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Funai pede à PF que investigue canibalismo
Apoiado nos relatos de duas testemunhas, delegado de Envira vai pedir a prisão preventiva de cinco índios suspeitos do crime
Chefe do posto da Funai
diz que o rapaz e os índios
estavam embriagados, e
que uns "falam que a vítima
mexeu com um garota"
CÍNTIA ACAYABA
DA AGÊNCIA FOLHA
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
A Funai vai pedir à Polícia
Federal que assuma as investigações sobre o assassinato de
um jovem não-índio de 21 anos
em uma aldeia da etnia culina,
em Envira (AM). O procurador
da Funai em Manaus já está
elaborando o pedido à PF.
A polícia afirma que ao menos cinco índios culinas são
suspeitos de matar o jovem e de
comer seus órgãos. Outros dois
índios disseram à polícia que
testemunharam o crime. O delegado de Envira disse que pedirá a prisão preventiva dos
suspeitos até o final da semana.
No último dia 3, a vítima,
Océlio de Carvalho, conduzia
um boi quando foi convidado
pelos índios para ir até a aldeia
Cacau, a 5 km do centro de Envira, de acordo com relato de
testemunhas ao sargento da
PM José Carlos da Silva, que
exerce a função de delegado.
Segundo Silva, os índios disseram que o jovem levou no mínimo 80 facadas. Depois, os culinas partiram o corpo em dois
e comeram o fígado, o coração e
parte da coxa: "Dois índios que
se recusaram a matar disseram
que os órgãos foram comidos
com uma espécie de farofa. Um
desses índios pediu para que
não matassem o rapaz, e está
sendo ameaçado de morte".
O relatório do chefe do posto
da Funai de Eirunepé (150 km
de Envira), Paulo Rodrigues
Hayden, que afirma ter ido à aldeia no dia seguinte ao crime,
diz que no local "foram encontrados restos mortais da vítima". Segundo o relato de Hayden, "o cacique estava muito
triste com o acontecimento e
que todos falaram os nomes
dos envolvidos no assassinato".
De acordo com o relatório, os
índios e a vítima "estavam embriagados, e a vítima costumava estar sempre junto a eles em
tragos de bebida". Sobre o possível motivo do crime, Hayden
diz que uns "falam que a vítima
mexeu com um garota e falaram de vingança": "Também levantaram a hipótese de que estariam fazendo isso para chamar a atenção do governo federal para o descaso e abandono".
Segundo a Funai, não existe a
prática de antropofagia entre
os povos indígenas no Brasil
contemporâneo: as únicas referências datam da era colonial.
Os culinas não são considerados isolados e têm contato com
não-índios desde o século 19.
Ontem, o sargento pediu reforços à Secretaria da Segurança: o município, de 16,4 mil habitantes, só tem cinco policiais.
Silva alega que há um clima de
revolta após o crime. Desde outubro a cidade não tem juiz.
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