São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Lula expulsa

Lula não vinha mal, em sua reação à reportagem do "New York Times". Ontem até FHC achou por bem dar seu apoio, em "O Globo":
- Estranho que um jornal dessa importância tenha dado abrigo a tamanha leviandade. Eu conheço Lula há 30 anos e não vejo nenhuma razão para o jornal fazer tal suposição.
Avaliou que a reportagem "desmoraliza todos nós". Era o que faltava: alguém afirmar que se tratava de um ataque à nação e não a Lula.
E aí o presidente determinou a expulsão de Larry Rohter, autor da reportagem do "NYT".
Até o Jornal Nacional, que no dia anterior tinha evitado entrar no assunto, acabou destacando o "cancelamento do visto" do jornalista e as primeiras reações da sociedade civil.
Depois de um ano e meio se afastando de figuras como Hugo Chávez e demais populistas pouco afeitos à democracia, de uma canetada Lula se igualou a eles todos.
 
Para registro: um ano e meio atrás, num momento em que Lula era estigmatizado no Brasil, um editorial do mesmo "NYT" se levantou em defesa do petista -dizendo que havia dedicado duas décadas à construção de seu partido e, diferente de Hugo Chávez, tinha compromisso com a democracia.
 
De Ricardo Kotscho, assessor de Lula, ontem na Cultura e TVE, afirmando que o governo falou com o "NYT" para buscar "uma outra saída e eles tiveram uma atitude cínica, não pediram desculpas, não recuaram um milímetro":
- Foi uma posição extrema do governo, para um caso muito grave, uma ignomínia. Não podia o governo brasileiro, diante de tal ofensa à honra nacional, na figura do presidente, ficar sem fazer nada.
Os demais participantes do programa questionaram, em uníssono, o ataque à liberdade de imprensa.
 
Claudio Humberto, colunista e uma das três "fontes" do "NYT" para noticiar que Lula tem problemas com bebida, se defendia ontem:
- Esta coluna, citada pelo "New York Times", reafirma o compromisso com a apuração rigorosa. A claque governista, no Planalto e na mídia, tenta desqualificar o mais importante jornal do mundo e esta coluna.
E encerrava com mais uma piada infamante, mas adequada, no dia de ontem:
- A coluna sugere um slogan a Lula: governe com moderação.

"SOFTWARE LIBRE"


Sites em espanhol, inclusive "El País, mas principalmente os alternativos como Universia.es, passaram a última semana em êxtase com um congresso de "software libre" na Espanha.
Nas reportagens, o destaque era quase sempre para um brasileiro, Marcelo D'Elia Branco, citado como das "estrelas mundiais do software livre", ao lado de Richard Stallman, também presente.
Branco é o coordenador do projeto de software livre brasileiro, que prevê a troca da Microsoft, que consome US$ 1,1 bilhão do orçamento federal, pelo gratuito Linux (acima, uma das várias versões do símbolo do Linux).
 
Enquanto isso, o "New York Times" noticiava no fim de semana que a Microsoft se debate para achar uma maneira de penetrar nos mercados emergentes. O jornal destacou quatro países (Brasil, Rússia, Índia e China), em que a gigante não consegue crescer. O esforço que vem fazendo, segundo o "NYT", visa reagir à Linux.
O Rediff.com, site da Índia, destaca por sua vez que a Microsoft começa a ceder. Uma razão seria o número crescente de governos, entre eles Brasil, China e México, que começam a priorizar o software livre. A mostra mais flagrante disso era lida no site mexicano Ayacnet:
- A gigante Microsoft vai patrocinar, em novembro, parte da conferência mundial de software livre no Brasil.
A "comunidade linuxera do Brasil" não gostou, diante do histórico de "combate" da Microsoft ao software livre.

Eu-não-disse
A combinação de duas manchetes do JN ("indústria tem o melhor desempenho em três anos" e "mercado financeiro tem recuperação") causou mais do que alívio, ontem.
O ministro Luiz Furlan, com a fisionomia impaciente, como a expressar eu-não-disse, surgiu já à tarde no site do "Valor" e logo depois na Globo News:
- Eu havia dito que os dados indicavam crescimento muito sólido. Isso já nos leva a uma velocidade superior à meta de 3,5% de crescimento este ano.

Outras vezes
Nem velhos integrantes da equipe econômica tucana escondem mais o otimismo. Ontem, da Globo:
- O ex-secretário executivo do Ministério da Fazenda Amaury Bier e o ex-diretor de política monetária do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo lembram que o Brasil está com bons indicadores. E que não há um grande país à beira de colapso, como das outras vezes.
Das vezes deles.

Genro
Se o "NYT" está no ataque, o "El País" abriu suas páginas a Lula e colegas. De Marta Suplicy a João Pedro Stedile e agora Tarso Genro, ministro da Educação, o jornal espanhol vem publicando longas entrevistas com a esquerda brasileira. Genro se gabou de Porto Alegre, do Fórum Social Mundial, das cotas para negros na universidade etc.

Esportes
Um novo livro, desta vez de um jornalista próximo a George W. Bush, comentarista da Fox News, detalha a relação do presidente dos EUA com a imprensa, segundo o "Washington Post".
Ele só recebe quatro jornais ("New York Times", o próprio "Post", "Washington Times" e "USA Today"), passa os olhos pela primeira página e por mais uma ou outra seção.
E vai para a seção de esportes.

Empreiteiras
A rádio Bandeirantes foi atrás do procurador, para falar sobre o caso Paulo Maluf, e ouviu dele que agora está atrás de "empreiteiras suspeitas de executarem obras superfaturadas".

Ano eleitoral
Da Globo, ontem:
- As denúncias de contas milionárias em paraísos fiscais, envolvendo Maluf, já tiveram um efeito na disputa pela Prefeitura de São Paulo. José Serra, do PSDB, decidiu se candidatar.
Sites e outros noticiários confirmaram a decisão e já relatavam as reuniões de campanha.

"Uma forcinha"
Esqueceram de avisar Saulo Abreu de Castro, até então um dos pré-candidatos tucanos em São Paulo. Seus assessores teriam ligado ontem para as rádios, pedindo "uma forcinha", segundo a Bandeirantes.
E à noite lá estava o secretário, no Cidade Alerta, da Record.


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