São Paulo, domingo, 12 de março de 2006

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JANIO DE FREITAS

As duas visões

Entre a numerosa ação do Exército em busca dos seus dez fuzis e a expectativa daí surgida na população, mesmo fora do Rio, interpõem-se duas constatações.
A primeira delas, é a difusão pela TV e por vários jornais da convicção, que sabem infundada, de que o Exército enfim decidiu-se a dar um basta à criminalidade enraizada nas favelas. O noticiário da ação militar está sobrecarregado de exageros, de imagens preparadas por fotógrafos e cameramen, de títulos e textos produzidos nas redações com finalidade sensacionalista. É um mau momento -mais um- do jornalismo que se baseia em uma infinidade de fotos, cujo sentido jornalístico não importa (quantas vezes por dia você vê a cara de sempre de Antonio Palocci, Lula, Mercadante e outras dessas novidades?) e no menor número de textos, tão esparramados quanto possível para ocupar o máximo de espaço.
Até agora, o Exército não modificou o objetivo limitado de sua operação: recuperar os fuzis e a pistola levados do seu quartel, e nada mais. Para quem estranhe a extensa operação por um objetivo tão limitado: causou especial indignação na caserna a surra que os assaltantes deram até em um oficial de serviço no quartel. Foi considerada desafio aos brios da classe.
A outra constatação está na divergência entre as dimensões dadas à operação militar e suas características de ação desorientada. Pela cidade afora, uma dispersão de presença e de atividades sem proveito algum. Nas favelas, a ausência de ação incisiva, mesmo que fosse só à cata dos fuzis roubados, e não para dizimar quadrilhas.
A operação militar nas favelas e outros pontos do Rio está longe da operação militar nas telas de TV e nas páginas de muitos dos jornais.

Ética e ótica
As absolvições dos deputados Roberto Brant e Luizinho provocaram a conclusão, tanto de jornalistas e como de "cientistas" políticos, de que tal resultado decorreu de acordão entre PT e oposicionistas. O Conselho de Ética, que sugerira as cassações de ambos, foi declarado "sem razão de continuar existindo" (deputado Cézar Schirmer, seu integrante) e desmoralizado pelo plenário da Câmara (afirmação de muitos parlamentares e outros).
Se o plenário tem que reproduzir a decisão do Conselho de Ética, para que a votação no plenário? Quando se estabeleceram duas instâncias de decisão, foi para permitir a divergência e, nesse caso, a predominância do plenário sobre uma pequena comissão. O sistema, em si, não é antidemocrático, nem deu motivo às críticas que o alvejaram com visões casuísticas.
Por mim, não sei de evidências convincentes de acordão para as duas absolvições. Merecedora de escândalo e reações pesadas, no entanto inexistentes, a absolvição em dezembro do deputado petebista Romeu Queiroz, que recebeu R$ 452 mil do esquema de mensalão, foi dada até como "resultante do clima de Natal". E ali havia indícios eloquentes do negado "mensalão".
O que explica a absolvição de Roberto Brant está no seu discurso, um improviso que lembrou o tempo dos parlamentares-tribunos, espécie da qual talvez não haja mais de uns três exemplares nesse Congresso culturalmente tão desqualificado. O discurso foi ouvido por um plenário como há muito tempo não se via: todos os deputados em suas cadeiras, atentos, silenciosos, sem aquele bando de batedores de papo que ficam em pé diante da Mesa, melhores quando ausentes da Casa do que se presentes. Roberto Brant pulverizou o relatório da acusação. E os efeitos do seu discurso estenderam-se a Luizinho.
Esses dois casos, por suas peculiaridades, não são representativos de acordão, que pode ter ocorrido antes e voltar a ocorrer. Quem absolveu o Romeu Queiroz de quase meio milhão, dificilmente condenaria o Luizinho de R$ 20 mil. E Roberto Brant, que só chegou à fogueira porque a agência publicitária da Usiminas era a empresa de Marcos Valério, autorizada a repassar a contribuição da siderúrgica ao PFL mineiro, sempre foi tido como caso de absolvição certa.

Os imperiosos
A escolha do candidato do Partido da Social Democracia Brasileira virou uma exibição patética. Não é partidariamente legítima, não é democrática e, com tantos almoços e jantares, só é mesmo social.


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