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AGENDA PETISTA
Mercadante elogia "grande contribuição" do governo anterior
PT reconhece ter errado ao não apoiar reformas de FHC
GUSTAVO PATÚ
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo assumiu ontem o
que considerou erros do PT nos
tempos de oposição e elogiou
propostas da gestão anterior, de
Fernando Henrique Cardoso, numa estratégia para consolidar o
apoio do PSDB e do PFL às reformas previdenciária e tributária.
Quem desenvolveu o novo discurso com maior eloquência foi o
líder do governo no Congresso,
senador Aloizio Mercadante (PT-SP), durante sessão da Comissão
de Assuntos Econômicos convocada para ouvir os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e
Guido Mantega (Planejamento).
"A oposição [na época de FHC]
não ajudou a aprovar as reformas
-e errou", disse Mercadante,
mesmo ressalvando que, minoritários no Congresso, os partidos
oposicionistas de então não podem ser responsabilizados pelo
fracasso das reformas.
A intervenção de Mercadante
teve o objetivo de interromper
uma polêmica que se iniciava entre os dois ministros presentes e o
líder do PSDB no Senado, Arthur
Virgílio (AM). Os dois lados trocavam acusações por causa da crise econômica.
Seguia-se um roteiro que se repete desde a vitória de Luiz Inácio
Lula da Silva nas eleições presidenciais: tucanos e pefelistas
apontam que o PT foi contra a política econômica e as reformas,
em especial a da Previdência; os
petistas relembram o crescimento
da dívida pública e a falta de empenho de FHC na aprovação da
reforma tributária.
"Em vez de ficar buscando responsabilidades, temos de discutir
o que tem de ser feito", disse Mercadante, que assumiu sem meias
palavras a revisão do pensamento
do PT. "Se nosso discurso fosse
tão bom, não teríamos perdido
duas eleições." E foi além, ao dizer
que "seguramente o governo anterior deu uma grande contribuição à agenda do país", referindo-se às reformas propostas.
A estratégia é clara: busca-se esvaziar a única tecla que a oposição
a Lula achou para bater até o momento. Como PSDB e PFL não
podem se opor às reformas que
defenderam no passado, apontam as incoerências dos petistas.
Palocci, muito cobrado pelos senadores, também fez a sua autocrítica explícita. "Tenho tranquilidade em assumir meus erros. Não
fico ressaltando isso para não tirar
assunto da oposição", disse. Mantega foi um pouco mais relutante:
"Admito e me redimo dos meus
erros assim que for necessário".
Apesar de tucanos e pefelistas
insistirem nas críticas, a atitude
governista surtiu efeitos -houve
elogios aos ministros e promessas
de apoio às reformas.
"Não estou aqui para discutir os
erros do passado; o que nós temos
de evitar são os erros do presente
e do futuro", disse Romero Jucá
(PSDB-RR), praticamente repetindo Mercadante.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), se disse favorável à
proposta de reforma tributária,
mencionando apenas a preocupação -que seu partido elegeu
como plataforma no Congresso- "com o contribuinte". Palocci concordou. A pedido de
Mercadante, o ministro expôs,
com mais detalhes, o projeto do
governo para alterar o sistema nacional de impostos, cujos pontos
principais foram negociados em
reunião com os 27 governadores.
Pretende-se reduzir a carga tributária sobre os mais pobres; unificar a legislação do ICMS, principal imposto estadual; reduzir os
tributos que incidem em várias
etapas do processo produtivo; e
eliminar, de forma gradual, a contribuição previdenciária sobre a
folha de salários.
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