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JANIO DE FREITAS
As duas visões
Entre a numerosa ação do
Exército em busca dos seus
dez fuzis e a expectativa daí surgida na população, mesmo fora do
Rio, interpõem-se duas constatações.
A primeira delas, é a difusão pela TV e por vários jornais da convicção, que sabem infundada, de
que o Exército enfim decidiu-se a
dar um basta à criminalidade
enraizada nas favelas. O noticiário da ação militar está sobrecarregado de exageros, de imagens
preparadas por fotógrafos e cameramen, de títulos e textos produzidos nas redações com finalidade sensacionalista. É um mau
momento -mais um- do jornalismo que se baseia em uma infinidade de fotos, cujo sentido jornalístico não importa (quantas
vezes por dia você vê a cara de
sempre de Antonio Palocci, Lula,
Mercadante e outras dessas novidades?) e no menor número de
textos, tão esparramados quanto
possível para ocupar o máximo
de espaço.
Até agora, o Exército não modificou o objetivo limitado de sua
operação: recuperar os fuzis e a
pistola levados do seu quartel, e
nada mais. Para quem estranhe a
extensa operação por um objetivo
tão limitado: causou especial indignação na caserna a surra que
os assaltantes deram até em um
oficial de serviço no quartel. Foi
considerada desafio aos brios da
classe.
A outra constatação está na divergência entre as dimensões dadas à operação militar e suas características de ação desorientada. Pela cidade afora, uma dispersão de presença e de atividades sem proveito algum. Nas favelas, a ausência de ação incisiva,
mesmo que fosse só à cata dos fuzis roubados, e não para dizimar
quadrilhas.
A operação militar nas favelas e
outros pontos do Rio está longe
da operação militar nas telas de
TV e nas páginas de muitos dos
jornais.
Ética e ótica
As absolvições dos deputados
Roberto Brant e Luizinho provocaram a conclusão, tanto de jornalistas e como de "cientistas" políticos, de que tal resultado decorreu de acordão entre PT e oposicionistas. O Conselho de Ética,
que sugerira as cassações de ambos, foi declarado "sem razão de
continuar existindo" (deputado
Cézar Schirmer, seu integrante) e
desmoralizado pelo plenário da
Câmara (afirmação de muitos
parlamentares e outros).
Se o plenário tem que reproduzir a decisão do Conselho de Ética, para que a votação no plenário? Quando se estabeleceram
duas instâncias de decisão, foi para permitir a divergência e, nesse
caso, a predominância do plenário sobre uma pequena comissão.
O sistema, em si, não é antidemocrático, nem deu motivo às críticas que o alvejaram com visões
casuísticas.
Por mim, não sei de evidências
convincentes de acordão para as
duas absolvições. Merecedora de
escândalo e reações pesadas, no
entanto inexistentes, a absolvição
em dezembro do deputado petebista Romeu Queiroz, que recebeu R$ 452 mil do esquema de
mensalão, foi dada até como "resultante do clima de Natal". E ali
havia indícios eloquentes do negado "mensalão".
O que explica a absolvição de
Roberto Brant está no seu discurso, um improviso que lembrou o
tempo dos parlamentares-tribunos, espécie da qual talvez não
haja mais de uns três exemplares
nesse Congresso culturalmente
tão desqualificado. O discurso foi
ouvido por um plenário como há
muito tempo não se via: todos os
deputados em suas cadeiras,
atentos, silenciosos, sem aquele
bando de batedores de papo que
ficam em pé diante da Mesa, melhores quando ausentes da Casa
do que se presentes. Roberto
Brant pulverizou o relatório da
acusação. E os efeitos do seu discurso estenderam-se a Luizinho.
Esses dois casos, por suas peculiaridades, não são representativos de acordão, que pode ter ocorrido antes e voltar a ocorrer.
Quem absolveu o Romeu Queiroz
de quase meio milhão, dificilmente condenaria o Luizinho de R$
20 mil. E Roberto Brant, que só
chegou à fogueira porque a agência publicitária da Usiminas era a
empresa de Marcos Valério, autorizada a repassar a contribuição
da siderúrgica ao PFL mineiro,
sempre foi tido como caso de absolvição certa.
Os imperiosos
A escolha do candidato do Partido da Social Democracia Brasileira virou uma exibição patética.
Não é partidariamente legítima,
não é democrática e, com tantos
almoços e jantares, só é mesmo
social.
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