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DANÇA DOS MINISTROS
Titular da Integração Nacional vê "indústria da enchente" e discorda de visita a área afetada pelas cheias
Mesmo sem "apego ao cargo", Ciro diz que fica no ministério
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PPS), disse ontem que é seu costume dizer que
não tem "apego ao cargo", mas
que vai permanecer no governo.
Anteontem, em conversa com
congressistas da Paraíba, ele chegou a dizer que poderia "pegar o
boné" e ir embora. Relatou o caso
para o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, a quem sempre se refere
de maneira elogiosa -"desenvolvi grande afeição por ele". Segundo Ciro, Lula brincou com o caso.
Ciro relata ter havido uma discordância inicial sobre a necessidade de os ministros visitarem
áreas afetadas por enchentes.
"Os ministros ficarem viajando
muitas vezes serve apenas para
propaganda. E algumas vezes nós,
os ministros, viajando a esses locais acabamos subtraindo algumas responsabilidades das autoridades locais, que devem prestar
o socorro imediato", afirma Ciro.
A seguir, trechos da entrevista
de Ciro à Folha ontem à tarde:
Folha - O sr. ameaçou pedir demissão?
Ciro Gomes - De jeito nenhum.
Não estou de saída. Disse uma
coisa que foi noticiada fora do
contexto em que eu a pronunciei.
Numa conversa com a bancada
da Paraíba, disse a eles que não
pensassem que alguma pressão
poderia me derrubar. Não tenho
apego ao cargo. Se a bancada do
Nordeste acha que me enfraquecer é uma boa, está fazendo avaliação errada. Se quisesse, poderia
pegar o boné e ir embora.
Folha - Dizer que pode "pegar o
boné" não é uma frase ambígua?
Ciro - Eu sempre falo assim.
Sempre digo que não tenho apego
ao cargo.
Folha - Mas então alguém sempre
pode interpretar que o sr. quer sair
do governo, certo?
Ciro - Não, porque eu não disse
assim. O que eu digo é que este
meu lugar só tem uma compensação: estar ajudando um presidente que eu acredito ser a última esperança de minha geração. E também pela atenção que recebo do
presidente e a amizade entre nós,
que só aumenta a cada dia. Ocorre
que eu também tenho dito uma
coisa que pode desagradar a algumas pessoas: nem indústria da seca nem indústria da enchente.
Folha - O que o sr. quer dizer?
Ciro - Não acho correto entrar
nessa história de liberar R$ 20 milhões para esse município ou
aquele Estado. Anunciar esse tipo
de liberação é propaganda. R$ 20
milhões para quê? Precisa de projeto, de liberação dentro da lei.
Folha - Há dissonância entre o sr.
e parte da equipe ministerial que
cuida do caso das enchentes?
Ciro - Não, nenhuma. No princípio houve o entendimento de algumas pessoas de que deveríamos visitar imediatamente algumas áreas. Na frente do presidente, eu discordei. Na minha avaliação e pela minha experiência,
acredito que viagem aos locais
afetados, pelo simbolismo, só a do
presidente da República tem
grande importância. Os ministros
ficarem viajando muitas vezes
serve apenas para propaganda. E
algumas vezes nós, os ministros,
viajando a esses locais acabamos
subtraindo responsabilidades das
autoridades locais que devem
prestar o socorro imediato.
Folha - A Defesa Civil está sob sua
responsabilidade. Não houve tempo, não houve dinheiro ou o que
aconteceu para que o órgão estivesse sem condições de reagir?
Ciro - Encontrei a Defesa Civil
destruída. Havia 2.600 comitês locais em cidades. O Ministério da
Integração organizou mais 1.486.
Ocorre que as enchentes atingiram 644 municípios, e a Defesa
Civil entrou em colapso. Em 2005,
certamente estará mais aparelhada e a atuação será mais eficaz.
Folha - Como?
Ciro - No segundo mês da minha
gestão criamos o Centro Nacional
de Alerta e Aviso. Está quase
pronto para entrar em operação.
Além de uma central com número gratuito, um programa de
computador analisará as informações disponíveis para que possamos chegar antes dos desastres.
Folha - O sr. se reuniu com o presidente da República hoje. Ele comentou sobre sua frase do boné?
Ciro - Ele fez uma brincadeira.
Quando eu cheguei, ele disse: "Pô,
você vai pedir o boné?".
Folha - E o sr.?
Ciro - Brinquei de volta. Disse
que estava lá para pegar o boné
que havia deixado no dia anterior.
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