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A NOVA CARA DO PT
Ministro diz que adoção do sistema de superávit variável só ocorrerá se houver "sustentabilidade inequívoca"
Palocci confirma aperto fiscal até 2005
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
A adoção do chamado superávit
fiscal contracíclico pelo governo
Luiz Inácio Lula da Silva só virá
em 2005, assim mesmo se se verificar que a relação entre a dívida
pública e o PIB (Produto Interno
Bruto, medida da renda de um
país) atingiu um "patamar de sustentabilidade inequívoca".
A informação é do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho,
que fez questão de dizer que se
tratava da palavra "do governo",
para acabar com a cacofonia de
vozes que andaram tratando do
assunto nos últimos dias.
O ministro deixou claro que o
governo não tem ainda a fórmula
exata que pretende adotar e que,
portanto, ela não será apresentada ao Fundo Monetário Internacional, durante a estada de Palocci
em Washington, para os encontros de primavera (do Hemisfério
Norte) do FMI/Banco Mundial.
O que o governo está lançando
é, sempre nas palavras do ministro da Fazenda, "a possibilidade
um debate público de longo prazo" sobre o assunto.
Superávit fiscal contracíclico é
um clássico instrumento de política econômica que se traduz simplificadamente no seguinte:
quando a economia vai bem, o
governo economiza mais (aumenta o superávit), até porque as
suas receitas aumentam. Quando
a economia derrapa, o governo
gasta mais, para estimulá-la e para minorar os danos sociais provocados pela estagnação.
A proposta consta do projeto de
LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2004 que será encaminhado ao Congresso Nacional.
Do ponto de vista teórico, a tese
é perfeitamente aceitável pelo
FMI, tanto que foi defendida anteontem pelo próprio diretor-gerente do Fundo, Horst Köhler.
"Estabilizadores"
Ao falar sobre a necessidade de
as economias avançadas orientarem suas políticas "vigorosamente" para o crescimento, Köhler sugeriu que os europeus deixassem
"os estabilizadores automáticos
operarem plenamente, mesmo
que isso leve a déficits acima do limite de 3% na Europa".
"Estabilizadores automáticos" é
uma outra forma de se referir a
mecanismos que permitam que o
gasto público funcione como estímulo econômico, em momentos
de anemia como o atual. O limite
europeu de 3% está estabelecido
em um tratado, o de Maastricht,
que pavimentou o caminho para
a adoção do euro, a moeda única
de 12 dos 15 países que integram
hoje a União Européia.
Se essa é a teoria que vale para o
mundo rico, no Brasil está virtualmente interditado o uso da palavra déficit, porque significaria aumentar a dívida pública e, por extensão, gerar a sensação de que acabará havendo um calote, o que
afasta investidores. É esse o argumento que fez o governo Lula
adotar a meta de um superávit fiscal primário (receitas menos despesas, excluídos os juros da dívida) de 4,25% do PIB, tanto para
este ano como para o próximo.
Se, como diz Palocci, os "indicadores continuarem a sorrir" para
a economia brasileira, aí sim será
possível eventualmente adotar esse mecanismo em 2005, de forma
que "o país não coloque o peso
sempre nas pessoas mais pobres".
Lógica
O ministro disse que havia gente, de fora do governo, que sugeria
adotar o mecanismo já em 2003, o
que tem toda a lógica: o crescimento nos quatro anos do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso foi anêmico, a ponto
de a renda per capita ter aumentado, na média anual, apenas 0,3%.
Mas houve unanimidade, no
governo, de que não havia condições de implantar um mecanismo
do gênero neste ano e de que seria
cedo para fazê-lo em 2004.
Ficou, portanto, para 2005, assim mesmo condicionado à evolução da economia. Na questão da
dívida, a evolução está sendo favorável, lembrou Palocci, na medida em que a relação com o PIB
caiu de 63,5% em setembro passado para os atuais 55%.
Mas não está nada claro se a redução tem a "sustentabilidade
inequívoca" que o ministro pede
para implantar o mecanismo.
Palocci disse também que não é
preciso discutir a questão com o
FMI, porque o acordo com o Fundo termina em setembro e não há
a intenção de renová-lo, a menos
que as circunstâncias obriguem o
governo a mudar de idéia.
Se não for renovado, não haverá, por extensão, metas de nenhuma natureza a cumprir, o que daria à adoção do mecanismo contracíclico o caráter de decisão autônoma do governo brasileiro. Se
for renovado, Köhler já deixou
claro que está disposto a ser flexível em matéria de gastos sociais,
mas não quer "truques" no Orçamento, para esconder passivos.
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