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São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2003

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AGENDA PETISTA

Mercadante elogia "grande contribuição" do governo anterior

PT reconhece ter errado ao não apoiar reformas de FHC

GUSTAVO PATÚ
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo assumiu ontem o que considerou erros do PT nos tempos de oposição e elogiou propostas da gestão anterior, de Fernando Henrique Cardoso, numa estratégia para consolidar o apoio do PSDB e do PFL às reformas previdenciária e tributária.
Quem desenvolveu o novo discurso com maior eloquência foi o líder do governo no Congresso, senador Aloizio Mercadante (PT-SP), durante sessão da Comissão de Assuntos Econômicos convocada para ouvir os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Guido Mantega (Planejamento).
"A oposição [na época de FHC] não ajudou a aprovar as reformas -e errou", disse Mercadante, mesmo ressalvando que, minoritários no Congresso, os partidos oposicionistas de então não podem ser responsabilizados pelo fracasso das reformas.
A intervenção de Mercadante teve o objetivo de interromper uma polêmica que se iniciava entre os dois ministros presentes e o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Os dois lados trocavam acusações por causa da crise econômica.
Seguia-se um roteiro que se repete desde a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais: tucanos e pefelistas apontam que o PT foi contra a política econômica e as reformas, em especial a da Previdência; os petistas relembram o crescimento da dívida pública e a falta de empenho de FHC na aprovação da reforma tributária.
"Em vez de ficar buscando responsabilidades, temos de discutir o que tem de ser feito", disse Mercadante, que assumiu sem meias palavras a revisão do pensamento do PT. "Se nosso discurso fosse tão bom, não teríamos perdido duas eleições." E foi além, ao dizer que "seguramente o governo anterior deu uma grande contribuição à agenda do país", referindo-se às reformas propostas.
A estratégia é clara: busca-se esvaziar a única tecla que a oposição a Lula achou para bater até o momento. Como PSDB e PFL não podem se opor às reformas que defenderam no passado, apontam as incoerências dos petistas.
Palocci, muito cobrado pelos senadores, também fez a sua autocrítica explícita. "Tenho tranquilidade em assumir meus erros. Não fico ressaltando isso para não tirar assunto da oposição", disse. Mantega foi um pouco mais relutante: "Admito e me redimo dos meus erros assim que for necessário".
Apesar de tucanos e pefelistas insistirem nas críticas, a atitude governista surtiu efeitos -houve elogios aos ministros e promessas de apoio às reformas.
"Não estou aqui para discutir os erros do passado; o que nós temos de evitar são os erros do presente e do futuro", disse Romero Jucá (PSDB-RR), praticamente repetindo Mercadante.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), se disse favorável à proposta de reforma tributária, mencionando apenas a preocupação -que seu partido elegeu como plataforma no Congresso- "com o contribuinte". Palocci concordou. A pedido de Mercadante, o ministro expôs, com mais detalhes, o projeto do governo para alterar o sistema nacional de impostos, cujos pontos principais foram negociados em reunião com os 27 governadores.
Pretende-se reduzir a carga tributária sobre os mais pobres; unificar a legislação do ICMS, principal imposto estadual; reduzir os tributos que incidem em várias etapas do processo produtivo; e eliminar, de forma gradual, a contribuição previdenciária sobre a folha de salários.


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