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ORÇAMENTO
Ministro diz que peça orçamentária é fictícia e que governo só gastará R$ 5 bi dos R$ 14 bi destinados a investimentos
Demora nos gastos é natural, diz Mantega
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Guido Mantega
(Planejamento) atribuiu ontem às
dificuldades naturais de início de
mandato o ritmo lento dos investimentos registrado até aqui pelo
governo Luiz Inácio Lula da Silva,
e afirmou que o governo não deixará de usar o dinheiro disponível
no Orçamento deste ano.
"Não vai haver superávit acima
de 4,25% do PIB", afirmou, referindo-se à meta de economia com
que o governo se comprometeu
para pagar juros da dívida.
O Siafi (sistema informatizado
de acompanhamento de gastos
federais) registra que apenas 1%
dos investimentos previstos em
lei foram pagos até 30 de maio, como a Folha informou ontem.
Para o ministro, o dinheiro previsto para gastos na lei aprovada
pelo Congresso e sancionada por
Lula é "fictício". Dos R$ 14,1 bilhões autorizados para investimentos em 2003, Guido Mantega prevê que serão gastos R$ 5 bilhões, "no máximo R$ 6 bilhões"
até o fim do ano. "A lei é o oficial,
mas o dinheiro não existe".
O ministro do Planejamento
disse que o governo Lula se esforça para que a próxima lei orçamentária, de 2004, se distancie da
ficção e se aproxime da realidade.
Viagens
Quanto às despesas com diárias
e passagens, que ultrapassam o
valor até aqui dos investimentos
(R$ 212 milhões contra R$ 149 milhões), o ministro informou que
está mantido o compromisso de
reduzir os gastos a 60% dos registrados no último ano do governo
Fernando Henrique Cardoso. "Se
chegarmos ao limite, o pessoal vai
viajar de bicicleta", disse.
Em vez de avaliar o desempenho do governo pelos gastos com
investimentos em comparação ao
valor autorizado por lei, Guido
Mantega prefere considerar também os gastos com a manutenção
da máquina (chamados de "custeio"), e compará-los ao valor disponível para uso dos ministros
depois do corte de mais de R$ 14
bilhões anunciado em fevereiro.
O resultado é que o governo Lula já "liquidou" 30% do total liberado. Faltariam 70% para atingir,
nos próximos sete meses, a meta
de 4,25% do PIB a que Guido
Mantega se referiu. A liquidação
das despesas é uma etapa posterior ao pagamento, considerado
no levantamento da Folha.
Ainda assim, os dados do ministro mostram que alguns ministérios não usaram até maio nem
10% do dinheiro disponível depois dos cortes. É o caso dos ministério de Segurança Alimentar e
Combate à Fome (5%) e dos
Transportes (6%).
O gasto mais elevado aparece
no Ministério da Saúde, que usou
40% do dinheiro disponível. Os
dados do Planejamento não levam em conta a liberação de recursos extras de cerca de R$ 1,5 bilhão anunciado no final de maio e
que fariam reduzir o percentual
de algumas pastas.
Em nome dos colegas, o ministro do Planejamento assegurou
que os gastos públicos terão o ritmo acelerado "até atingirem a velocidade de cruzeiro". Segundo
Guido Mantega, é natural que se
gaste menos no primeiro semestre do ano, ainda mais num primeiro ano de mandato.
"A criação de novos ministérios
cria uma perturbação na execução orçamentária e, além disso, tivemos um contingenciamento e
uma carga enorme de restos a pagar que não aparece no Orçamento", insistiu o ministro. Só de contas pendentes do último ano do
governo Fernando Henrique Cardoso, o governo Lula herdou R$
9,4 bilhões.
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