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São Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2003

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PT SOB PRESSÃO

Articulação comandada por Dirceu não evitou que pelo menos 26 deputados participassem de manifestação

Petistas ignoram governo e vão a protesto

FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo não conseguiu impedir a participação de deputados do PT na manifestação dos servidores públicos contra a reforma da Previdência feita ontem em Brasília. A tentativa, capitaneada pela Casa Civil, teve efeito contrário e acirrou os ânimos dos parlamentares, pois foi considerada uma intervenção na bancada.
Os deputados decidiram, na manhã de anteontem, que iriam em bloco ao ato público e que o líder do partido na Casa, Nelson Pellegrino (BA), falaria em nome dos 93 parlamentares petistas. A decisão, no entanto, foi desautorizada pelo ministro José Dirceu (Casa Civil), que considerou a atitude uma afronta.
Mesmo assim, um grupo de pelo menos 16 deputados apareceu no ato público ainda na concentração. "Nesta manifestação, 95% dos participantes são petistas. Por isso, seria um absurdo impedir que deputados do partido participassem deste ato. Do contrário, seria castrar uma atividade legítima dos parlamentares como representantes do povo", discursou o deputado Ivan Valente (PT-SP).
Vendo que não conseguiriam controlar a bancada, o governo e a direção do PT convocaram uma reunião na Câmara para organizar a ida à manifestação e buscar uma saída honrosa para o episódio. Os deputados que já estavam no protesto foram chamados e voltaram para a Casa.
Na reunião ficou decidido que Pellegrino iria à manifestação e falaria em nome da bancada. Foi formada uma comissão de 11 parlamentares para acompanhá-lo.
Os governistas presentes à reunião obtiveram a garantia de que ninguém falaria contra o governo.
"É politicamente errado a bancada participar de uma manifestação contra o governo. Os petistas não foram eleitos para fazer oposição ao governo federal", afirmou o presidente nacional do PT, José Genoino, que participou do encontro e conversou com sindicalistas filiados ao partido também com o objetivo de amenizar os possíveis ataques ao governo.
Pelo menos 26 petistas foram ao ato público. Confirmando previsão de Dirceu, a defesa da proposta do governo na manifestação acabou resultando em vaias e ataques a Pellegrino.
O argumento de Dirceu para tentar demover os deputados de ir ao ato era que, caso fossem, só haveria dois cenários possíveis: ou atacariam o governo, o que era inadmissível, ou defenderiam a proposta e seriam vaiados.
"A avaliação é que muitos iriam independentemente da orientação da bancada. Então decidimos criar uma comissão para tentar administrar a situação", disse o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), um dos principais governistas da bancada.
A maioria dos petistas que foram à passeata ficou circulando entre os manifestantes criticando a reforma proposta, mas não falou nos carros de som. O único ataque público ao governo que partiu do PT veio dos quatro parlamentares considerados radicais e que já sofrem processo disciplinar no PT -Heloísa Helena (AL), Luciana Genro (RS), Babá (PA) e João Fontes (SE).
Além dos petistas, marcaram presença representantes da base aliada, como os deputados Inácio Arruda, líder da bancada do PC do B, e Neiva Moreira, líder da bancada do PDT. Os deputados Alceu Collares (PDT-RS), Jandira Feghali (PC do B-RJ) e Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) atacaram a proposta do governo em discursos.


Deputados que participaram do protesto: Nelson Pellegrino (BA), Walter Pinheiro (BA), João Alfredo (CE), Neyde Aparecida (GO), Henrique Fontana (RS), Maninha (DF), Lindberg Farias (RJ), Paulo Rubem (PE), Carlos Abicalil (MT), Maria do Rosário (RS), Arlindo Chinaglia (SP), Francisca Trindade (PI), Ivan Valente (SP), Tarcisio Zimmermann (RS), Chico Alencar (RJ), Gilmar Machado (MG), Orlando Desconsi (RS), Dr. Rosinha (PR), Mauro Passos (SC), Wasny de Roure (DF), Luciano Zica (SP), Orlando Fantazzini (SP), Luciana Genro (RS), João Fontes (SE), Babá (PA) e Ary Vanazzi (RS).


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