São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2000


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MUDANÇA MINISTERIAL
Ex-ministro pede que Agílio Monteiro Filho, superintendente da PF, seja mantido no cargo
Gregori aponta identidade com Dias

OTÁVIO CABRAL
SILVANA DE FREITAS
da Sucursal de Brasília

Em sua primeira entrevista como ministro da Justiça, José Gregori, afirmou que não irá substituir José Carlos Dias, mas sucedê-lo. Declarou ainda que tem uma "identidade histórica" com Dias e que pretende "colher os frutos" do que o antecessor fez nos nove meses em que ficou na pasta.
"Em substância, não muda nada, porque minha identidade com José Carlos Dias não é apenas histórica, ela é permanente", discursou Gregori ontem à noite, ao lado de Dias, no ministério.
O novo ministro, porém, não descartou mudanças de nomes em sua equipe no ministério. Ele não quis confirmar a manutenção do diretor-geral da Polícia Federal, Agílio Monteiro Filho. Disse que só fala em nomes depois de ser reunir com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na mesma entrevista, José Carlos Dias fez um apelo para que Agílio permaneça no cargo. "Pelo país e pelo novo ministro."
Segundo a Folha apurou, Agílio chegou a colocar o cargo à disposição quando soube da saída de Dias, mas o ex-ministro pediu para que ele esperasse a nomeação do sucessor.
Gregori não quis comentar a disputa pelo comando das operações contra o narcotráfico entre o ministério e a Secretaria Nacional Antidrogas, principal motivo da saída de Dias. Porém, disse que se identifica com o ex-ministro, que defendia que a PF ficasse à frente das operações.
Gregori disse que pretende fazer "frutificar os sonhos que ele (Dias) acabou de dizer que semeou". Entre os "sonhos" enumerados momentos antes por Dias estava um combate eficaz ao tráfico de drogas pela PF.
O sucessor de Gregori na Secretaria de Direitos Humanos deverá ser o sociólogo paulista Oscar Vilhena, presidente do Ilanud, instituto da ONU (Organização das Nações Unidas) que estuda a criminalidade na América Latina.
Gregori soube de sua nomeação durante um encontro com o chanceler do Panamá e com a primeira-dama Ruth Cardoso, na Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, no mesmo andar do gabinete de Dias.
Após receber a notícia, por telefone, continuou na reunião até o fim. Depois da saída do chanceler, conversou por cerca de meia hora com a primeira-dama.
Dias voltou a atacar a interferência da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) na PF.
"Não podemos transigir com a direita e os reacionários", disse, sem especificar a quem se referia.
O ex-ministro criticou entrevista recente do secretário nacional Antidrogas, Walter Maierovitch, em que ele anunciou uma operação de combate ao narcotráfico na fronteira com a Bolívia.
"A irresponsabilidade dessa informação era absolutamente intolerável", disse. "Parece-me inconcebível que a política de combate a entorpecentes fosse tratada como estava sendo pela Senad."
O ex-ministro afirmou que "é absolutamente inadmissível que uma secretaria tente coordenar o trabalho da PF". Disse que pretendeu "dar um basta" ao criticar a entrevista e que espera uma transformação nessa política.
Dias elogiou José Gregori e disse que sugeriu o nome dele para a sua sucessão em conversa de duas horas com o presidente Fernando Henrique Cardoso.
O ex-ministro disse que retomará a atividade de advogado criminalista e que pretende participar das discussões sobre o novo Código Penal. "Não tenho o vício do poder. Para mim, o poder é instrumento de serviço, é um serviço público. Não sou político. Sou advogado e estava ministro."


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