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Viagens de Lula pelo PAC privilegiam cidades aliadas
Entre os 27 municípios visitados, 24 são comandados por legendas governistas
Na prática, é difícil dissociar as solenidades do PAC da política; nos eventos, Lula fala menos das obras e mais sobre política nacional
LETÍCIA SANDER
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Carro-chefe do governo ao
lado do Bolsa Família, o PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento) tem levado o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a percorrer o país num roteiro que privilegia cidades governadas por partidos aliados e
regiões nas quais possui as mais
baixas avaliações de governo.
Em ano de eleições municipais, Lula já visitou 27 municípios para participar de solenidades do PAC: 24 deles (89%)
são comandados por legendas
governistas; apenas três têm
prefeitos da oposição.
O programa que reúne os
principais investimentos federais neste segundo mandato
tem se revelado um trunfo eleitoral para Lula, embora o governo negue seu caráter eleitoreiro. Em 2007, o PAC levou o
presidente a 14 capitais, em
eventos para anunciar os investimentos para cada região.
Lula já voltou a alguns destes
municípios em 2008, novamente por conta do PAC, para
participar de cerimônias em
que as mesmas obras voltaram
à pauta. Exemplo: esteve em
Campo Grande (MS) no dia 31
de julho de 2007 para lançar o
PAC. Voltou lá dia 18 de março
de 2008, só que, desta vez, o
motivo da cerimônia era a assinatura de ordem de serviço de
algumas das obras.
Situações semelhantes já
ocorreram em outras capitais,
como Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife, Aracaju, Manaus,
Teresina e Salvador.
É justamente nas capitais e
regiões metropolitanas que o
governo Lula tem os mais baixos índices de avaliação. Segundo pesquisa Datafolha do fim
de março, o petista tem 49% de
aprovação (ótimo e bom) nas
capitais e cidades dessas regiões metropolitanas, contra
60% em cidades do interior.
Até agora, neste ano, Lula
concentrou 66% de suas viagens às capitais e regiões metropolitanas, índice acima do
registrado nos demais anos do
governo. Em 2006, por exemplo, quando disputou a reeleição, o presidente privilegiou os
municípios do interior, com
54% dos deslocamentos.
O próprio presidente já manifestou a assessores a intenção
de vistoriar algumas das obras
em andamento e, depois, inaugurá-las, o que poderá levá-lo a
visitar quatro vezes a mesma
cidade, com finalidade semelhante: primeiro para o anúncio dos projetos (etapa vencida
em 2007), depois para a assinatura de ordens de início das
obras (etapa em curso), depois
para a vistoria e, finalmente,
para as inaugurações.
Cronograma de obras
A Presidência nega existir
um caráter de "superexploração política" do PAC e afirma
que os municípios onde ocorrem as solenidades são escolhidos conforme o cronograma de
andamento dos projetos, e não
por critérios políticos.
Na lógica do Planalto, os
eventos do PAC também funcionam como uma forma de o
governo prestar contas de seus
atos. Sobre a disparidade entre
o número de cidades de aliados
e da oposição visitadas em
2008, assessores do presidente
alegam que aliados têm mais
prefeituras do que a oposição.
Nas 100 maiores cidades do
país, atualmente há 25 que são
controladas pela oposição,
duas com prefeitos sem partido
e 74 sob o jugo governista.
Na prática, é difícil dissociar
os eventos do PAC da política.
Nas solenidades, as menções às
obras recebem, quando muito,
breves comentários de Lula.
Seus discursos versam, sobretudo, sobre política nacional.
Semana passada, em Manaus, Lula avisou à oposição do
alto do palanque do PAC que
ele fará o próximo presidente
da República. A platéia gritou:
"Dilma, Dilma". A ministra, favorita de Lula para disputar a
sucessão, estava sentada ao lado do presidente, que se desculpou, ao microfone: "Vocês viram que, por cuidado, não citei
nomes. Vocês [platéia] é que, de
enxeridos, gritaram os nomes".
Mesmo assim, o ministro José Múcio (Relações Institucionais) nega qualquer caráter político relacionado ao PAC. "Lula não tem feito uso político.
Ele é um homem público. Não é
porque é ano de eleição que ele
vai parar de trabalhar", disse.
"Não há esta preocupação [de
atender aos aliados]."
Lula transmitiu a seus subordinados o desejo de visitar todos os Estados até 5 de junho,
quando começa a campanha
para as prefeituras. Depois disso, segundo assessores, o ritmo
das peregrinações pelo país deve diminuir e dar lugar a mais
viagens internacionais.
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