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DANÇA DOS MINISTROS
Demissão de diretor permite saída honrosa do ministro; prefeito de Manaus foi sondado para a pasta
Cotado para sair, Adauto demite desafeto
HUMBERTO MEDINA
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Num processo para dar ao ministro dos Transportes, Anderson
Adauto, saída honrosa do posto, o
diretor-geral do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes), José Antônio
Coutinho -desafeto de Adauto-, foi demitido ontem.
Ao mesmo tempo, o governo já
articula com a cúpula do PL o nome que substituirá Adauto. O prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento, é o preferido do governo e
já foi convidado. Ele esteve no
Planalto anteontem. Mas Nascimento reluta em deixar o cargo.
Como seu vice se elegeu vice-governador, ele teria de deixar a prefeitura com o presidente da Câmara -o que poderia enfraquecer sua liderança em Manaus.
As alternativas mais fortes ontem eram o vice-governador de
Minas, Clésio Andrade, que trocou o PFL pelo PL, e o deputado
federal José Santana (PL-MG).
Presidente da CNT (Confederação Nacional dos Transportes),
Clésio é um nome do setor, mas
isso também pesa contra, pelos
interesses envolvidos na relação
dos empresários com o governo.
Já Santana tem o discreto apoio
do vice-presidente, José Alencar,
que tem sido ouvido por Lula. O
deputado federal Sandro Mabel
(GO) continua no páreo, mas sua
chance diminuiu por não ter a
simpatia da cúpula do governo.
Ontem à noite, a cúpula do governo discutia o momento da saída de Adauto. Havia chances de
uma substituição imediata ou de
que a mudança ocorresse até o
início de março, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitará sua base eleitoral, a cidade
de Uberaba (MG). Adauto deverá
disputar a prefeitura em outubro.
A queda de Coutinho foi divulgada no final da tarde de ontem
pela assessoria de imprensa do
ministro. Coutinho havia denunciado à Procuradoria Geral da República e à Controladoria Geral
da União desvio de recursos do
Bird (Banco Mundial) e do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento) destinados à pasta. O
ex-diretor-geral do Dnit fazia alusões indiretas à participação de
Adauto nas irregularidades. O
ministério disse que o dinheiro
não foi "desviado": houve um remanejamento para priorizar o pagamento das obras prioritárias.
Desde o início da semana Adauto articulava a demissão de Coutinho -que, assim como ele, era ligado ao vice-presidente José
Alencar. Apesar de ser hierarquicamente superior ao diretor do
Dnit, Adauto não podia demiti-lo
por conta própria, sem o aval do
Palácio do Planalto. Caso não autorizasse a demissão de Coutinho,
o Planalto deixaria Adauto em
uma situação constrangedora.
Além de Coutinho, Adauto ainda tenta demitir Keiji Kanashiro,
secretário-executivo do ministério. Kanashiro, porém, não deve
cair. Se não pudesse demitir o diretor-geral do Dnit, Adauto na
prática não estaria mais comandando as atividades executivas de
seu ministério -como as obras
de recuperação de estradas. O
Dnit é um dos órgãos do governo
com mais verbas: R$ 3,28 bilhões.
A relação entre o ministro e o
diretor-geral do Dnit vinha piorando desde meados de 2003. O
ministro reclamava da demora
em substituir a equipe do Dnit e
da lentidão na execução das licitações para obras em estradas.
Apesar da demissão, a nota divulgada ontem faz elogios à gestão do Dnit: "As licitações ganharam maior transparência, com
participação de maior número de
empresas, o que acabou gerando
uma redução nos preços das
obras, em média, de 25% abaixo
dos preços até então praticados".
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