São Paulo, quinta-feira, 12 de fevereiro de 2004

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NO AR

"É do Brasil"

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

O Jornal Nacional fez uma série de reportagens sobre cultura brasileira durante a última semana.
É parte de alguma campanha da Rede Globo -campanha que prossegue com seminário de diretores, atores, telenovelistas e outros globais a partir de hoje, em São Paulo.
As reportagens retratam o que é cultura nacional, no entender da emissora dominante. Para definir cultura, de cara, foram entrevistar a atriz de novelas Carolina Ferraz:
- O que faz a cultura de um povo é a língua que ele fala, o que ele veste, a música que ele escuta.
Passa um dia e, como exemplo do "ótimo negócio" da cultura, o JN registra:
- Tudo começou com Jorge Amado, batendo à máquina. Era 1958, e a vida de Gabriela começou a encantar o Brasil. Do livro para a TV.
Para a telenovela, quer dizer. E a partir daí:
- Onde quer que Gabriela apareça, o mundo reconhece: é do Brasil.
Passa mais um dia e a coisa se escancara. O assunto agora é a cultura na TV, melhor dizendo, nas novelas da Globo. E o JN não economiza:
- É o maior complexo de TV da América Latina. Instalada num terreno com mais de um milhão de metros quadrados, a Central Globo de Produção abriga as cidades cenográficas, ou seja, os cenários das novelas e séries, além de dez estúdios e 15 módulos de produção. Uma fábrica de emoções que, no ano passado, produziu mais de 2.600 horas, equivalentes a mais de mil longas-metragens. Todos os programas foram exibidos no Brasil e também no exterior. A Globo exporta para mais de 60 países, da Rússia ao México, da Grécia ao Canadá.
E por aí foi, infindavelmente. Ouviu-se, do ator de novelas Marcos Palmeira:
- De repente você está dando autógrafo até para uma pessoa do Uzbequistão.
A propaganda travestida se manteve por mais dois dias. Num deles, a atriz de novelas Giovanna Antonelli foi levada a falar do que gosta, na cultura brasileira:
- Eu gosto de forró, adoro forró.
E o diretor Daniel Filho, da Globofilmes, surgiu para tratar do cinema:
- Queremos que o público brasileiro venha ver o cinema brasileiro.
Toda reportagem, durante a semana toda, terminava com o mesmo bordão:
- É a cultura que faz a cara do Brasil.
Troque "cultura" por "Globo" e a mensagem fica mais clara.


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