|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELIO GASPARI
Um Jefferson do bem na CPI
As coisas boas também
acontecem. Uma delas é a
presença do senador Jefferson
Péres (PDT-AM) na CPI dos
Correios. Será mais uma oportunidade para que as pessoas
saibam que o Congresso não é
um covil de larápios. São muitos
os doutores que faturam mesadas, negócios e picaretagens. Se
esse pessoal não tomar cuidado,
qualquer dia desses haverá
quem se disponha a bater na cara da malandragem, como
aconteceu no Equador. Para a
patuléia que paga a conta (e o
"mensalão"), será um prazer
acompanhar Jefferson Péres
nessa CPI. Ele tem a crueldade
da decência.
Seu nome completo é José Jefferson Carpinteiro Péres e já
completou 73 anos. Ao contrário de Lula, que é pensionista da
ditadura, nunca se aposentou
como professor da Universidade
Federal do Amazonas. Não faz
indicações nem aceita mimos.
Em 1996 assinou o requerimento da CPI dos Bancos e viu-se
obrigado a sair do PSDB. Em
2001, quando a presidência do
Senado foi disputada na ponta
de faca pelos senadores Antonio
Carlos Magalhães e Jader Barbalho, Péres apresentou-se como terceira via. Faltou coragem
ao PFL para apoiá-lo. Se isso tivesse acontecido, o Senado teria
sido poupado de um dos piores
períodos de sua história.
O que haverá de tornar o senador Péres uma referência nos
trabalhos da CPI será a sua lógica rápida, impiedosa, associada
a um senso de humor corrosivo.
Tudo isso e mais uma enorme
capacidade de fazer o dever de
casa.
O comissariado petista pode
aspergir fantoches sobre a CPI.
Não impedirá que a figura miúda do senador (perigosamente
parecido com o Doutor Silvana
do Capitão Marvel) arruíne a
receita da pizza com uma frase,
uma simples pergunta.
Cesar Benjamin cantou a pedra
Adiante , um trecho de uma
entrevista do professor Cesar
Benjamin, um dos fundadores do
PT, dada em dezembro de 2003 à
repórter Flávia Marreiro:
"Vamos ler os sinais, como fazem os profetas. Delúbio Soares
foi escolhido pela corrente majoritária do PT para defender no
Diretório Nacional a expulsão da
senadora Heloísa Helena. Na sua
condição de eterno tesoureiro,
Delúbio tem uma trajetória opaca. Exige-se dele apenas que seja
capaz de levantar financiamentos, movimente-se de forma discreta e demonstre absoluta fidelidade aos chefes. Heloísa Helena é
o contrário disso: extrovertida,
sincera, independente, movida
por ideais. É a cara da militância.
Um sempre viveu na sombra, a
outra sempre viveu na luz. Delúbio apontou seu dedo acusatório
contra Heloísa em uma reunião
que custou R$ 150 mil, realizada
em um hotel de luxo, cujo proprietário foi o principal sócio e
avalista de Fernando Collor. Do
ponto de vista simbólico, o que
mais precisa ser dito?".
Pelo visto, precisava ser dito o
que a rede Roberto Jefferson de
áudio e vídeo pôs no ar.
Tamanho da folha
Um sábio que já era deputado quando Lula gramava no
torno da Villares fez a conta:
passaram pelo "mensalão"
cerca de cem parlamentares.
Nem todos fizeram por onde
receber os envelopes com regularidade.
Esquerda à vista
Deu-se uma aliança entre a
militância estudantil do PSTU
(Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado) e do PC
do B. É bom a nação petista
prestar atenção. Se algum dia
os comissários precisarem da
base popular do partido, descobrirão que ela foi embora.
Bond do PTB
Em nome da precisão deve-se registrar que o Instituto de
Resseguros do Brasil não foi
entregue ao PTB para ser ordenhado. Quando o então presidente do partido, José Carlos
Martinez (morto em outubro
de 2003), recebeu a donataria,
o principal interesse em jogo
estava no atendimento de um
pleito de grandes empreiteiras.
Elas reclamavam da elevação
do custo dos seus seguros internacionais por conta do descumprimento de contratos.
Eram os tais "performance
bonds". Nessa modalidade de
negócio, a seguradora assume
os riscos do mau desempenho
do empreiteiro. A idéia dessas
grandes caixas financiadoras
de campanhas era passar um
pedaço da responsabilidade
para a Viúva. Martinez foi o filantropo que presenteou o comissário José Dirceu com um
relógio Rolex de R$ 5.700. Na
ocasião, o deputado Roberto
Jefferson justificou o mimo: "O
presente foi mais caro porque
ele é nossa autoridade maior.
Ele era um aniversariante à altura de um Rolex". As almas
dos metalúrgicos das greves de
1978 mandaram um sinal aos
companheiros: o Rolex era falso.
Antes e depois
A operação da Polícia Federal em cima das conexões empresariais do deputado Roberto Jefferson é anterior ao
seu estrilo. O estrilo pode ser
conseqüência da investigação, mas a investigação não é
conseqüência do estrilo.
Conversa secreta
Pode não ser de muita valia,
mas recomenda-se ao comissariado que adote o método
Nursultan Nazarbayev de organização de conversas sigilosas com pessoas nas quais não
confiam. O doutor foi engenheiro metalúrgico e tornou-se economista. Manda no Cazaquistão desde 1989, pertenceu ao último Politburo da falecida URSS, organizou a privataria das reservas de petróleo do país e teria amealhado
uma poupança de US$ 1 bilhão. Em abril de 1991, durante o mandarinato de Mikhail
Gorbatchov, Nazarbayev encontrou-se secretamente com
o secretário de Estado americano James Baker. Pediu que
a reunião se desse numa sauna. Só ele podia gravar.
O pai dos ricos
Nos últimos dois anos, Lula
conseguiu um crescimento de
30% na produção de milionários. Não há notícia de outra
coisa que tenha crescido tanto
nesse mesmo período. No último ano do mandarinato tucano o Brasil tinha 75 mil pessoas com um patrimônio financeiro superior a US$ 1 milhão. Em 2004 eles chegaram a 98 mil. O companheiro produziu 23 mil afortunados.
(Em janeiro passado o rendimento médio real do trabalhador paulista caiu para R$
1.006, o nível mais baixo registrado nesse mês desde 1985.)
Serviço: Os números de 2004 são de um estudo da Merrill Lynch/Cap Gemini. Ele está (em inglês) no endereço www.us.capgemini.com
Texto Anterior: Com crise, Lula cogita até lançar Palocci à eleição Próximo Texto: Treinamento: Inscrições para curso de jornalismo gráfico vão até o dia 26 deste mês Índice
|