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A NOVA CARA DO PT
Texto de Palocci traz desequilíbrio fiscal como causa da estagnação
Governo abandona idéias petistas, aponta documento
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O calhamaço de 95 páginas elaborado pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) com o plano
de ação de sua pasta tornou oficial
algo que ganhava forma desde a
campanha eleitoral -o pensamento econômico tradicional do
PT foi abandonado pelo governo.
O exemplo mais simples e esclarecedor é a reciclagem da promessa de "ruptura com o modelo econômico", feita pelo presidente
Luiz Inácio Lula da Silva durante
a campanha eleitoral, para arrepios do mercado financeiro.
No governo, o slogan, mais bem
explicado, ganhou uma nova conotação. "Ruptura com o passado
de ausência de disciplina fiscal",
prega o documento divulgado anteontem por Palocci.
Leia-se: o PT -ou ao menos
sua versão governista- não vê
mais um modelo de ortodoxia a
ser jogado no lixo; pelo contrário:
acha que os governos anteriores,
inclusive o do "neoliberal" Fernando Henrique Cardoso, pecaram justamente por terem sido pouco ortodoxos no controle das
contas públicas.
Há, de fato, vários números e argumentos para sustentar essa tese, a começar pela explosão da dívida pública nos anos FHC.
A novidade é um governo petista abraçar o diagnóstico de que a
causa fundamental da estagnação
econômica do país seja o desequilíbrio fiscal.
Mesmo em seus momentos de
maior moderação, o PT sempre
foi fiel ao diagnóstico econômico
histórico da esquerda latino-americana, segundo o qual o caminho
do crescimento no continente começa pela superação do déficit
nas transações com o exterior.
"O primeiro passo para crescer
é reduzir a atual fragilidade externa", diz o documento-síntese do
programa de governo de Lula, divulgado quando o PT já havia, na
"Carta ao Povo Brasileiro", se comprometido a honrar os contratos do país.
Agora, a nova visão: "O Brasil, para que possa retomar o crescimento econômico em bases sustentáveis, tem de sair da armadilha constituída pelo alto valor da
dívida (...). Nesse sentido, o novo governo tem como primeiro compromisso [grifo de Palocci] da política econômica a resolução dos
graves problemas fiscais que caracterizaram nossa história econômica", diz o documento do Ministério da Fazenda.
Linha de ação
Substituir o déficit externo pelo
déficit público como o grande vilão da economia brasileira corresponde a uma revolução não só de pensamento, mas das linhas de
ação programadas para o governo petista.
Não por acaso, em pouco mais de cem dias do mandato de Lula,
já existem metas definidas para o superávit primário (a economia
destinada a pagar juros da dívida) até 2006, enquanto iniciativas como o programa Fome Zero, principal bandeira social do governo
petista, e a política industrial ainda estão em estágio embrionário.
O documento de Palocci prevê nada menos que "a promoção de
um ajuste definitivo das contas
públicas", baseado nas reformas e
em cortes de despesas -aumentos de impostos estão oficialmente descartados.
O ajuste fiscal, diz a Fazenda,
elevará a "poupança nacional" e
"os recursos disponíveis para o
setor privado". Está implícita nessa visão a tese de que, dessa forma, se reduzirá também o déficit
externo, resultado da escassez de
poupança interna.
No programa de campanha do
PT, prevê-se caminho inverso:
atacando o déficit externo, estaria
aberto o caminho para a redução
dos juros e o crescimento.
O aumento da arrecadação e a
queda das despesas financeiras facilitariam então a queda do déficit
público.
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