|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OPOSIÇÃO TUCANA
Governador diz que, se Planalto não negociar, Congresso não aprovará reformas previdenciária e tributária
Aécio critica, cobra diálogo e desafia governo
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No dia em que recebeu o apoio e
a solidariedade da cúpula nacional do PFL, o governador Aécio
Neves (PSDB) mandou um recado ao Planalto afirmando que, se
o governo não negociar, terá dificuldades na aprovação das reformas tributária e da Previdência.
"Ou o governo negocia ou terá
muitas dificuldades", disse Aécio
ontem após conversar com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen
(SC), o líder do partido no Senado, José Agripino (RN) e o ex-vice-presidente da República Marco Maciel (PE).
Prova disso, na opinião do governador mineiro, é a paralisação
das votações no Senado, cuja pauta está obstruída a pedido dele,
Aécio, e do governador gaúcho,
Germano Rigotto (PMDB), por
falta de um acordo para a aprovação da MP das estradas, pela qual
o governo federal tenta cobrar de
Estados dinheiro antecipado para
o pagamento de 13º do funcionalismo. "É pedagógico", diz Aécio.
"[Mostra que] nada passará por
imposição."
Para o governador, a relação do
Planalto com os Estados, nesses
cem dias de governo Luiz Inácio
Lula da Silva, "foi só punição -o
que não é a relação ideal no momento em que medidas [as reformas da Previdência e tributária"
são discutidas no Congresso". Na
verdade, as reformas ainda precisam ser enviadas.
Lua-de-mel breve
Foi breve a lua-de-mel de Aécio
com o Planalto. Em novembro de
2002, ele reuniu os seis governadores tucanos em Araxá (MG) para prestar apoio a Lula. Deixou
contrariada a cúpula do PSDB.
As desavenças começaram
quando a União passou a bloquear repasses de verbas federais
a Minas por conta do descumprimento, no governo de Itamar
Franco, de metas do acordo de renegociação da dívida do Estado. E
pioraram quando o Ministério da
Fazenda resolveu classificar como
"receita corrente" verbas repassadas no final de 2002 para o pagamento do 13º do funcionalismo.
Ou seja, Minas terá de pagar pelo
dinheiro emprestado.
"No acordo feito à época, todos
concordaram que se tratava de
um ressarcimento puro e simples
por obras que o Estado tinha feito
em rodovias federais e que o dinheiro era para pagar o 13º", diz
Aécio. "Trata-se de uma interpretação equivocada, eles [o governo
federal] vão perder no Congresso". Aécio então se aliou a Rigotto, que está na mesma situação, e
conseguiu bloquear as sessões da
Câmara nas quais a medida provisória foi discutida. Para desobstruir a pauta, o governo cedeu,
mas retomou a imposição quando a MP chegou ao Senado.
"Esse é um dinheiro com o qual
o governo federal nunca contou.
A consequência política pode ser
muito mais grave do que o valor
cobrado. Falta sensibilidade ao
governo federal para a questão
dos Estados", afirma. Segundo
Aécio, o governo se apega a "tecnicismos" e falta diálogo -a Secretaria do Tesouro, por exemplo,
nem sequer recebe secretários de
Fazenda, segundo ele.
"Essa questão da multa não é
nem a questão central, mas o que
eu quero com essa nossa manifestação mais firme é mostrar que
tem de mudar a perspectiva do
governo federal em relação aos
Estados", afirmou Aécio.
Reunião
Por conta da queda de braço
que mantém com o governo federal, Aécio ficou de fora da reunião
de anteontem de cinco governadores com o ministro José Dirceu
(Casa Civil) para discutir as reformas tributária e previdenciária.
Seria um recado do Planalto para o tucano, que reagiu: "Se esse
foi o objetivo, o recado é inverso:
ou [o governo federal] negocia ou
terá muitas dificuldades para
aprovar as reformas".
Em entrevistas a emissoras de
rádio e TV, ele afirmou: "Não será
certamente com convites para um
café ou para determinada reunião
que [eles, do governo federal] vão
ter a docilidade do governador de
Minas. Eu estarei nas questões
que dizem respeito às reformas
previdenciária e tributária, levando a visão de Minas".
Para Aécio, o fato de Minas não
estar presente em encontro de
cinco governadores no Planalto
só diminui a reunião.
"O governo fez uma reunião
com cinco ou seis governadores, é
legítimo que faça, o anfitrião é o
governo, que certamente escolheu aqueles que achou mais adequados. Mas isso não me preocupa muito, porque, em questões
que dizem respeito à federação,
reunião sem a participação de Minas não tem muita importância",
declarou o governador de Minas.
Colaborou PAULO PEIXOTO, da Agência Folha, em Belo Horizonte
Texto Anterior: Dirceu faz mea culpa em reunião Próximo Texto: Frases Índice
|