São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

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DANÇA DOS MINISTROS

Demissão de diretor permite saída honrosa do ministro; prefeito de Manaus foi sondado para a pasta

Cotado para sair, Adauto demite desafeto

HUMBERTO MEDINA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Num processo para dar ao ministro dos Transportes, Anderson Adauto, saída honrosa do posto, o diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), José Antônio Coutinho -desafeto de Adauto-, foi demitido ontem.
Ao mesmo tempo, o governo já articula com a cúpula do PL o nome que substituirá Adauto. O prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, é o preferido do governo e já foi convidado. Ele esteve no Planalto anteontem. Mas Nascimento reluta em deixar o cargo. Como seu vice se elegeu vice-governador, ele teria de deixar a prefeitura com o presidente da Câmara -o que poderia enfraquecer sua liderança em Manaus.
As alternativas mais fortes ontem eram o vice-governador de Minas, Clésio Andrade, que trocou o PFL pelo PL, e o deputado federal José Santana (PL-MG).
Presidente da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), Clésio é um nome do setor, mas isso também pesa contra, pelos interesses envolvidos na relação dos empresários com o governo. Já Santana tem o discreto apoio do vice-presidente, José Alencar, que tem sido ouvido por Lula. O deputado federal Sandro Mabel (GO) continua no páreo, mas sua chance diminuiu por não ter a simpatia da cúpula do governo.
Ontem à noite, a cúpula do governo discutia o momento da saída de Adauto. Havia chances de uma substituição imediata ou de que a mudança ocorresse até o início de março, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará sua base eleitoral, a cidade de Uberaba (MG). Adauto deverá disputar a prefeitura em outubro.
A queda de Coutinho foi divulgada no final da tarde de ontem pela assessoria de imprensa do ministro. Coutinho havia denunciado à Procuradoria Geral da República e à Controladoria Geral da União desvio de recursos do Bird (Banco Mundial) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) destinados à pasta. O ex-diretor-geral do Dnit fazia alusões indiretas à participação de Adauto nas irregularidades. O ministério disse que o dinheiro não foi "desviado": houve um remanejamento para priorizar o pagamento das obras prioritárias.
Desde o início da semana Adauto articulava a demissão de Coutinho -que, assim como ele, era ligado ao vice-presidente José Alencar. Apesar de ser hierarquicamente superior ao diretor do Dnit, Adauto não podia demiti-lo por conta própria, sem o aval do Palácio do Planalto. Caso não autorizasse a demissão de Coutinho, o Planalto deixaria Adauto em uma situação constrangedora.
Além de Coutinho, Adauto ainda tenta demitir Keiji Kanashiro, secretário-executivo do ministério. Kanashiro, porém, não deve cair. Se não pudesse demitir o diretor-geral do Dnit, Adauto na prática não estaria mais comandando as atividades executivas de seu ministério -como as obras de recuperação de estradas. O Dnit é um dos órgãos do governo com mais verbas: R$ 3,28 bilhões.
A relação entre o ministro e o diretor-geral do Dnit vinha piorando desde meados de 2003. O ministro reclamava da demora em substituir a equipe do Dnit e da lentidão na execução das licitações para obras em estradas.
Apesar da demissão, a nota divulgada ontem faz elogios à gestão do Dnit: "As licitações ganharam maior transparência, com participação de maior número de empresas, o que acabou gerando uma redução nos preços das obras, em média, de 25% abaixo dos preços até então praticados".


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