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RIO
Na véspera, governador havia ameaçado o partido em busca de apoio integral; vice, só Benedita continua
PT deixa Garotinho e entrega os cargos
FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio
Depois de 15 meses de governo
e sete meses de desentendimentos, o PT deixou ontem o governo
de Anthony Garotinho (PDT),
que ajudou a eleger em 1998.
O anúncio do rompimento foi
feito pelo presidente do PT, José
Dirceu, ao final de uma reunião
de duas horas e meia com o governador e com outros líderes dos
dois partidos, no Palácio Laranjeiras (zona sul).
Foi a resposta do PT a Garotinho, que anteontem deu um ultimato e praticamente expulsou o
partido do governo, dizendo que
ou os petistas lhe davam apoio integral ou entregavam os cargos.
O líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa, Paulo Pinheiro, disse que Garotinho tentou repetir a proposta ontem, cobrando o retorno dos petistas à
base governista e apoio total.
O PT não aceitou. O presidente
do partido no Rio, Carlos Santana, disse que a vice-governadora
Benedita da Silva defendeu até o
fim a continuidade da aliança,
mas foi voto vencido.
Os secretários petistas Jorge Bittar (Planejamento) e Antônio Pitanga (Ação Social) entregaram
os cargos e prometeram ficar na
função até a nomeação dos substitutos. O terceiro secretário petista, Gilberto Palmares, do Trabalho, já havia se desincompatibilizado semana passada, para se
candidatar a vereador em outubro. O PT está entregando os cerca de 200 cargos que têm no governo. Garotinho estudava exonerar todos ontem mesmo.
O PDT comemorou o rompimento, porque se fortalece internamente no governo. "Não podíamos aceitar que deputados do
PT ficassem pedindo CPI contra o
governador", afirmou o secretário de Governo, Carlos Lupi.
Dirceu anunciou que a vice-governadora petista, Benedita da
Silva, continuaria no cargo e
manteria sua candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro.
O rompimento foi tratado por
Dirceu como uma "separação
amigável": "Vamos manter a nossa postura de independência e colaboração em tudo aquilo que é o
programa conjunto e vamos,
quando divergirmos, fazê-lo de
forma fraterna, seja no partido,
seja na bancada na Assembléia."
"Faço isso com tristeza, num dia
talvez pior da minha vida. Não
gostaria de sair desse governo,
mas não há mais condições políticas. Queremos manter uma relação com o PDT em nível nacional", afirmou Dirceu, que defendeu, desde a eleição, a aliança.
Dirceu afirmou que o PT não irá
para a oposição sistemática. A saída do governo será referendada
hoje em reunião extraordinária
do Diretório Regional do partido.
Diplomático, o presidente do
PT não comentou o ultimato de
Garotinho, elogiou a "integridade" do governador e a investigação solicitada por ele ao Ministério Público sobre as denúncias de
corrupção no secretariado.
Antes da reunião com Garotinho, na chegada ao Rio, Dirceu
chegou a dizer que o PT não poderia aceitar qualquer ultimato.
Ele passou duas horas com as lideranças petistas no Rio, quando
disse que a permanência no governo era insustentável. Os deputados afirmaram que não aceitariam "mordaça" de Garotinho.
Crises
Essa foi a quarta grande crise
entre Garotinho e o PT, que sempre reclamou de pouco espaço no
governo. Os desentendimentos
vieram a público em outubro do
ano passado, quando Garotinho
chamou o PT de "partido da boquinha", que estaria interessado
apenas em cargos.
Com isso, o grupo ligado a Carlos Santana deixou o governo. A
Articulação, tendência moderada
petista à qual pertence Benedita
da Silva, continuou no partido.
Neste ano, o PT voltou a criticar
o governo pela demissão do ex-coordenador da Segurança Luiz
Eduardo Soares. Fez uma nota
com exigências e ameaçou deixar
o governo. Da Articulação, surgiram denúncias contra Garotinho.
Há dez dias, o Diretório Regional se reuniu e decidiu romper
politicamente com o governo na
Assembléia Legislativa, mas permanecer nos cargos.
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