservados com autoridades". Talvez um musical na
Broadway.
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