São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

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Líder tucano anuncia apoio a petista e abre crise no PSDB

Jutahy diz que bancada votará em Chinaglia para a Câmara e é contestado por colegas

Decisão de deputado atende a interesses de Serra e Aécio e vai contra as posições de Alckmin e FHC, que pregam atitude mais firme contra PT


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA

O líder do PSDB na Câmara, Jutahy Júnior (BA), anunciou ontem o apoio formal da bancada do partido ao petista Arlindo Chinaglia (SP) na disputa pela presidência da Casa. O anúncio gerou crise entre os tucanos.
A ação do PSDB, contudo, foi coordenada com o aval dos dois principais governadores da sigla, José Serra (SP) e Aécio Neves (MG). O acordo foi costurado com os petistas em três pontos: 1) afilhado político de Aécio, o deputado Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) deve assumir a vice-presidência da Casa; 2) o PT se comprometeu a não atrapalhar Serra a eleger o presidente da Assembléia de SP; 3) o governador Jaques Wagner (PT-BA) apoiaria o candidato de Jutahy para dirigir a Assembléia baiana e definiu uma disputa interna do PSDB.
Politicamente, o fato de o PSDB dar uma manifestação pró-Chinaglia enfraquece ainda mais as articulações de Aldo Rebelo (PC do B-SP) para se reeleger e consolida o favoritismo do petista na eleição.
O anúncio, no entanto, provocou protestos de tucanos alinhados ao ex-governador Geraldo Alckmin e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "O Jutahy não vai ao cinema sem a autorização do Serra", disse o deputado federal eleito José Aníbal (SP), hoje mais próximo do ex-governador Geraldo Alckmin. Fernando Henrique Cardoso também teria manifestado contrariedade com o apoio.
O líder do PSDB, por sua vez, afirma ter apenas "informado" a decisão a Serra. Segundo ele, o temor era de que o partido fosse "atropelado" no processo de escolha após o anúncio do PMDB em favor de Chinaglia.
Serra nega ter sido consultado sobre o teor da decisão. Aécio Neves está fora do país.

Princípios
Ao anunciar o apoio, Jutahy justificou a opção dizendo estar respeitando o princípio da proporcionalidade, pelo qual a maior bancada tem o direito de presidir a Casa. Segundo ele, como o PMDB abriu mão de disputar o cargo para apoiar o PT, não há razão para se opor.
"O PSDB está mantendo a tradição e a coerência no Parlamento. Estamos cumprindo o princípio da proporcionalidade, que irá criar um ambiente de distensionamento na Câmara", disse Jutahy ao fazer o anúncio em Vitória (ES), onde passa férias. A decisão sobre o rumo do PSDB só seria anunciada na véspera da eleição -dia 1º de fevereiro-, mas foi inesperadamente antecipada.
Jutahy, que transferirá o cargo no dia 30 para Antonio Carlos Pannunzio (SP), disse ter consultado a bancada por telefone. O PSDB elegeu 66 federais. Ele não informou quantos deputados foram contatados, mas disse, em Vitória, que a decisão refletia 100% da bancada.
"Eu não fui consultado. Outros não devem ter sido", disse Vanderlei Macris (SP). Gustavo Fruet (PR) reclamou da "forma e do momento" da decisão. "O PSDB está fazendo a defesa de um rolo compressor." Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM) também criticou: "Se eu fosse deputado, escolheria o Aldo por não concordar com as forças que o petista encarna".

Vôo
Após receber um telefonema de Jutahy avisando da decisão, Chinaglia fretou um jatinho e seguiu para a capital capixaba. Em vitória, ele e Jutahy chegaram no mesmo carro para o evento do anúncio de apoio.
"Esta decisão é um exemplo para a sociedade, mostra responsabilidade da Câmara com o apoio dos partidos, com as maiores bancadas. Será uma campanha suprapartidária", disse. E continuou: "Esta decisão não representa nenhum favor ou acordo com o governo".
O apoio do PSDB deu ainda mais força à candidatura de Chinaglia, que já contava com o aval do PMDB (90 deputados eleitos) e do PT (83 deputados). (SILVIO NAVARRO, LETÍCIA SANDER, CATIA SEABRA, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E VINÍCIUS BAPTISTA)

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