São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTROS

Demissionário afirma que área de ciência e tecnologia "tem anéis de poder onde não se mexe há anos"

Amaral diz que cai por contrariar interesses

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro demissionário Roberto Amaral (Ciência e Tecnologia) atribuiu sua saída do governo a "interesses contrariados" na comunidade científica. "Essa é uma área em que não se mexe há anos, criaram-se anéis de poder", disse.
O ministro não quis especificar a que setores se referia: "Pessoas, grupos que controlavam verbas universitárias havia muito tempo". Solicitado a citar um caso concreto de interesse contrariado, Amaral citou a descentralização do Pronex (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência).
"Há pessoas, grupos, que controlavam verbas universitárias havia muito tempo. Nós estamos fazendo um processo de federalização da ciência e tecnologia. Há pessoas que não compreendem isso", afirmou, sem citar nomes.
O ministro colocou o cargo à disposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sexta-feira passada e aguarda a volta do presidente sem muita expectativa de permanecer no cargo. Mas nega que o líder do PSB na Câmara, deputado Eduardo Campos (PE), esteja escolhido para substituí-lo.
Na audiência com Lula, o presidente autorizou Amaral a lançar um programa de bolsas de doutorado e mestrado. Após dez anos de congelamento, elas serão reajustadas a partir de 1º de fevereiro em 18%. Serão também concedidas mil novas bolsas, 30% das quais para Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
O programa também prevê a concessão de um adicional para os bolsistas de doutorado para o treinamento de professores de física, química e matemática de escolas públicas do ensino médio. O ministro pretende lançar o programa amanhã.
Após a conversa com Lula, Amaral evitou criticar seu partido, o PSB, que lhe retirou o apoio, e a reforma ministerial. Sua saída sempre foi dada como certa.
"O problema não é a reforma nem a política de reforma. É a forma como a imprensa trata a reforma. Como ela tem tratado, no caso, a tentativa de desestabilizar ministros", disse.
Amaral acredita que foi vítima de uma campanha de desestabilização, mas não culpa a comunidade acadêmica como um todo.
"Eu não confundo um dirigente [ou líder sindical] ou uma entidade representativa da comunidade científica com a comunidade", disse.

Reforma
Lula discutiu a reforma ministerial no sábado com os ministros Antonio Palocci (Fazenda), José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Luiz Dulci (Secretaria Geral), e o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), o presidente do PT, José Genoino (SP), e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Na reunião, foram discutidos vários cenários. Ontem à noite, Dirceu, Genoino e Mercadante deveriam se reunir com a cúpula do PMDB para acertar os nomes do partido, provavelmente dois, para a reforma, que deve ser anunciada na quinta-feira, na volta de Lula do México.



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