São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

Governistas se rendem à avaliação de que comissão deve estender investigação a outros casos, como o da suposta mesada a deputados

CPI não deve se restringir a Correios, diz base

RANIER BRAGON
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mesmo tendo aprovado um parecer que limita a CPI dos Correios à estatal e tendo jogado todas as fichas para controlar os postos-chave da comissão, líderes governistas se renderam à avaliação de que a investigação vai gerar ramificações e deve chegar a outros casos, entre eles o suposto pagamento de mesada a deputados.
"É ilusão alguém pensar que vai restringir a investigação ao fato determinado [os Correios]", afirmou o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). "Se houver uma conexão, não tem jeito de restringir", reforçou o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN).
Um termômetro do que pode se transformar a CPI deve ocorrer na terça-feira, quando governo e oposição voltam a medir forças na comissão e o pivô da atual crise política, Roberto Jefferson, presidente do PTB, comparece no mesmo horário ao Conselho de Ética da Câmara para prestar um depoimento aberto.
Durante os últimos dias, petebistas se revezaram no apartamento do presidente do partido, em Brasília. Com a desculpa oficial de prestar solidariedade ao correligionário, vários tiveram a missão de medir o humor de Jefferson e sondar o que ele pretende dizer no depoimento ao conselho.
"Só ele sabe o que vai dizer", disse um dos petebistas ouvidos pela Folha. Apesar disso, a avaliação que o partido fazia na sexta era que Jefferson estava mais calmo e prometia não fazer nova revelação, apesar de reafirmar sempre que vai provar a acusação de que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava mesada de R$ 30 mil a deputados do PP e do PL.
Hoje, Jefferson diz à Folha que não tem provas das acusações que fez na semana passada e faz novas revelações sobre o "mensalão".
Enquanto mantém os olhos grudados na sala em que Jefferson deporá, o governo tentará emplacar seus escolhidos na presidência e na relatoria da CPI, instalada na semana passada.
A oposição quer o senador César Borges (PFL-BA) em um dos postos de comando.
O governo não aceita e tentará aprovar no voto -já que tem apoio de 19 dos 32 integrantes- o senador Delcídio Amaral (PT-MS) para a presidência e o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) para a relatoria.
Na semana passada, o Planalto conseguiu, em acordo com o PSDB, aprovar parecer na Comissão de Constituição e Justiça que declara a CPI constitucional apenas na parte que cita os Correios.
O fato é que nem governo nem oposição dão muita importância a isso, já que é impensável que algum governista vá recorrer a essa decisão caso surja conexão consistente nas investigações que fujam aos limites dos Correios.
O fato é que o Congresso está praticamente paralisado devido à profusão de pedidos de CPIs (cinco) que surgiram no rastros da crise. Devido a isso, Renan e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), foram chamados ao Planalto para audiência amanhã, às 19h, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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