São Paulo, quarta-feira, 12 de abril de 2000


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RIO
Na véspera, governador havia ameaçado o partido em busca de apoio integral; vice, só Benedita continua
PT deixa Garotinho e entrega os cargos

FERNANDA DA ESCÓSSIA
da Sucursal do Rio

Depois de 15 meses de governo e sete meses de desentendimentos, o PT deixou ontem o governo de Anthony Garotinho (PDT), que ajudou a eleger em 1998.
O anúncio do rompimento foi feito pelo presidente do PT, José Dirceu, ao final de uma reunião de duas horas e meia com o governador e com outros líderes dos dois partidos, no Palácio Laranjeiras (zona sul).
Foi a resposta do PT a Garotinho, que anteontem deu um ultimato e praticamente expulsou o partido do governo, dizendo que ou os petistas lhe davam apoio integral ou entregavam os cargos.
O líder da bancada do PT na Assembléia Legislativa, Paulo Pinheiro, disse que Garotinho tentou repetir a proposta ontem, cobrando o retorno dos petistas à base governista e apoio total.
O PT não aceitou. O presidente do partido no Rio, Carlos Santana, disse que a vice-governadora Benedita da Silva defendeu até o fim a continuidade da aliança, mas foi voto vencido.
Os secretários petistas Jorge Bittar (Planejamento) e Antônio Pitanga (Ação Social) entregaram os cargos e prometeram ficar na função até a nomeação dos substitutos. O terceiro secretário petista, Gilberto Palmares, do Trabalho, já havia se desincompatibilizado semana passada, para se candidatar a vereador em outubro. O PT está entregando os cerca de 200 cargos que têm no governo. Garotinho estudava exonerar todos ontem mesmo.
O PDT comemorou o rompimento, porque se fortalece internamente no governo. "Não podíamos aceitar que deputados do PT ficassem pedindo CPI contra o governador", afirmou o secretário de Governo, Carlos Lupi.
Dirceu anunciou que a vice-governadora petista, Benedita da Silva, continuaria no cargo e manteria sua candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro.
O rompimento foi tratado por Dirceu como uma "separação amigável": "Vamos manter a nossa postura de independência e colaboração em tudo aquilo que é o programa conjunto e vamos, quando divergirmos, fazê-lo de forma fraterna, seja no partido, seja na bancada na Assembléia."
"Faço isso com tristeza, num dia talvez pior da minha vida. Não gostaria de sair desse governo, mas não há mais condições políticas. Queremos manter uma relação com o PDT em nível nacional", afirmou Dirceu, que defendeu, desde a eleição, a aliança.
Dirceu afirmou que o PT não irá para a oposição sistemática. A saída do governo será referendada hoje em reunião extraordinária do Diretório Regional do partido.
Diplomático, o presidente do PT não comentou o ultimato de Garotinho, elogiou a "integridade" do governador e a investigação solicitada por ele ao Ministério Público sobre as denúncias de corrupção no secretariado.
Antes da reunião com Garotinho, na chegada ao Rio, Dirceu chegou a dizer que o PT não poderia aceitar qualquer ultimato.
Ele passou duas horas com as lideranças petistas no Rio, quando disse que a permanência no governo era insustentável. Os deputados afirmaram que não aceitariam "mordaça" de Garotinho.

Crises
Essa foi a quarta grande crise entre Garotinho e o PT, que sempre reclamou de pouco espaço no governo. Os desentendimentos vieram a público em outubro do ano passado, quando Garotinho chamou o PT de "partido da boquinha", que estaria interessado apenas em cargos.
Com isso, o grupo ligado a Carlos Santana deixou o governo. A Articulação, tendência moderada petista à qual pertence Benedita da Silva, continuou no partido.
Neste ano, o PT voltou a criticar o governo pela demissão do ex-coordenador da Segurança Luiz Eduardo Soares. Fez uma nota com exigências e ameaçou deixar o governo. Da Articulação, surgiram denúncias contra Garotinho.
Há dez dias, o Diretório Regional se reuniu e decidiu romper politicamente com o governo na Assembléia Legislativa, mas permanecer nos cargos.


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