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CONTRA-REFORMA
Segundo petista, não se pode esperar a transformação de todas as variantes da política econômica após mudanças
João Paulo critica "fetiche" pelas reformas
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dia após o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ter dito que a
aprovação das reformas tributária e previdenciária faria o Brasil
avançar dez anos em poucos meses, o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), disse ontem em São Paulo que as reformas
"não são uma panacéia para nossos problemas".
"Não equivale dizer que você
vai fazer as reformas e a partir da
aprovação já vamos ter condição
de abaixar os juros, de aumentar o
crédito, de mudar todas as variantes da política econômica. Claro
que não. As reformas por si só não
resolvem. São instrumento muito
importante, mas por si só não resolverão os problemas", disse
João Paulo, em encontro na Câmara Americana de Comércio.
Para o presidente da Câmara
dos Deputados, criou-se o "fetiche" de que "a reforma é uma revolução, a reforma vai ter profundidade...". Não vai ser revolucionária nem terá profundidade, ele
diz, até porque "não precisa ter".
"A reforma tributária, nós vamos escrever na Constituição
duas ou três coisas, só. Deixar o
restante para leis complementares ou ordinárias", disse João Paulo. "Precisamos tomar algumas
medidas na área da reforma tributária que não significam a profundidade que muita gente gostaria, mas significam resultados
precisos, importantes e profundos para o nosso país."
Também a reforma previdenciária, segundo ele, segue a característica "de não ser uma invenção da roda": "São coisas pontuais que geram uma economia
importante para o Estado".
O governo tem insistido no discurso de que as reformas são fundamentais para que se faça a prometida "transição" para uma situação econômica com menores
restrições e maiores possibilidades de crescimento.
João Paulo disse que as reformas "vão ajudar muito", mas insistiu que é preciso dizer que não
se trata de uma panacéia (cura para todos os males).
"Senão, você fica passando a
idéia de que, após as reformas, você pode ter uma mudança violenta no país, e na realidade é uma
mudança lenta, gradual. É devagar. As reformas vão ajudar muito, mas precisa de outras coisas
também. No Congresso você pode protocolar a reforma ideal,
mas o que sai é a reforma possível", disse ele.
O presidente da Câmara afirmou acreditar que os aspectos
constitucionais das reformas devem ser votados até agosto, e que,
"se for necessário, a disposição da
Câmara é trabalhar em julho".
Segundo ele, não haverá dificuldades para aprovação, pois "a
maioria a favor das reformas é
muito maior que a maioria do governo" -em referência ao provável apoio da oposição.
Ele disse que já procura pensar
no "pós-reformas" porque é preciso apresentar "alguma coisa" ao
país após sua aprovação. "O Brasil precisa ter uma política para se
desenvolver."
A Câmara dos Deputados, ele
disse, vai realizar seminários "para poder pensar esse país que todos nós queremos que apareça rapidamente".
Disputa política
Sobre a mudança de posição do
PT -contra as reformas no governo Fernando Henrique Cardoso e hoje seu arauto-, João Paulo
disse que o partido se opunha às
mudanças por razões políticas, e
não ideológicas.
"Claro que ficamos contra. Porque era o contexto da disputa política nacional. Não estávamos
disputando só aquele ponto da reforma. Estávamos disputando o
poder do país."
Segundo ele, reformas dentro
do contexto maior do governo
FHC "não serviam" para o PT.
Questionado se não temia que
PSDB e PFL possam adotar posição semelhante e se opor às reformas do PT por razões políticas,
ele disse que acharia "natural" caso a oposição agisse assim.
"Num sistema democrático é
natural que você tenha forças políticas que contextualizem suas
disputas", disse.
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