São Paulo, quarta-feira, 11 de dezembro de 2002

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PASSADO NO BC

Índices aplicados no período não foram superados desde então

Bodin operou altas taxas de juros

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um dado da biografia de Pedro Bodin alimenta resistências internas no PT à indicação de seu nome para presidir o Banco Central no governo Lula: em sua passagem pela diretoria de Política Monetária do BC, no governo Collor, Bodin operou taxas de juros que desde então não foram superadas.
Segundo a Folha apurou, isso representa um incômodo adicional para setores próximos à cúpula petista que já não aceitavam com facilidade a decisão de procurar um nome do mercado para o BC -Bodin é do Icatu.
A passagem de Bodin pelo BC vai de 31 de maio de 1991 a 30 de novembro de 1992. Ele fazia parte da equipe econômica comandada por Marcílio Marques Moreira, ministro da Economia, e Francisco Gros, presidente do BC.
Após os fracassos dos planos Collor e Collor 2 e a queda de Zélia Cardoso de Mello, a inflação voltava a sair do controle.
Nesse período de 18 meses, a taxa Selic foi, em média, de estratosféricos 38,3% anuais acima do IPCA, índice hoje usado para as metas de inflação do governo. No ano de 92, os juros reais acumulados foram de 35,3% -nos últimos 15 anos, a taxa anual que mais se aproximou desse recorde foi a de 26,7% em 99.
O choque de juros foi iniciado em setembro de 91, quando o governo iniciava a devolução dos cruzados novos bloqueados pelo Plano Collor. Temia-se um impulso maior da inflação.
Na época, como era muito difícil prever a variação dos preços, os juros frequentemente ficavam negativos, isto é, abaixo da inflação. A influência dos economistas heterodoxos, que relegavam a segundo plano os mecanismos tradicionais de controle da inflação, também contribuía para segurar as taxas do BC.
A gestão de Marcílio, Gros e Bodin marcou uma ruptura com a heterodoxia na política econômica brasileira. O novo discurso prometia recuperar a moeda com ajuste fiscal e juros altos, sem confiscos ou congelamentos. Os resultados do "Plano Nada", como foi apelidada a estratégia, foram modestos. Sem apoio político para reformas das contas públicas, restou ao governo "estabilizar" a inflação perto dos 20% mensais.
Mas a política de juros altos -mantida, com breves interrupções, até hoje- tinha outra finalidade, na qual o desempenho foi muito mais efetivo: atrair o capital externo, que na época vivia um período de euforia com os mercados ditos emergentes, e engordar as reservas em dólar do BC.
Contribuía para essa política a liberalização das transações do país com o resto do mundo, conduzida por Armínio Fraga, e os trabalhos de renegociação da dívida externa, a cargo do hoje ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Foi o crescimento das reservas em dólar do BC que permitiu, em 94, o lançamento do Plano Real, combinando a heterodoxia do câmbio fixo e a ortodoxia dos juros altos.


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