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São Paulo, sábado, 12 de abril de 2003

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CONTRA-REFORMA

Segundo petista, não se pode esperar a transformação de todas as variantes da política econômica após mudanças

João Paulo critica "fetiche" pelas reformas

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter dito que a aprovação das reformas tributária e previdenciária faria o Brasil avançar dez anos em poucos meses, o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), disse ontem em São Paulo que as reformas "não são uma panacéia para nossos problemas".
"Não equivale dizer que você vai fazer as reformas e a partir da aprovação já vamos ter condição de abaixar os juros, de aumentar o crédito, de mudar todas as variantes da política econômica. Claro que não. As reformas por si só não resolvem. São instrumento muito importante, mas por si só não resolverão os problemas", disse João Paulo, em encontro na Câmara Americana de Comércio.
Para o presidente da Câmara dos Deputados, criou-se o "fetiche" de que "a reforma é uma revolução, a reforma vai ter profundidade...". Não vai ser revolucionária nem terá profundidade, ele diz, até porque "não precisa ter".
"A reforma tributária, nós vamos escrever na Constituição duas ou três coisas, só. Deixar o restante para leis complementares ou ordinárias", disse João Paulo. "Precisamos tomar algumas medidas na área da reforma tributária que não significam a profundidade que muita gente gostaria, mas significam resultados precisos, importantes e profundos para o nosso país."
Também a reforma previdenciária, segundo ele, segue a característica "de não ser uma invenção da roda": "São coisas pontuais que geram uma economia importante para o Estado".
O governo tem insistido no discurso de que as reformas são fundamentais para que se faça a prometida "transição" para uma situação econômica com menores restrições e maiores possibilidades de crescimento.
João Paulo disse que as reformas "vão ajudar muito", mas insistiu que é preciso dizer que não se trata de uma panacéia (cura para todos os males).
"Senão, você fica passando a idéia de que, após as reformas, você pode ter uma mudança violenta no país, e na realidade é uma mudança lenta, gradual. É devagar. As reformas vão ajudar muito, mas precisa de outras coisas também. No Congresso você pode protocolar a reforma ideal, mas o que sai é a reforma possível", disse ele.
O presidente da Câmara afirmou acreditar que os aspectos constitucionais das reformas devem ser votados até agosto, e que, "se for necessário, a disposição da Câmara é trabalhar em julho".
Segundo ele, não haverá dificuldades para aprovação, pois "a maioria a favor das reformas é muito maior que a maioria do governo" -em referência ao provável apoio da oposição.
Ele disse que já procura pensar no "pós-reformas" porque é preciso apresentar "alguma coisa" ao país após sua aprovação. "O Brasil precisa ter uma política para se desenvolver."
A Câmara dos Deputados, ele disse, vai realizar seminários "para poder pensar esse país que todos nós queremos que apareça rapidamente".

Disputa política
Sobre a mudança de posição do PT -contra as reformas no governo Fernando Henrique Cardoso e hoje seu arauto-, João Paulo disse que o partido se opunha às mudanças por razões políticas, e não ideológicas.
"Claro que ficamos contra. Porque era o contexto da disputa política nacional. Não estávamos disputando só aquele ponto da reforma. Estávamos disputando o poder do país."
Segundo ele, reformas dentro do contexto maior do governo FHC "não serviam" para o PT.
Questionado se não temia que PSDB e PFL possam adotar posição semelhante e se opor às reformas do PT por razões políticas, ele disse que acharia "natural" caso a oposição agisse assim.
"Num sistema democrático é natural que você tenha forças políticas que contextualizem suas disputas", disse.


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