São Paulo, domingo, 12 de junho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"

O PL, uma das siglas acusadas por Roberto Jefferson de ganhar mesada, foi uma das legendas que mais inchou na atual legislatura

Troca-troca recorde favorece aliados do PT

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Movido ou não a "mensalão", o troca-troca de partidos bateu recorde entre os deputados na atual legislatura e beneficiou os quatro maiores aliados do PT na base política de apoio ao governo.
O PL, um dos partidos acusados de receber o "mensalão" pelo deputado Roberto Jefferson (PTB) em entrevista concedida à Folha, foi a sigla que mais cresceu no grupo, integrado também pelo PMDB, PTB e PP (outro acusado), registra a Coordenação de Movimentação Parlamentar da Câmara dos Deputados.
O partido do vice-presidente José Alencar começou a crescer entre a eleição e a posse dos deputados, quatro meses depois. A bancada mais do que dobrou em pouco mais de dois anos. O PTB, que teria recusado o esquema das mesadas, segundo o deputado Roberto Jefferson, seguiu o mesmo caminho de engorda.
O PP chegou a perder deputados antes de se aliar ao Planalto. Depois disso, cresceu até se transformar no terceiro maior partido da base governista. "O partido vai para a base, essa história de independência é conversa fiada", resumiu o então "rei do baixo clero" Severino Cavalcanti (PP-PE) na convenção de abril de 2003, momento da virada.
Menos de dois anos depois, recém-eleito presidente da Câmara, o deputado sugeriu em entrevista à Folha que deputados trocavam de partido por R$ 20 mil, R$ 30 mil. Condenou a infidelidade partidária. Mas as críticas ao troca-troca de partido juntaram-se -no esquecimento- a outras feitas no passado pelo atual chefe da Casa Civil, José Dirceu, nos tempos em que presidia o PT.

Fermento governista
Se o PP chegou a perder oito deputados antes de se aliar ao governo, o PL começou a crescer logo depois da posse de Lula, junto com o PTB de Jefferson. No curto período entre a eleição e a posse dos deputados, o número de integrantes da bancada do PTB saltou de 26 para 35. Atualmente, conta 47 deputados.
O ex-tucano Jovair Arantes, que trocou o PSDB pelo PTB em 2003, disse que nunca ouvira falar de mesada a parlamentares que passassem para a base política do governo Lula. "A primeira vez que ouvi falar de mesada foi agora. O governador falou, quem tem de responder é ele", disse.
O governador Marconi Perillo (PSDB-GO), que afirmou ter levado o caso do mensalão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva há um ano, antes mesmo de Jefferson, viajou para Paris sem dar detalhes das denúncias. O Planalto também não as respondeu.

PSDB encolhe
O PSDB de Perillo foi o partido que mais perdeu deputados, depois do PFL, companheiro dos tucanos na oposição.
Entre os partidos que encolheram, encontram-se dois aliados do Planalto à esquerda: PSB e PC do B perderam, juntos, 12 deputados na atual legislatura.
Procurados pela Folha desde o início da semana, congressistas que trocaram de partido para aderir à base governista também disseram desconhecer o mensalão ou evitaram o assunto.
Enio Tatico (PL-GO) registrou quatro mudanças em pouco mais de dois anos. O parlamentar foi eleito pelo minúsculo PSC e passou pelo PL, PTB e PMDB antes de voltar para o PL.
O chefe de gabinete do deputado, Ricardo Tatico, seu primo, disse que as mudanças ocorreram por "questões de acomodação dentro do Estado", atribuindo ao próprio Perillo a última mudança para o PL.
Recordista no troca-troca partidário, o deputado Zequinha Marinho (PA) se recusa a falar sobre o assunto, segundo a assessoria. Eleito pelo PDT, passou pelo PTB, PSC e PMDB, ficou um tempo sem partido até voltar ao PMDB, ficou mais um tempo sem partido e voltou ao PSC em março deste ano.


Colaborou CHICO DE GOIS, enviado especial a Brasília

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