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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Para Promotoria, evidências reforçam a denúncia de Rogério
Buratti sobre pagamento de propina durante a gestão Palocci
Gravação indica que empreiteira pagava mesada em Ribeirão
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Depoimentos e gravações telefônicas em poder do Ministério
Público Estadual e da Polícia Civil
indicam, segundo os responsáveis
pela investigação, que a empreiteira Leão Leão enviava dinheiro
para alguém na Prefeitura de Ribeirão Preto durante as administrações dos petistas Antonio Palocci e Gilberto Maggioni.
O material traz novos indícios
da existência do suposto esquema
de propina denunciado pelo advogado Rogério Tadeu Buratti,
que foi secretário de Governo de
Palocci de 1993 a 1994. Segundo
ele, a Leão Leão enviava a Palocci
uma propina mensal de R$ 50 mil
entre 2001 e 2002 -o que é negado pelo ministro da Fazenda.
Até agora, havia provas de fraudes nas medições do serviço de
limpeza urbana -que inflavam
os pagamentos da prefeitura à
Leão Leão- e saques suspeitos
nas contas da empresa. As novas
evidências indicam o suposto retorno do dinheiro às mãos de integrantes da administração petista -hipótese que também foi
contestada pelo atual ministro.
Essa nova linha de investigação
teve início com o segundo depoimento de Buratti -que foi vice-presidente do grupo Leão-, em
fevereiro deste ano. Na ocasião,
Buratti detalhou o trajeto da suposta propina da empresa à prefeitura comandada por Palocci e,
a partir de 2002, por Maggioni.
A transcrição do depoimento de
Buratti afirma que "o Ralf [Barquete, ex-secretário da Fazenda
de Palocci, morto em 2004] ia
apanhar na empresa o envelope
com o dinheiro, entretanto, não
havia uma pessoa determinada
para a entrega desse montante;
que, excepcionalmente, alguém
da empresa levava esse valor até a
Secretaria da Fazenda".
Após um minucioso reexame
das provas obtidas nos dois anos
de investigação, os promotores
encontraram uma conversa telefônica de julho de 2004, interceptada com autorização da Justiça,
entre Wilney Barquete, então presidente da Leão Ambiental (braço
da Leão Leão especializado em
limpeza), e sua secretária Fernanda Raphael Borges revela remessas mensais de dinheiro que tinham como destino a prefeitura.
A gravação dura exatos três minutos e dezoito segundos. Os dois
falam da agenda para o próximo
dia. Em determinado momento, a
secretária pergunta ao chefe se
pode mandar "aquele envelope"
que encaminhava "para lá todo
mês". Wilney autoriza o envio.
O "lá", segundo os promotores
e a polícia, era o Daerp (Departamento de Água e Esgoto de Ribeirão Preto), autarquia da prefeitura então administrada por Isabel
Bordini, responsável pelos contratos de limpeza com a Leão
Leão. Após a descoberta da gravação, os promotores intimaram as
secretárias citadas por Buratti.
O promotor Aroldo Costa Filho
ouviu Fernanda e mostrou a ela a
gravação da conversa com Wilney. A secretária confirmou que
era enviado dinheiro à prefeitura
todos os meses, em um envelope,
mas disse que deveria ser um valor pequeno e destinado a campanha do projeto "Lixo Útil" (coleta
seletiva). Fernanda disse ter enviado o dinheiro só uma vez, a da
gravação, e que nos outros meses
a tarefa era de Wilney. Questionada, ela disse não ter certeza sobre
o destino do dinheiro, mas que
chegara àquela conclusão porque,
fora a campanha do lixo, não sabia de "outro motivo que pudesse
justificar a entrega de tal doação".
Não demorou para que a versão
da secretária fosse contrariada.
Dias depois, o Ministério Público
ouviu o empresário Carlos Alberto Ferreira Leão: ele foi enfático ao
dizer que esse não era um procedimento da empresa. "A Leão
Leão não colabora com doações
em dinheiro para o Daerp, nem
mesmo para o custeio da campanha Lixo Útil", diz o empresário,
que em 2004 se desligou do grupo.
À Folha, o empresário manteve
a versão e disse que não descarta a
possibilidade de ter havido pagamento de propina sem ele saber:
"É ilógico, mas é possível".
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