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ABC
Construtoras alegam concentração ilegal de obras e condenam a proibição de consórcios no processo
Licitações têm critérios contestados
FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local
A abertura das propostas de
uma concorrência de R$ 146,7 milhões, hoje, na Prefeitura de São
Bernardo do Campo, deverá trazer à tona as suspeitas de direcionamento de obras públicas, decididas às vésperas de eleições municipais, na região do ABC.
No próximo dia 27, a Prefeitura
de Santo André abrirá os envelopes de uma concorrência com características semelhantes, no total
de R$ 108,6 milhões, também para obras no sistema viário.
Dois sindicatos, o Sinduscon
(reúne empresas da construção
civil) e o Sinicesp (construção pesada), e quatro construtoras impugnaram os editais. Alegam
concentração ilegal de obras e serviços e condenam a proibição de
consórcios nas licitações, o que limita o número de participantes.
A Prefeitura de São Bernardo
não acolheu os recursos. Na última segunda-feira, o Sinduscon
impetrou mandado de segurança,
tentando suspender o certame. A
entidade repete o que fez, sem sucesso, em 1996, também numa
época que antecedeu eleições.
"Todos os sintomas levam a
imaginar que existe uma grande
armação, mas eu prefiro acreditar
que há, pelo menos, um grande
engano", diz Sérgio Porto, presidente do Sinduscon.
Como a contratação dessas
obras vem sendo renovada a cada
final de administração, teme-se
favorecimentos eleitorais e o
comprometimento do orçamento
da gestão seguinte. A execução
dos contratos é de longo prazo (48
meses, em Santo André).
Marco Túlio Bottino, diretor-executivo do Sinicesp, concorda
que o sistema pode sugerir o "dirigismo": "Os valores são significativos, num único edital, quando
várias licitações poderiam trazer
um número maior de empresas,
obtendo-se um preço menor."
Calendário eleitoral
Há componentes políticos na
disputa. São Bernardo do Campo
e Santo André têm prefeitos de
partidos de esquerda: Maurício
Soares (PPS) e Celso Daniel (PT),
respectivamente. Ambos pretendem concorrer à reeleição.
A favor deles não há comprovação de irregularidades na realização dos contratos com as empreiteiras e suas administrações receberam elevada aprovação popular nas últimas pesquisas.
Soares (com 46% das intenções
de voto) e Daniel (com 49%) lideram a corrida eleitoral, segundo
Pesquisa Datafolha realizada em
em março último.
Questiona-se, contudo, a concentração, numa única licitação,
de um pacote de obras simples,
como a pavimentação de vias, colocação de guias e sarjetas. São
serviços que poderiam ser contratados com um número maior de
empresas, a menor preço, se fossem feitas diversas licitações.
"É inaceitável que um governo
em final de mandato comprometa a próxima gestão, definindo
quais são as obras a serem executadas pelo próximo prefeito", diz
Eduardo Capobianco, vice-presidente do Sinduscon.
"O esquema cria uma "peneira",
permitindo que apenas um pequeno número de empresas participe", diz. Ele critica o fato de
uma administração do PT "impedir a participação de pequenas e
médias empresas, ao fazer exigências, como capital mínimo de R$
10 milhões, para obras simples.
"São aberrações inaceitáveis
num país democrático", diz.
Não há acusações formalizadas,
mas as especulações entre as empreiteiras sugerem que uma das
supostas beneficiadas com a concentração seria a Emparsanco -
ou empresas ligadas ao grupo.
A Emparsanco é radicada no
ABC e presta serviços a várias prefeituras da região. Em 1998, registrou patrimônio líquido de R$ 49
milhões, tendo realizado lucro líquido de R$ 4,2 milhões.
"Essas alegações, se existentes,
só podem partir da invencionice
ditada por alguma empresa que
tenha perdido alguma concorrência para a Emparsanco", disse à
Folha o advogado da construtora,
João da Costa Faria (ver texto nesta página).
Segundo ele, "o inconformismo
de alguma concorrente que tenha
perdido alguma licitação está resultando no propagar de notícias
sem qualquer fundamento".
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