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NADA EXTRAORDINÁRIO
Nos últimos 15 anos, o Congresso Nacional foi chamado 17 vezes durante os períodos de recesso
Previdência pautou 5 convocações desde 96
VIRGILIO ABRANCHES
DA REDAÇÃO
Nos últimos 15 anos, as convocações do Congresso Nacional
não têm sido tão extraordinárias
quanto sugere o nome. Foram 17
desde a promulgação da Constituição de 1988. Dessas, em cinco
oportunidades a tramitação da
reforma da Previdência encabeçou a pauta. Todas nos últimos oito anos.
Neste mês, o Planalto anunciou
mais uma convocação para apreciar, entre outros itens, o tema da
previdência. Na sexta-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, José
Dirceu, confirmou que deputados
e senadores serão chamados para
discutir a PEC paralela -emenda
que alivia os efeitos da reforma já
aprovada sobre o funcionalismo.
Em apenas 4 dos últimos 15
anos -1989, 1990, 1994 e 2002-
o Legislativo não foi convocado
nenhuma vez. Nos outros, foi chamado, pelo menos em um momento, para tratar de assuntos
que não conseguiu resolver durante o período normal de trabalho. Em alguns casos, os parlamentares foram convocados até
três vezes no mesmo ano (veja
quadros nesta página).
A reforma da Previdência esteve
presente nas pautas de cinco chamadas extras: duas em 1996, uma
em 1997, uma em 1998 e uma em
julho do ano passado. Em 1992, a
previdência também foi tema de
uma pauta extraordinária, quando foi votado o aumento das contribuições previdenciárias.
Outros assuntos já conhecidos
também frequentaram as pautas
das convocações extraordinárias
em anos anteriores. A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito)
sobre o caso PC Farias e reforma
tributária são bons exemplos.
Recesso
Pelas normas dispostas no artigo 57 da Constituição, os deputados e senadores têm duas folgas
por ano. A primeira entre 1º e 30
de julho. A segunda, entre 16 de
dezembro e 14 de fevereiro. Cerca
de 90 dias de recesso.
Além da própria convocação, a
única ressalva sobre essas datas
-que também está explicitada
na Constituição- é no caso de o
Congresso não conseguir votar a
LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) antes de 15 de dezembro.
Neste caso, o Legislativo continua
funcionando automaticamente
até que ocorra a votação.
Os parlamentares teriam então
os 90 dias de descanso apenas na
teoria, porque na realidade trabalhariam mais do que isso devido
às frequentes convocações? Sim.
No entanto, na maioria das vezes
em que o Congresso é chamado
extraordinariamente, os deputados e senadores têm direito a receber, além do salário de R$
12.720, mais dois extras. No total,
uma nova convocação poderá
custar R$ 50 milhões aos cofres
públicos, segundo estimativa reservada do próprio governo.
"Anomalia"
Uma comparação entre o período de descanso dos deputados e
senadores brasileiros com o de
outras profissões no país dá uma
idéia da diferença. Para citar alguns exemplos: os servidores públicos e os oficiais do Exército têm
direito a 30 dias de férias. Os professores -dependendo do Estado em que trabalham e se lecionam na rede pública ou privada- têm, em média, de 40 a 50
dias de descanso. Até os juízes, categoria criticada por ter férias excessivamente longas, descansam
menos que os parlamentares: 60
dias por ano.
"É uma anomalia. Eu digo isso
com base na história. Quase todos
os anos o parlamento precisa ser
convocado", diz o deputado federal Walter Pinheiro (PT-BA), que
defende a redução do recesso dos
parlamentares para 45 dias ao
ano. "Nós [alguns parlamentares]
chegamos à conclusão de que o
Congresso não pode mais funcionar em nove meses."
O tratamento da redução do recesso do Congresso é delicado entre os parlamentares. A maioria se
diz favorável ao projeto e revela
que existe, nos bastidores, resistência entre os colegas.
"Modelo parlamentarista"
"Temos um sistema presidencialista, mas um modelo parlamentarista. Tudo precisa passar
pela Câmara e pelo Senado. Temos que nos conscientizar disso e
reduzir o tempo de recesso do
Congresso", explica o deputado
Inocêncio Oliveira (PFL-PE), primeiro vice-presidente da Câmara.
Oliveira também se diz favorável
à redução da folga para 45 dias e
ao não pagamento de salários extras no caso de convocação. No
entanto, com Congresso sendo
chamado pelo presidente Lula
agora em janeiro, o deputado afirma ser a favor do pagamento dos
salários a mais: "Está na Constituição. Nós vamos fazer o quê?"
Para o senador Marcelo Crivella
(PL-RJ), as autoridades devem
dar o exemplo. "No momento em
que pedimos esforços à sociedade, nós temos que dar o exemplo e
o Congresso está cada dia mais
consciente do exemplo que precisa dar ao país."
O senador Pedro Simon
(PMDB-RS) diz que "vê com simpatia" a redução do recesso e defende que nas convocações extraordinárias não sejam pagos salários extras aos parlamentares.
"Qualquer convocação deveria
ser gratuita porque os senadores
já recebem cinco passagens aéreas
por mês para se deslocar."
Os presidentes da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foram procurados para falar sobre o
tema, mas não se pronunciaram.
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