|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Declaração citará corrupção privada
DO ENVIADO ESPECIAL A MONTERREY
Por proposta do governo brasileiro, a declaração final da Cúpula
Extraordinária das Américas conterá parágrafo enfatizando a necessidade de tomar medidas para
coibir a corrupção também no setor privado. A formulação original, de iniciativa dos Estados Unidos, previa menção apenas à corrupção no setor público.
Os EUA queriam até que houvesse uma cláusula que abrisse caminho para expulsar países corruptos da OEA (Organização dos
Estados Americanos). A cláusula
foi rejeitada por 31 dos 34 participantes da cúpula, pela óbvia razão
de que é impraticável estabelecer
quem seria o juiz que decidiria
que país é corrupto a ponto de
merecer a expulsão.
Mas a rejeição se deu também
pelo temor de que a cláusula fosse
usada contra "países que não são
simpáticos aos Estados Unidos",
como diz Jorge Valero, o embaixador da Venezuela, o país da
OEA menos simpático aos EUA.
A proposta brasileira sobre corrupção inclui ainda a necessidade
de não oferecer abrigo a funcionários corruptos e/ou a seus corruptores (situados, quase sempre, no
setor privado). Menciona também a necessidade de facilitar a
recuperação dos ativos desviados
dos Tesouros públicos.
"É a primeira vez que aparece a
menção à corrupção no setor privado", festeja a embaixadora brasileira Vera Pedrosa, negociadora-chefe na cúpula de Monterrey.
O texto faz referência direta às
empresas nacionais, mas também
às transnacionais, precisamente
as que mais se envolveram em escândalos recentemente, desde a
Enron nos Estados Unidos até a
Parmalat na Itália.
Resolvida a linguagem a usar
nos parágrafos relativos à corrupção, os negociadores continuavam até o início da noite (horário
brasileiro, quatro horas à frente
do México) tentando eliminar outros pontos de divergência, que
nem são relevantes.
O caso da divergência em torno
da Alca (Área de Livre Comércio
das Américas) é típico: a cúpula
de Monterrey só vai acontecer
porque o presidente Lula aceitou-a condicionada a que a liberalização do comércio fosse deixada de
lado, em benefício da discussão
do problema social.
A condição foi aceita por todos,
e a delegação brasileira não vê,
por isso, razão para aceitar mais
que uma "menção genérica" ao
tema, como diz Vera Pedrosa.
Muito mais concreto é o parágrafo que pede a redução das medidas restritivas sobre remessas
de estrangeiros para seus países
de origem. Os latino-americanos
que vivem nos Estados Unidos
enviaram, em 2003, algo em torno
de US$ 32 bilhões a seus países. É
uma fonte de renda importante,
mas que tem um custo formidável, nos cálculos de John Maisto, o
embaixador dos EUA na OEA: em
média, US$ 12,50 para cada US$
100 remetidos.
A proposta norte-americana
previa até um cronograma de reduções e pedia que as ações concretas fossem apresentadas na cúpula seguinte, já marcada para
2005 na Argentina.
O trecho relativo ao combate ao
terrorismo, que foi outra causa de
divergências, foi resolvido na noite de sexta-feira, conforme a Folha informou ontem. Ficou na
"forma adequada", na avaliação
dos brasileiros. Ou seja, dirá que
esforços para combater o terrorismo devem ser feitos com mecanismos já existentes, sem criar nada novo.
Texto Anterior: Entenda o caso: Decisão de retaliar foi de juiz; governo não quis recorrer Próximo Texto: Dança dos ministros: Amaral diz que cai por contrariar interesses Índice
|